O centro de documentação do projeto No habrá paz sin las mujeres [Não haverá paz sem as mulheres] possibilita que líderes feministas, profissionais e sobreviventes do conflito armado da Colômbia se expressem e compartilhem suas experiências para que “o trabalho que elas dedicaram à paz não seja esquecido”, segundo explica o site no qual os depoimentos destas mulheres são divulgados através de fotografias e vídeos.
Todos os processos de paz devem incluir a participação das mulheres
Alejandra Garcia Serna, historiadora e cineasta documentarista, também trabalha em prol da justiça e da memória como parte do movimento H.I.J.O.S.. Ela é a filha orfã de Francisco Gaviria, um líder estudantil que foi assassinado juntamente com 4.000 militantes partidários da União Patriótica por agentes do Estado e paramilitares, entre 1985 e 1994, em uma campanha de genocídio político.
Este projeto foi criado pela Agência de Desenvolvimento CooperativoAsturiana, dando voz às colombianas para que as mulheres possam “aprender a partir das experiências e estratégias de cada uma delas, para aumentarem sua força na luta para a construção de uma sociedade mais justa e para que possam avançar com suas próprias propostas para a paz no processo de reconciliação, reconstrução, reparação e justiça.”
No habrá paz sin las mujeres teve início com as experiências das colombianas durante o conflito armado que durou mais de 50 anos. O grupo conserva isto pois, apesar de existirem sinais de esperança nas conversações de paz [en] que acontecem em Havana, Cuba, entre a FARC (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia) e o governo colombiano, “as mulheres estão claramente fora do processo: nem as questões decisivas para elas, as suas reivindicações ou propostas de paz são ouvidas”.
O site prossegue explicando que as conversações não levaram em conta a Resolução das Nações Unidas nº 1325 [en], que chama atenção para as questões de gênero na solução de conflito.
Y precisamente son las mujeres las que más sufren las consecuencias de la guerra: la violencia sexual ha sido empleada por los tres actores de la guerra, los paramilitares, el Estado y la guerrilla; el reclutamiento de menores ha afectada a las niñas como combatientes pero también como esclavas sexuales; son el mayor porcentaje de población desplazada y la mayoría con cargas familiares…
E são as mulheres que mais sofrem as consequências de guerra: a violência sexual foi empregada pelos três atores envolvidos na guerra: os paramilitares, o Estado e a guerrilha; o recrutamento de menores afetou as meninas tanto como combatentes quanto como escravas sexuais; elas representam a maior percentual da população refugiada e a maioria delas com dependentes…
Os esforços em ajudar a corrigir esta situação são divulgadas no site através de vídeos com entrevistas e depoimentos.
Um destes vídeos é sobre a artista Patricia Ariza, que encontrou uma maneira de expressar a realidade colombiana através do seu trabalho. Ela também utiliza da expressão artística para afugentar a injustiça que vê no seu país e que ela mesma é uma vítima, sua família foi refugiada pela violência.
Outro vídeo mostra uma campanha em que as colombianas estão comprometidas em proteger o seu território, não permitindo que a multinacional AngloGold Ashanti comece as operações de mineração de ouro. O vídeo seguinte contém uma entrevista com Judith Pérez Gutiérrez, que vive na zona rural do município de Cajamarca, Tolima. Ela fala do empenho das mulheres em proteger os arredores dos locais onde residem.
Além disso, a entrevista revela o medo e a preocupação de Pérez Gutiérrez e suas vizinhas com a vulnerabilidade e a falta de apoio que elas sentem nas mãos das autoridades colombianas, como provado pelos graves confrontos que elas tiveram com as forças de segurança:
Ester Carmen Martínez, uma professora de Pitalito, Huila, a principal área produtora de café, conta sua história e a dos seus vizinhos, que foram assassinados, expulsos ou refugiados por grupos paramilitares.
O projeto também publica textos como este, no qual explica alguns dos perigos enfrentados pelas mulheres que escolhem o ativismo:
En Bajo Cauca por lo menos otras cuatro líderes han sido amedrentadas y obligadas a abandonar la región en los últimos cuatro años. La restitución no avanza, y el miedo hace que ni siquiera reúnan las mesas de víctimas. […] “Las víctimas estamos arrinconadas”, dijo el testigo consultado. “Hay muchas amenazas. La última fue contra una mujer que fue víctima de desplazamiento forzado y se fue para el barrio París. Allá lideró la junta de acción comunal y los pillos la amenazaron nuevamente y hasta iban a atentar contra su vida y se tuvo que ir del municipio. Lo más triste es que ni la Administración Municipal ni la Fuerza Pública atiende nuestras peticiones. ¿Usted cree que alguna de nosotras, pese a las amenazas, tiene esquema de seguridad?”
Em Bajo Cauca pelo menos quatro líderes foram intimidadas e forçadas a abandonar a região nos últimos quatro anos. A restituição não avança e o medo é de que as vítimas não ousem se encontrar mais. […] “Nós, vítimas, estamos encurraladas”, declarou a testemunha que consultamos. “Existem muitas ameaças. A última era contra uma mulher, vítima de um refúgio forçado que foi para o bairro París. Lá, ela liderou uma ação comunitária e os criminosos a ameaçaram de novo, e até tentaram matá-la fazendo com que ela deixasse a região. A parte mais triste é que nem o governo municipal, nem a segurança pública atenderam aos nossos pedidos. Você acha que qualquer uma nós, apesar da ameaça, recebe alguma proteção?”
No habrá paz sin las mujeres também tem vários pôsteres representando a realidade de muitos tipos de violência que as mulheres sofrem, em especial a sexual.
Sofri a violência sexual mas ela não me derrotou
Yoladis Zúñiga foi estuprada por dez paramilitares na frente do seu marido, que quase foi assassinado, num massacre que custou a vida de 100 pessoas em cinco dias na cidade de El Salado em 2000. A violência sexual é usada como uma arma de guerra por todas as três facções no conflito: os guerrilheiros, os paramilitares e o Estado.
Os pôsteres também destacam o trabalho das mulheres que dedicaram sua vida à paz e ao ativismo.
Palavras motivam, exemplos convencem
Mari La Negra começou sua carreira como uma ativista nos direitos humanos e dos trabalhadores quando estava com 14 anos de idade. Não muito tempo depois, ela foi estuprada por agentes do Estado e presa por três meses, onde foi torturada por causa dos seus esforços em favor do trabalho organizado. Aos 40 anos, Mari sobreviveu a muitos atentados à sua vida e continua sendo ameaçada por paramilitares pela sua luta pelos direitos daquela maioria marginalizada na sociedade.
A emancipação das mulheres significa anular o direito para aproveitar delas
Marta Restrepo, uma integrante do movimento Mujeres Feministas Antimilitaristas (Mulheres Feministas Antimilitaristas), dedicou sua vida para divulgar o feminicídio, uma calamidade que custa a vida de mais de 1.100 vítimas por ano na Colômbia. Ela também milita contra o uso de mulheres como escravas do sexo, que em muitos casos são levadas a ser prostitutas na Espanha, e pela exploração delas como moeda de troca na economia de guerra que rege o seu país.
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