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México: Quatro mulheres jornalistas desafiam as probabilidades

Categorias: México, Educação, Mídia Cidadã, Mídia e Jornalismo, Mulheres e Gênero, Trabalho

[Todos os links conduzem a sites em espanhol, exceto quando indicado o contrário]

Este artigo faz parte de nossa série sobre gênero e a sexualidade na América Latina e no Caribe [1] [en] em parceria com o Congresso Norte-Americano sobre a América Latina [2] (NACLA) [en].

Apesar dos baixos salários e dos riscos de exercer a profissão de jornalista no país mais perigoso [3] das Américas, algumas profissionais mexicanas continuam trabalhando e crescendo nesta carreira.

Na sequência, apresentamos quatro destas bravas profissionais. Com anedotas sobre migração, política, sonhos e igualdade de gênero, elas nos deram uma ideia das vidas delas para observarmos o que significa ser uma jornalista no México.

Nicole Medgenberg

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Nicole, uma jornalista nascida na Alemanha, mudou-se para o México quando estava começando seu bacharelado. Hoje, ela trabalha para uma organização não-governamental durante o dia, e à noite cobre principalmente matérias sobre comidas e viagens como jornalista freelancer. Ela começou também seu próprio blog de receitas, chamado La cocinera con prisa [4] (“A cozinheira apressada”).

Seu primeiro encontro com o jornalismo aconteceu aos 12 anos de idade, quando ela planejava uma revista com uma amiga. Nicole explica que a amiga procurava por fotos em revistas, enquanto ela escrevia histórias imaginárias para cada uma das imagens. “Eu ainda guardo a revista comigo”, Nicole declarou orgulhosamente.

A jornalista afirma que a cidade ofereceu à ela as mesmas oportunidades dadas a qualquer homem: “Nasci em uma geração e cultura na qual eu já não questiono se posso votar, estudar ou exercer minha profissão com alguma diferença em relação aos homens. Tenho sorte de possuir uma raiz alemã e mexicana, que [meus pais] são muito abertos e apoiam a minha carreira.”

Para Nicole, o principal problema enfrentado no jornalismo é o baixo salário: “Algumas pessoas precisam entender que se elas querem alguém que seja dedicado e tenha uma boa experiência, ele ou ela deveria ser tratado como tal, pagando em dia e o valor [corretos]. É uma profissão que exige compromisso e auto-sacrifício, e infelizmente, não é bem remunerada.”

Siga Nicole no Twitter:@NicMedgenberg [5]

Elia Baltazar

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“Eu não posso dizer que estou sujeita a qualquer discriminação ou tratamento preferencial por ser mulher. Acredito que existe mais a fazer estando consciente dos meus direitos. Eu não permitiria que isso acontecesse”, Elia responde quando perguntada se foi tratada com diferença por ser uma jornalista mulher.

Nascida e criada no México, Elia trabalha como jornalista freelancer. Seu dia começa entre 4h30 e 5h da manhã, quando dedica 30 minutos para a leitura de um livro do seu interesse (ela não tem tempo mais tarde). Depois, ela lê o jornal e planeja sua agenda diária. Elia está sempre entrevistando pessoas e investigando prováveis histórias, às 10h. E às 22h encerra o seu trabalho.

Elia sempre sonhou em ser uma jornalista. Imaginava a profissão como um dos trabalhos mais fascinantes do mundo, associava-o a terras distantes. No ensino médio, ela trabalhou no jornal da escola, e o seu primeiro emprego foi como jornalista aos 18 anos de idade.

No seu trabalho com a internet Periodistas de a Pie [6], ela escreve sob uma perspectiva dos direitos humanos e de gênero: “Prefiro escrever toda vez sob a perspectiva de igualdade de direitos para todos, e só ressalto o gênero quando está claro que houve uma violação no direito das mulheres”. Na sua organização, eles adotam escrever não só acerca das denúncias, mas também encontrar exemplos de histórias de sucesso que acabem com a tradição de sofrimento das vítimas e fortaleçam os cidadãos com suas próprias histórias de sucesso.

