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Especialistas vêem 2014 como ano decisivo para a Amazônia

Categorias: América Latina, Brasil, Desenvolvimento, Direitos Humanos, Economia e Negócios, Governança, Lei, Mídia e Jornalismo, Política
Foto: Agência Pública no dia do debate aberto sobre a Amazônia em São Paulo (14/12/2013). [1]

Foto: Agência Pública no dia do debate aberto sobre a Amazônia em São Paulo (14/12/2013).

Este artigo foi publicado originalmente [1] no website da Agência Pública a 17 de dezembro de 2013. Leia a primeira parte: Amazônia, uma história de destruição [2].

O lançamento do primeiro livro-reportagem da Agência Pública, Amazônia Pública, no passado dia 14 de dezembro em São Paulo, juntou especialistas sobre a Amazônia nas áreas de energia, ambiente, comunicação, além de representantes de movimentos e ONGs que atuam na região debateram os dilemas que vive a região. 

Mineração no sul do Pará

Danilo Chammas, advogado da Rede Justiça nos Trilhos, lembrou os impactos que mega empreendimentos causam a comunidades tradicionais e quilombolas. É o caso do projeto de Carajás, da mineradora Vale, no sudeste do Pará e oeste do Maranhão. Segundo ele,

uma pessoa morre por mês atropelada nos trilhos da Estrada de Ferro Carajás.

A ferrovia leva o minério de ferro extraído nas minas em Carajás ao porto de São Luís e daí à exportação, em grande parte direcionada para a China, e está sendo duplicada para escoar o aumento da produção de minério da floresta: a companhia pretende dobrar a extração quando o projeto – em implantação – estiver concluído. A obra tem financiamento do BNDES que liberou a primeira parcela do investimento mesmo quando a obra foi embargada na Justiça pelos movimentos sociais de direitos humanos, CIMI e Fundação Palmares.

Veja o vídeo “Carajás, o maior trem do mundo [3]“, a primeira reportagem da série Amazônia Pública [4]

De acordo com Chammas, Carajás é uma região em permanente conflito há pelo menos 30 anos – justamente por abrigar o maior empreendimento de minério de ferro do mundo. “Isso dentro de uma floresta nacional. O que é uma contradição”, falou, reafirmando que o minério de ferro extraído em Carajás é o mais barato do mundo:

É realmente um negócio da China. O custo da tonelada [de minério de ferro] é de US$ 22 até o porto e dali, US$ 100, sem contar com o custo da transporte

Chammas destacou que os problemas sociais permanecem sem solução na região, por falta de empenho da companhia Vale e do governo. Também lembrou a atuação agressiva da Vale, que chegou a infiltrar e espionar lideranças dos movimentos sociais que exigem responsabilidade social e ambiental por parte da companhia. “Somos os mais espionados”, disse Danilo.

Leia mais: Vazamento de informações expõe espionagem da Vale [5]

Leia a reportagem completa no website da Agência Pública, "mazônia, uma história de destruição". [1]

Leia a reportagem completa no website da Agência Pública, “Amazônia, uma história de destruição [1]“.

Como a imprensa cobre a Amazônia?

A jornalista Elaize Farias, de Manaus, co-fundadora do portal Amazônia Real, falou sobre a cobertura da Amazônia pela mídia, não raro vista como “exótica” e deslocada do resto do país.

É preciso fazer a conexão da Amazônia com outras regiões. Estados como Minas Gerais, São Paulo e Rio de Janeiro não sabem da relação da Amazônia com outras regiões. Não se sabe, por exemplo, que a madeira extraída ilegalmente vem para os pólos moveleiros de São Paulo e de Minas Gerais.

Nilo D’Ávila, do Greenpeace, que falou das políticas públicas em vigor para a Amazônia, também reforçou a importância de analisar os projetos e políticas para a região levando em conta não apenas o contexto nacional, mas continental da floresta, que se expande pelos territórios do Peru, Equador, Bolívia. O ativista também criticou o debate pouco transparente do Código da Mineração, colocado para votação em regime de urgência, sem a participação da população, embora fundamental para decidir o futuro dos nossos recursos naturais do ponto de vista econômico, ambiental e social, especialmente por envolver projetos de mineração de em terras indígenas.

Entre pessimistas e otimistas, os debatedores vêem 2014 como um ano decisivo para a reação popular a megaempreendimentos na região. É o ano em que deve sair, por exemplo, a licença de operação para a usina de Belo Monte e a de instalação duas hidrelétricas do Tapajós. Para Marcelo Salazar, do ISA, “precisamos nos inspirar nesses movimentos de ruas e reinventar as formas de manifestação”. E, como observou o professor Célio Bermann, disseminar informação de qualidade para disseminar o debate.