
William Bonner e Patrícia “Correta” no “vídeo que a Globo não quer que você veja”.
O ativista e videomaker brasileiro Rafucko denunciou em sua página do Facebook que o Youtube havia removido um de seus vídeos a pedido da Rede Globo de Televisão. Em apenas 8 horas a sátira tinha atraído mais de 40 mil visualizações.
A vídeo-montagem, publicada online no dia 18 de fevereiro, partia de um editorial do principal jornalístico da Globo, o Jornal Nacional, para expôr a manipulação da informação veiculada pela Globo sobre as manifestações que têm tomado o país desde junho de 2013. No vídeo o ativista se fazia passar pela jornalista Patrícia Poeta (em sua versão humorística, Patrícia Correta) e corrigia os comentários de seu colega de bancada, o jornalista William Bonner, ambos apresentadores do Jornal Nacional.
Dentre as correções estão o papel do jornalismo da Globo na cobertura da morte do cinegrafista Santiago Andrade durante manifestação no Rio de Janeiro, as acusações feitas pelas Organizações Globo (por seu braço impresso O Globo) contra o Deputado Marcelo Freixo – acusado levianamente de envolvimento com os manifestantes acusados de matar o cinegrafista – a insistência da rede em chamar manifestantes de “vândalos”, além da parcialidade da Globo em tentar igualar a violência defensiva dos manifestantes com a violência da Polícia Militar, que segundo a Abraji (Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo) é responsável por 75% das agressões a jornalistas.
A denúncia de Rafucko foi reproduzida por milhares de usuários do Facebook e muitos destes responderam ao pedido do humorista repostando o vídeo em diversas plataformas, como Youtube e Vimeo. Porém, muitas destas versões foram igualmente censuradas à pedido da Rede Globo, disse o ativista:
Quem baixou, pode repostar! Em breve reposto, com o slogan: “o vídeo que a Globo não quer que você veja”. Vai ser sucesso. Já é.
No mesmo dia, Rafucko protestou em seu blog contra o que considerou uma censura:
Não é à toa que um dos gritos mais ouvidos nas manifestações diz “a verdade é dura, a Rede Globo apoiou a ditadura (e ainda apóia)!”
Na última semana vimos a emissora dedicar extensas reportagens e editorias para versar sobre a liberdade de expressão. Desde o início das manifestações, a Rede Globo utiliza sistematicamente imagens de coletivos de mídia independente sem dar créditos ou pedir prévia autorização.
Entretanto, meu vídeo satirizando o Jornal Nacional foi retirado do ar menos de 12h após sua publicação. O papo dos “direitos autorais” eu dispenso.
O ativista Pedro Ekman criticou a Rede Globo e comentou sobre a questão dos direitos autorais:
A Globo é a maior censora da internet brasileira. A retira conteúdos alegando ter direito autoral sobre eles. A Lei de Direito Autoral determina que é LIVRE o uso de pequenos trechos de obras protegidas por direito autoral para fins de crítica e sátira. Mas respeitar leis nunca foi muito a prática da Globo, vide 1964.
O jornalista Bruno Natal acrescentou, em seu blog:
Nos EUA, por exemplo, essa alegação mambembe de violação de direitos autorais não colaria, porque lá existe uma lei chamada Fair Use (Uso Justo), que permite a reprodução de qualquer material protegido desde que dentro de um contexto pertinente, o que claramente é o caso aqui. Afinal, como o Rafucko pode criticar o editorial sem mostrá-lo?
Isso pra não entrar no âmbito da liberdade artística, antes que alguém venha dizer que ele não precisava mostrar o vídeo, mas bastaria citá-lo (quem escolhe a forma é o artista).
Só tem um nome pra isso e vc sabe qual é.
No dia seguinte, 19, Rafucko agradeceu a seus seguidores pelas repostagens do vídeo informando que antes de ser censurado o vídeo tinha chegado às 500 mil visualizações, se tornando vídeo mais visto de seu canal, e acrescentou:
Quando se fala pela liberdade, toda tentativa de repressão e censura amplifica nossa voz.

Vídeo original censurado.
Tatiane Rosset, no blog do Youpix, comentou:
Como a internet não é boba nem nada, existem outros meios para assistir o viral, onde Rafucko interpreta Patrícia Correta (piadinha) corrigindo o colega de bancada durante o editorial. Um deles são as várias repostagens feitas no próprio YouTube (uma já tinha mais de 400 mil views quando foi retirada, e outra está em 190 mil).
A outra, é claro, é através do Vimeo. Porque, por algum motivo, todos as pessoas com o ~~rabo preso~~ no país esquecem que o YouTube é o principal, mas não o único meio de veicular vídeos online
A censura, pedida pela Rede Globo por “infringir direitos autorais”, levanta o questionamento: Até onde a liberdade de expressão rola online? O universo digital é realmente livre?
1 comentário
A Globo faz editorial no Jornal Nacional exaltando a “Liberdade de expressão” mas é a maior cesuradora de vídeos do Youtube.