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Copa do Mundo: Anistia Internacional lança campanha condenando repressão durante protestos no Brasil

Categorias: América Latina, Brasil, Ativismo Digital, Direitos Humanos, Esportes, Liberdade de Expressão, Mídia Cidadã, Protesto

Em um campo de futebol, que mais parece o meio da rua de qualquer grande cidade do Brasil, dois times se enfrentam. De um lado, jovens vestem a camisa amarela da seleção brasileira, máscaras do Anonymous e lenços Black Bloc. De outro, policiais fardados se preparam para a ação. Misturando imagens reais dos protestos ocorridos no país em 2013 e encenações, a Anistia Internacional conta assim o lado obscuro de como o Brasil se prepara para a Copa, em um vídeo lançado nesta terça, 20.

O vídeo é parte da campanha “Dê cartão amarelo”, lançada no início de maio em vinte países, pedindo ao governo brasileiro medidas para acabar com a repressão policial durante as manifestações. Especialmente durante a Copa do Mundo que se inicia em junho. Com frases como “protesto não é crime” e “sem falta, Brasil!”, a campanha inclui também um abaixo-assinado [1], que será entregue à presidente Dilma Rousseff. O documento já possui mais de 18 mil assinaturas.

Cartão amarelo para os dois lados

Entre as reivindicações levantadas pela Anistia [2] no documento, estão a garantia de que o governo brasileiro “tome todas as medidas necessárias para garantir o direito à liberdade de expressão e manifestação pacífica” e de “que a polícia e outras forças de segurança cumpram com a legislação e padrões internacionais para direitos humanos e aplicação da lei”.

O ministro dos Esportes brasileiro, Aldo Rebelo, no entanto, não gostou nada da ação. Em artigo publicado na página do Ministério [3], também nesta terça, além de criticar campanhas recentes da Anistia – como o abaixo assinado contra a construção da usina de Belo Monte e a campanha pela desmilitarização das polícias – o ministro defendeu a maneira como o governo vem atuando durante as manifestações, desde

Policiais da Tropa de Choque, durante protesto em São Paulo, em 11 de junho de 2013. Foto: Gabriel Cabral/Flickr

Policiais da Tropa de Choque, durante protesto em São Paulo, em 11 de junho de 2013. Foto: Gabriel Cabral/Flickr [4]

junho do ano passado:

Não saiu do governo federal, empenhado em realizar a Copa da Paz, um só ato restritivo do direito à manifestação pública. A rua é o palco da liberdade. Mas não é lícito aplaudir “manifestantes” praticando saques no comércio, vandalizando equipamentos de utilidade pública, incendiando ônibus do transporte popular e carros da imprensa, depredando prédios da democracia representativa, agredindo jornalistas, ferindo transeuntes, imolando policiais como tochas humanas.

O esquema de segurança preparado para o mundial inclui 170 mil homens nas ruas e 2 bilhões de reais em investimento. Números que despertam atenção e um pouco de preocupação, segundo revelou a assessora de direitos humanos da Anistia, Renata Nader, em entrevista a BBC [5]:

Claro que vemos com muita preocupação esta estrutura de segurança que está sendo montada para os grandes eventos. Não pela escala, porque em outros países também há grandes operações em situações como essa. Aqui o que preocupa é o nosso histórico. O histórico de momentos do uso da Força Nacional e do Exército, em operações no Rio de Janeiro, por exemplo, com saldo de mortes e excessos.