Elia se declara uma feminista; apesar de não estar convencida sobre todas as teorias deste movimento, elas fazem parte do seu crescimento pessoal e profissional. Para ela, o maior desafio que os jornalistas, de ambos os sexos, enfrentam hoje no México são os baixos salários e as condições de trabalho, “o que torna difícil fazer investigações verdadeiras”.

Siga Elia no Twitter:@eliabaltazar [7]

Sandra Apolinar

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De Toluca, uma cidade a 40 minutos do México, Sandra é a editora do Departamento de Música e Tecnologia da Swagger [8]. Para ela, um dia comum na redação consiste na edição de artigos para o site. E também procurar temas que sugiram possíveis histórias para os jornalistas da sua equipe.

“Eu não sou uma grande fã de noticiar os escândalos na música, matérias relacionadas a Justin Bieber ou a Miley Cyrus, mas nosso público é muito interessado nisto e escrevo a respeito”, confessa. Sandra deseja continuar sua carreira nas reportagens sobre esporte. Ela é muito fã do time de futebol local Diablos Rojos, e sabe que como mulher deve levar mais tempo para persistir em uma carreira dentro dessa área.

Sandra soube que queria ser jornalista desde o ensino médio. E disse que sempre escreveu para ela mesma, e quando estava com 16 anos de idade, começou o seu interesse em escrever para os outros. Por mais de seis anos, viajou de Toluca para a Cidade do México todos os dias, ida e volta, e mesmo se ela não morasse na cidade, comenta que se sente de “DF”[Distrito Federal] e que não existe outro lugar que ela preferisse trabalhar como jornalista.

“O maior desafio que eu vejo para os jornalistas no México é que às vezes eles esquecem de ser verdadeiramente objetivos, o mínimo que eles podem ser. O jornalismo no México não terá grande melhoria se o ego destes profissionais continuar crescendo”, ela conclui.

Siga Sandra no Twitter: @sandiapolinar [9]

Daliri Oropeza

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“Eu sempre tento balancear as falas no que escrevo. Se entrevistei quatro homens, tento procurar o mesmo número de mulheres. Nesse assunto, gosto de trazer justiça aos meus textos”, Daliri explica.

Nascida e criada no México, Daliri vem de uma família que trabalhou em um grupo circense por anos. Ela é a única jornalista da família, e se sente orgulhosa disso. Morou em muitos bairros do México, de San Rafael a La Roma, de La Tabacalera a Buena Vista. Daliri ama o México, e mesmo que ela viaje para outras cidades para estudar, confessa que sempre voltará para o DF.

“Eu sou uma mulher que gosta de experimentar o meu trabalho. Quero buscar novas coisas, e estou sempre à procura de novas histórias, novas vozes para representar”. Daliri escreveu diversas histórias sobre o povo indígena do sul do estado do México, Chiapas [10].

Para a jornalista, a tentativa de trazer uma igualdade no número de falas de homens e mulheres é a sua contribuição para a igualdade de gênero. “Eu não sou feminista, mas sempre quero escrever sobre mulheres em minhas histórias”, ela diz. Uma de suas histórias mais recentes e favoritas diz respeito às filhas dos políticos que também trabalham na política, uma investigação que Daliri procurou explorar a “minoria de uma minoria”.

“Há diferenças entre homens e mulheres quando falamos sobre jornalismo. Às vezes, alguns homens pensam que você não pode fazer um bom trabalho como jornalista, mas você não deve deixar aqueles comentários afetarem o seu trabalho. Estas pessoas são ignorantes”, enfatiza, e conclui que trabalhar nesta profissão é a sua paixão. Não há outro emprego que ela preferiria estar exercendo.

Siga Daliri no Twitter: @Dal_air [11]