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Conheça cinco brasileiras que amam o que fazem e fazem o que amam

Categorias: América Latina, Brasil, Boas Notícias, Ideias, Mídia e Jornalismo, Mulheres e Gênero
A revista #AMF, ou #AmoMeuFazer é uma publicação da Editora Florista. www.amomeufazer.com.br | www.editoraflorista.com.br | Facebook | @amomeufazermagr Fotos: Gleice Bueno, usadas com permissão [1]

A revista #AMF, ou #AmoMeuFazer é uma publicação da Editora Florista. www.amomeufazer.com.br [2] | www.editoraflorista.com.br [3] | Facebook [4] | @amomeufazermagr [5] Fotos: Gleice Bueno, usadas com permissão

Lançada em setembro de 2013, #AmoMeuFazer [6] (#AMF) é uma revista quinzenal sobre pessoas que amam o que fazem, contando a história e o processo criativo delas:

Gente que – a partir de seu fazer – mudou sua trajetória de pensar, sentir, se relacionar, trabalhar e viver. Ou simplesmente encontrou uma forma de realização e de alegria cotidiana naquilo que produz. Retratamos os mais diversos fazeres, seus processos criativos e a beleza de cada um.

Tudo começou como um blog, A Florista [7], que há três anos colecionava relatos de pessoas que amam o que fazem, as chamadas “flores”. Aos poucos, as amigas blogueiras – Karine Rossi, Gleice Bueno e Dani Scartezini – perceberam que o que amavam mesmo no blog era “encontrar, conhecer de perto, retratar e compartilhar histórias reais e transformadoras”.

Foi assim que o blog virou Editora Florista [8], cujo primeiro fruto é a revista digital #AMF [9], que encerra o primeiro trimestre de existência com 18 entrevistas, acompanhadas de belas fotos e, algumas, de vídeos. O segundo fruto da editora, a Escola do Fazer [10], é um projeto que busca aproximar pessoas que amam o que fazem com pessoas que queiram aprender uma atividade onde possam encontrar prazer, compartilhando a experiência de fazer.

Para este artigo, selecionamos cinco das mulhares destacadas na revista #AmoMeuFazer [6], que em comum tiveram a coragem de largar uma carreira – ou várias – para fazer o que amam, e começaram amar o que fazem.

A arquiteta que virou educadora

Fabi Diaz [11] se formou em Arquitetura, foi dona de um popular bar em São Paulo e largou tudo para ir morar na Bahia, onde o contraste entre as belezas naturais e a pobreza local a inspirou a trabalhar com a educação infantil. Há seis anos, ela abriu a escola Jardim do Cajueiro [12], um espaço para o aprendizado através da arte, da música, do convívio social e da consciência ambiental:

A coragem sempre presente, o olhar para as crianças, as necessidades delas e de suas famílias, nos norteava e a costura era feita através de muito estudo, antroposofia e pedagogia waldorf. […] A escola ainda vive de apadrinhamentos. Pessoas que pagam os custos da manutenção de uma criança na escola. Como trabalhamos com 75% de bolsitas, este apadrinhamentos são fundamentais.  A ajuda de cada um é importantíssima e estamos sempre nesta batalha de conseguir cada vez mais padrinhos.

Este ano conseguimos uma ajuda financeira para a construção de nossa sede própria, outro grandioso sonho! Ganhamos um terreno da prefeitura em reconhecimento por nosso trabalho e depois de um ano de batalha começamos nossa obra. Temos apenas um terço do valor total da obra, e para concluir este importante passo, precisamos também da participação de todos que possam ajudar de alguma forma, ou doando ou nos ajudando a captar estes recursos.

O tamanho da escola, 70 crianças hoje, e com a previsão de crescimento de uma turma por ano, já está com proporções que não cabem mais em casas alugadas. Precisamos mesmo de nosso espaço. Os planos são grandes, não dá mais para desistir, agora somos muitos, muitas famílias, muitas vidas, muitos destinos… A empreitada é enorme.

Sinto que precisamos de mais e mais sonhadores conosco: tocar corações é nossa meta, transformar amorosamente é nosso desafio. Quero proporcionar com essa história, um verdadeiro foco de luz para iluminar as diversas possibilidades de caminhos que existem para todos aqueles que cruzam o nosso caminho, e que de alguma forma, querem ajudar a fazer um mundo melhor.

