Ao fim de 8 dias de greve renhida, ao longo dos quais centenas de garis do Rio de Janeiro decidiram cruzar os braços e exigir aumento de salário, melhores condições de trabalho e outros benefícios, a prefeitura finalmente cedeu. Depois de dura negociação, a 8 de março de 2014 foi anunciado um aumento de cerca de 37% nos salários bem como outros benefícios que vinham sendo exigidos. Uma vitória dos garis e uma vitória dos trabalhadores, além de uma lição para outras categorias e partidos políticos.
Desde 28 de fevereiro, vésperas do Carnaval, a maior festa da cidade e do país, os garis do Rio passavam por cima de ameaças de demissão e à sua integridade física, dado que sofreram intimidações vindas do governo e também tiveram de lutar contra a cobertura enviesada da mídia.
Apesar da prefeitura afirmar que o número de grevistas era pequeno, o que se via pela cidade após o Carnaval provava o contrário. O prefeito da cidade, Eduardo Paes, do PMDB, chegou a chamar os garis em greve de “marginais e delinquentes” e demitiu, por SMS, cerca de 300 garis (para depois voltar atrás). Posteriormente, Paes ameaçou demitir entre 1100 e 1200 garis em greve, o que por um lado contradiz a tese propagada pela prefeitura de que a greve seria pequena, e por outro denuncia a falta de vontade de negociar.
Dentre as razões para a greve estava o baixo salário, como apontou o ativista Rodrigo Veloso no Facebook, criticando ainda os valores de outros benefícios recebidos pela categoria e a jornada de trabalho “exaustiva”:
O salário-base de um Gari da Columb é de OITOCENTOS E TRÊS REAIS (803,00) por mês [cerca de 250 euros]. Um salário obsceno e de contraste inaceitável com funcionários fantasmas e centenas de milhares de cargos de indicação com remuneração infinitamente maior. Um gari, no Rio, recebe aproximadamente 1/4 do salário médio dos servidores públicos.
Além do salário-base, os garis recebem benefícios que fazem seu salário chegar aos 1220 reais por mês (cerca de 375 euros), ou menos que dois salários mínimos. A prefeitura ofereceu 9% de aumento num acordo firmado com o sindicato dos garis, ao passo que os trabalhadores exigiam pelo menos 50%.
Rompendo com o sindicato
A 5 de março, o jornalista Caetano Manenti escreveu para o Sul21:
Após uma reunião com garis inconformados, o sindicato assinou um documento que comunicava a Comlurb [estatal de limpeza urbana] de uma greve de 24 horas, a partir do primeiro minuto do sábado de carnaval [1 de março], aniversário da cidade. Já na manhã de sábado, o lixo se acumulou. Atrapalhada, a direção do sindicato, por entender como ilegal os procedimentos grevistas recém assinados, voltou atrás, temendo uma negativa da justiça, prontamente acionada pela Comlurb. E ela logo veio.
Os garis teriam de retornar imediatamente ao trabalho sob pena de multa no valor de 25 mil reais ao sindicato (cerca de 7.670 euros). Apesar disso os garis passaram por cima do sindicato e mantiveram a greve. Manentei completou: “Com contracheques frequentemente inferiores a mil reais(!), os profissionais da Comlurb racharam de vez com o sindicato da categoria.”
É conhecido que o sindicato dos garis tem diretoria amiga do prefeito. O ativista Gilson Sampaio, em rápida investigação, denunciou que o primeiro-tesoureiro foi candidato a vereador por um partido da base do prefeito (o PTB) e que teria recebido duas doações de 10 mil reais do presidente do sindicato, Luciano David de Araujo, que também ocupa o cargo há 13 anos.
Fica uma questão, como o presidente do sindicato dos garis, ele próprio da mesma profissão, ganhando hoje aproximadamente 1220 reais, realizou doações no total de 20 mil reais a um candidato a vereador?
Das ameaças à solidariedade
Os garis grevistas manifestaram-se diariamente em frente à prefeitura ou em outras áreas da cidade, enquanto pelas ruas se via montanhas de lixo se espalhando, tanto resquício do carnaval, quanto o amontoado de lixo produzido diariamente pela população.
Em vídeo do usuário do Youtube Juan Pablo Diaz Vio vê-se uma marcha de garis pelas ruas do Rio em 4 de março: