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Mapeando a tuitosfera celta

Categorias: Mídia Cidadã, Rising Voices
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Nas últimas semanas, eu criei mapas mostrando conversas do twitter nos idiomas irlandês [1], basco [2], e maorí [3]. A inspiração para isso veio de um conversa por e-mail que tive com Paora Mato, da Universidade de Waikato em Aotearoa, uma das autoras de uma excelente análise da comunidade maorí no twitter, baseado em dados de tuítes indígenas. Dado que as pessoas aparentemente gostaram dos mapas, eu decidi fazer a mesma coisa com outras línguas celtas (galês, gaélico escocês, manês, córnico e bretão), conforme você pode ver abaixo.

Welsh language Twitter conversations (CC-BY-SA) - Click for a larger view. [4]

Conversas no Twitter em galês (CC-BY-SA) – Clique para ampliá-la.

Esses mapas foram todos criados mais ou menos da mesma maneira. Eu comecei com as listas de pessoas tuitando em cada língua a partir do site Indigenous Tweets [5] – o site mostra todos que estão tuitando em línguas minoritárias como o bretão, córnico e maorí, e os 500 usuários mais ativos para irlandês, basco, galês, etc.

Irish language Twitter conversations (CC-BY-SA) - Click for a larger view [6]

Conversas no Twitter em irlandês (CC-BY-SA) – Clique para ampliá-la

Depois, uma pequena porcentagem de usuários do twitter permite que seja exibida a localização geográfica dos tuítes, isso significa que quando tuítam de um aparelho móvel, a latitude e longitude ficam registradas na base de dados do twitter. Porém, essas coordenadas estão disponíveis para desenvolvedores como eu através da API do Twitter [7]. No caso dos usuários sem localização ativada, eu simplesmente coletei as localizações (fornecidas pelo usuário) nos perfis, correlacionei os nomes dos lugares e busquei as coordenadas no sistema. Para esses usuários, tomei nota de que todos os tuítes foram enviados da localidade resultante. Isso quer dizer que se a localização do perfil é “Dublin”, “Baile Átha Cliath”, “BÁC” ou outros variantes, pertencerá provavelmente a uma localidade próxima da cidade, não importa o que esteja na base de dados (a Dublin Spire [8], nesse caso). Isso não é um problema, porque eu sou o único interessado em criar esses mapas buscando por países ou continentes.

Scottish Gaelic Twitter conversations (CC-BY-SA) - Click for a larger view.

Conversas no Twitter em gaélico escocês (CC-BY-SA) – Clique para ampliá-la.

Correlacionar os nomes dos lugares requer um pouco de trabalho manual, por algumas razões. Em primeiro lugar, às vezes as pessoas fornecem sua localização no perfil, algo como “americano expatriado vivendo em Galway”, e os serviços de geolocalização que eu experimentei costumam falhar nesses casos. Em segundo lugar, muitas pessoas tuitando em línguas minoritárias ou indígenas fornecem sua localização na língua nativa, e os nomes dos lugares em línguas como galês, córnico e maori não estão disponíveis nos sistemas de geolocalização. E por último, há erros de escrita e outros problemas nos perfis das pessoas, que são mais fáceis de resolver manualmente.

Scottish Gaelic, Great Britain and Ireland only (CC-BY-SA) - Click for a larger view. [9]

Escócia, Grã-Bretanha e Irlanda apenas (CC-BY-SA) – Clique para ampliá-la.

Nesse momento, tenho coordenadas adequadas para cerca de 50-60% dos usuários listados nas páginas de indigenous tweets. Depois eu reúno todos os tuítes do sistema que foram escritos na língua desejada e nos quais um usuário “menciona” outro. Nos casos em que eu tenho as coordenadas tanto dos remetentes quando dos usuários mencionados, eu desenho um arco de um grande círculo no mapa conectando os dois pontos. Eu renderizei os mapas usando o pacote estatístico R, que tem bibliotecas que facilitam esse tipo de trabalho. (Por exemplo, aqui [10] tem um ótimo tutorial).

É muito comum que um grande número de conversas tenham lugar entre dois pontos específicos. Por exemplo, há 5878 tuítes em galês enviados de Caerdydd que mencionam um usuário em Caernarfon, e 1519  tuítes em irlandês enviados de An Cheathrú Rua que mencionam um usuário em Baile Átha Cliath. Em casos assim, ajustei o brilho dos arcos para que os trajetos mais frequentes fiquem em destaque no mapa.

