
Um tuíte exibe um vídeo do YouTube que alegadamente mostra maus tratos da polícia sobre estudantes num protesto na Venezuela em Fevereiro de 2014. Na verdade o vídeo foi gravado na Colômbia em Dezembro de 2013.
Por Madeleine Bair e Vienna Maglio
No dia 21 de Fevereiro, final de uma semana em que protestos em massa na Venezuela resultaram em centenas de detenções e cinco mortes, um novo vídeo no YouTube circulou pelas redes sociais venezuelanas, mostrando agentes da polícia a disparar um canhão de água sobre um jovem atado a uma árvore. O título em espanhol descrevia a GNB – parte das forças armadas venezuelanas – torturando um estudante em Táchira, um estado na fronteira com a Colômbia onde os confrontos têm sido particularmente violentos.
O problema é que já tínhamos visto este vídeo antes no Human Rights Channel [en], o canal YouTube onde a WITNESS selecciona e contextualiza vídeo verificado de cidadãos e activistas por todo o mundo. As mesmas imagens circularam entre grupos activistas colombianos no início deste ano.
A descrição desta versão no YouTube refere que o vídeo foi carregado a partir de um telemóvel a 29 de Dezembro de 2013. Activistas colombianos [es] divulgaram o vídeo, referindo que se tratava da ESMAD, as forças especiais colombianas, a torturar um agricultor [en] que participava nos protestos de agricultores que se multiplicavam pelo país.
Usando a pesquisa inversa de imagens do Google, encontrámos outra publicação do vídeo, carregado um mês depois, com o título “Polícia mexicana tortura grupos de defesa civil”. O vídeo acabou por ser removido pelo autor da publicação, depois de vários utilizadores comentarem que tinha sido retirado de um contexto diferente.
Manipulação mediática desvia a atenção das imagens verdadeiras
Embora não seja claro quem poderia recuperar, voltar a carregar e intencionalmente atribuir uma identificação falsa a imagens de abuso policial, nem com que motivações o faria, é mais fácil imaginar por que tantos activistas, acreditando na veracidade das imagens, partilharam o vídeo nas suas redes. Afinal, os maus tratos sobre activistas detidos [en] tinham sido denunciados por fontes fidedignas. E considerando os ataques a jornalistas que cobrem os protestos [en], o jornalismo cidadão e as redes sociais tornaram-se instrumentos críticos para a documentação e partilha de notícias sobre as manifestações e o abuso das autoridades. Mas como o Global Voices noticiou [es], tanto os activistas da oposição como os canais de informação que apoiam o Presidente Nicolás Maduro envolveram-se na disseminação de imagens falsas, descontextualizadas ou enganadoras.
A distribuição de imagens falsas com objectivos ocultos não só alimenta o fosso político – cada vez mais violento – como também dificulta o trabalho de separar a verdade da mentira para quem acompanha o movimento pela Internet. E aumenta o fardo dos que tentam documentar os protestos de forma honesta.

Uma discussão no Facebook amplamente divulgada condenou o alegado uso de fotos da Síria por manifestantes anti-governo na Venezuela.
É por isto que a autenticação é central para o Human Rights Channel, que trabalha com os nossos parceiros do Storyful para garantir que difundimos vídeos genuínos de violações de direitos humanos, e também que travamos a desinformação.
Claro que combater falsos rumores é apenas um dos desafios que enfrentam os activistas de media na Venezuela. Muitas fotos e vídeos do movimento de protesto poderão nunca chegar a ver a luz do dia, devido à anteriormente noticiada apreensão de telemóveis dos activistas e jornalistas detidos.
Recursos para filmar e encontrar vídeos genuínos
Para quem documenta protestos em qualquer parte do mundo, seguir alguns passos básicos no momento de publicar os vídeos ajudará outros a confirmar que as imagens são autênticas. Pode ser descarregada aqui [en] uma lista de conselhos para publicar vídeos eficazmente no YouTube. Aguns pontos-chave:
- Título: a manter breve e descritivo, incluindo a data e o local.
- Descrição: na descrição do YouTube, deve ser dado mais contexto sobre o vídeo, como o que aconteceu antes, durante e depois, com ligações para mais informação.
- Créditos: se o vídeo foi publicado originalmente por um utilizador diferente ou num website diferente, deve ser fornecida uma ligação para o vídeo original. Isso ajudará os jornalistas ou observadores de direitos humanos a verificar que a gravação é genuína.
Para quem acompanha os protestos pela Internet e faz a curadoria de imagens que documentam abusos, o Manual de verificação [en] é um recurso livre em linha com ferramentas e conselhos para determinar a autenticidade de meios de comunicação na Internet. Uma folha de conselhos em espanhol para verificação de vídeos pode ser descarregada aqui [es]. Também pode subscrever o Human Rights Channel no YouTube e seguir-nos no Twitter para saber as últimas sobre a videogravação cidadã de violações de direitos humanos.
Madeleine Bair é a curadora do Human Rights Channel, um projecto da organização internacional de direitos humanos WITNESS. Vienna Maglio, estagiária no HRC pela WITNESS, detém o grau de Mestre em Relações Internacionais pela The New School for Public Engagement, em Nova Iorque.
Uma versão deste artigo surgiu originalmente no blogue da WITNESS [en].