As “Marionetas Gigantes” que dão escala a questões sociais de Moçambique

Foto: Afribuku (usada com permissão)

Foto publicada no website Afribuku (usada com permissão)

Ocupar o espaço público com marionetas gigantes em celebrações culturais que fazem reflectir sobre questões mais profundas da sociedade moçambicana. Foi com essa missão que jovens artistas se juntaram para a criação da associação cultural Marionetas Gigantes de Moçambique.

O projecto, dedicado à apresentação de espectáculos de rua e à construção de cabeçudos, máscaras e marionetas gigantes, nasceu de uma iniciativa de “Valorização nacional e internacional das práticas artísticas de Moçambique e da Guiné-Bissau” promovido em 2011 pelo Centro Cultural Franco-Moçambicano (CCFM), com o apoio da União Europeia. A ideia inspira-se no trabalho desenvolvido pelas companhias Les Grandes Personnes, de França, sua filial no Burkina Faso, Boromo, e The Giant Match Association, da África do Sul.

No ano da sua formação, o projecto reuniu cerca de 40 artistas de Moçambique, Guiné-Bissau, França e África do Sul, numa residência artística que foi registada em vídeo para o documentário “Gigantes na Rua“, realizado por Sérgio Libilo e lançado em Março de 2012:

A residência inicial de criação, formação e intercâmbio para a construção de máscaras e marionetas gigantes deu origem ao espectáculo de rua “O bazar e as suas…” que teve estreia nas imediações de dois mercados populares da cidade de Maputo em Dezembro de 2011:

[O espectáculo “O bazar e as suas…”] tem como pretexto o quotidiano da vida nos mercados para falar de amor, das dificuldades do dia-a-dia e dos disfuncionamentos da sociedade actual, tais como a corrupção, a falta de assistência a pessoas com deficiência, as desigualdades sociais e de acesso as necessidades básicas. 

Marionetas gigantes escalaram a Cidade de Maputo [retirada do blog Afribuku]

Marionetas gigantes escalaram a Cidade de Maputo. Foto retirada do website Afribuku (usada com permissão)

A representação das “problemáticas sociais que inquietam os moçambicanos” está de facto na base do processo criativo de “Os gigantes e cabeçudos de Moçambique” [es], conforme explica Alejandro de los Santos num artigo com esse título publicado em Afribuku (um website em língua castelhana dedicado à cultura africana contemporânea).

O autor começa por fazer um enquadramento histórico sobre os desfiles de carnaval em Moçambique desde os tempos coloniais, e fornece mais detalhes sobre a relevância social do trabalho das Marionetas Gigantes nos dias de hoje, descrevendo alguns dos personagens criados pela associação: 

La corrupción, la marginación de los discapacitados o la pobreza son cuestiones que destacaron los participantes. Dentro de ese imaginario, los artistas montaron la estructura inicial con barras de metal y material reciclado como botellas de plástico. (…) De todo ese proceso nacieron unos protagonistas que representan el universo social del Mozambique actual: Moisés el corrupto, Mpili la vendedora, Antonio Mazanga el policía, Alzira la adolescente, Madalena la clienta rica, Nyankuav la curandera, Papaito el deficiente y Zaida la cliente pobre. Todos ellos son perfectamente identificables por cualquier persona que conozca la realidad del país. Ninguno es ajeno al complejo entramado de tensiones de poder que se corresponden con las principales dificultades cotidianas que reinan en el país desde poco después de su independencia.

A corrupção, a marginalização das pessoas com deficiência ou a pobreza são questões que os participantes destacaram. Dentro desse imaginário, os artistas montaram a estrutura inicial com barras de metal e material reciclado como garrafas de plástico .(…) De todo este processo nasceram personagens que representam o universo social do Moçambique de hoje: Moisés, o corrupto, Mpili a vendedora, Antonio Mazanga, o polícia, a adolescente Alzira, Madalena, a cliente rica, Nyankuav, a curandeira, Papaito, o deficiente, e Zaida, a cliente pobre. Eles são facilmente identificáveis ​​por qualquer pessoa que conheça a realidade do país. Ninguém está fora da complexa teia de tensões de poder que correspondem às principais dificuldades do quotidiano que reinam no país desde pouco depois da independência.

Ao longo de 2012 as marionetas passaram por outras cidades moçambicanas, como Marracuene e Inhambane, e também por festivais como o Marrabenta, Artes de Rua e AZGO, em Maputo, e o MTN Bushfire na Suazilândia. Em 2013 pisaram pela primeira vez solo português, na Bienal Internacional de Marionetas de Évora.

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