Breton language Twitter conversations (CC-BY-SA) - Click for a larger view. [11]

Conversa no Twitter em bretão (CC-BY-SA) – Clique para ampliá-la.

Eu não sou um linguista, então não cabe a mim tomar conclusões sobre geografia linguística, vitalidade das línguas minoritárias ou qualquer outro assunto a respeito dos mapas. Prefiro deixar isso para os próprios membros das comunidades linguísticas, que compreenderão melhor a situação local. Dito isso, quero tratar de duas questões que as pessoas levantaram no twitter depois que eu publiquei os mapas dos idiomas irlandês, basco e maori.

O mais impressionante no mapa basco [2] é o quanto é geograficamente compacto, especialmente quando comparado ao mapa do idioma irlandês onde vemos muitas conversas entre Irlanda, América do Norte, Europa e até Brasil. Em contraste, todos as conversas em basco foram registradas basicamente dentro do próprio País Basco. E o mapa do galês, que aparece aqui pela primeira vez, se parece mais com o mapa basco que com o irlandês, com apenas uma pequena porcentagem de tuítes envolvendo um usuário fora do País de Gales, a maioria deles de Londres. Isso quer dizer que, de alguma maneira, a língua irlandesa é mais “internacional” que as outras duas, ou que os disseminadores do irlandês estão mais engajados? Pode ser, mais é preciso um estudo mais cuidadoso para afirmar isso. Na minha opinião, as comunidades galesa e basca parem mais compactas em parte, porque eu só estou levando em conta os 500 principais usuários em cada caso, o que não é muito eficiente visto que essas línguas possuem comunidades muito vibrantes no twitter. (atualmente, o 500º usuário mais ativo em galês tem 1073 tuítes publicados nesse idioma, para o basco, o número é 1958, para o irlandês apenas 176), e eu imagino que os usuários com milhares de tuítes no idioma vivam no país onde é falado diariamente pela comunidade local.

Cornish language Twitter conversations (CC-BY-SA) - Click for a larger view. [12]

Conversa no Twitter em córnico (CC-BY-SA) – Clique para ampliá-la.

Uma ou duas palavrinhas sobre o mapa manês. Das 6 línguas celtas, o manês é a que tem menos usuários no tuíter e provavelmente o menor número de falantes também. Muitos dos usuários tem a “Isle of Men” (Ilha dos Homens), “Ellan Vannin” (ou variantes) como localização (sem localização específica na ilha). Por isso, eu reduzi todas as localizações da ilha a uma coordenada única, e portanto (infelizmente), o mapa não mostra o que eu considero uma rede interessante de comunicação na ilha; em vez disso, mostra trajetórias de conversas entre a ilha e outros três usuários que moram fora dela.

Manx Gaelic Twitter conversations (CC-BY-SA) - Click for a larger view. [13]

Conversa no Twitter em manês (CC-BY-SA) – Clique para ampliá-la.

Por último, sobre a privacidade. Não mapeei localizações exatas, nada além de cidade ou povo, exceto nos casos em que os usuários escolheram revelar sua localização exata. E mesmo nesses casos, já que os mapas estão em uma escala bem grande, é impossível apontar a sua localização exata. Dito isto, as pessoas não vão ficar olhando minunciosamente para o mapa para saber onde você está, e se a ideia de ter alguém espiando seus movimentos te assusta (Se não, acho que deveria [14]), você deveria desativar a localização da sua conta do twitter (em configurações, clique em “Segurança e Privacidade”, e depois desmarque a opção “adicionar localização aos meus tweets”). Se você não quer que ninguém saiba de onde você é, você pode também remover a sua localização do perfil (Configurações → Perfil → Localização). E se você não quer que sites de como o Indigenous Tweets tenham acesso ao que você escreve, a solução mais fácil é “privatizar” o seu perfil. (Configurações → Perfil, e marque a caixa ao lado de “Proteger meus tweets”).

Nota do Rising Voices: Este artigo foi republicado aqui em colaboração com o Indigenous Tweets. Leia o artigo original aqui [15].
A tradução deste artigo para língua portuguesa foi editada por Davi Padilha Bonela