Fabi Diaz [11]

“Tantas crianças soltas, que lindo, mas será que não estão soltas demais? Que liberdade é esta que se mistura tão facilmente com o abandono?” (Fabi Diaz)

A dançarina que virou doula

Maíra Duarte [13] resolveu deixou três empregos e viajar “pra ver o mar, meditar e pensar na vida”. Foi em vilarejo sem energia elétrica que ela re-descobriu talento para terapias diversas, e ter seus filhos de parto natural foi um dos passos mais importantes para chegar à carreira de doula [14]:

Estava sem dinheiro nem para voltar e meu plano não tinha dado certo. “O que eu faço agora?!“ O dono da casa em que eu me hospedava disse: “quando eu não sei o que fazer, desço o rio”. Peguei uma bóia bem grande e fui para o Rio Caraíva. Correnteza me levando até o mar. Olhando o céu, chorando, limpando o coração, deixei o corpo seguir no curso do rio. E entreguei para o mar os meus medos. No caminho fui fazendo uma retrospectiva mental. Lembrei das coisas fundamentais, das pessoas fundamentais, de minhas aulas de dança e das massagens que lá aprendi.

Chegando na praia me veio uma ideia. Em uma camiseta escrevi: “Massagem! Fale comigo” e desenhei uma mão aberta, com uma espiral no centro. Pedi umas dicas básicas para uma amiga massagista que estava por lá, relembrei o que já sabia e confiei nos meus sentidos. Saí pra andar na praia vestindo a camiseta. Logo uma pessoa se aproximou interessada, depois outra e outra… Foi um mês de bastante trabalho. Voltei com dinheiro no bolso e sabendo o primeiro passo a dar no novo ciclo: estudar Ayurveda*.[…]

Acompanho toda a gestação em um pré-natal terapêutico, paralelo ao médico, com massagens, conversas e orientações ayurvédicas. Procuro criar um espaço aberto para a gestante se informar, trabalhar os medos, se preparar física e emocionalmente para o parto e o pós parto. Esse espaço é também para os companheiros (ou companheiras em alguns casos) encontrarem seu lugar nisso tudo. Assim, aprendem a cuidar das mulheres e de si, entendendo melhor esse processo do qual por décadas foram excluídos. As massagens são momentos de forte conexão entre o bebê e a mãe. Sinto-me muito ligada a eles particularmente nessa hora. Massagear um bebê dentro da barriga de sua mãe durante vários meses estabelece um vínculo profundo. E assim vamos juntos trilhando um caminho para aquela gestação. Isso pode envolver muitas conversas, banhos terapêuticos, orientações alimentares e de práticas respiratórias. Cada gravidez traz uma demanda que a gente vai sentindo enquanto a gestação flui. 

Maira Duarte [13]

“Tive o segundo filho, num parto natural rápido, intenso e prazeroso. Esse parto abriu uma porta, me trouxe firmeza e alguma compreensão a respeito da entrega. Fiz o curso de doula e de educadora perinatal.” (Maíra Duarte)

A professora que virou padeira

Luciana Sápia [15] se formou em Ciências Sociais, estudou pedagogia, trabalhou com professora, contadora de histórias e atriz. Quando se tornou mãe, descobriu suas mãos e, com elas, passou a fazer pães, bolos e outras delícias. Em sua cozinha, nasceu a Confraria Santa Bárbara [16], uma “padaria caseira que utiliza processos artesanais para a elaboração de alimentos, resgatando saberes tradicionais de forma criativa”:

Essa maneira de atuar no mundo, me permitiu resolver o dilema de muitas mães modernas: como trabalhar fora e cuidar dos meus filhos?

Antes de ser padeira, era professora em um pequeno jardim de infância, o que ganhava não era suficiente para arcar com as despesas da vida,  e não queria estar ausente da vida cotidiana de meus filhos.

Estar dentro do mercado de trabalho, em um “emprego” convencional, seguramente remunerado, me consumiria muitas horas diárias e seguramente não supriria minhas necessidades anímicas, não poderia ser tudo o que quero: ser mãe, mulher, amiga, cozinhar, pintar, plantar, dançar… ser verdadeiramente feliz.

Foi quando comecei a fazer pão. Era apenas uma maneira de incrementar a renda mensal fazendo algo que eu gosto e oferecendo alguma coisa boa para as pessoas, logo percebi que se eu realmente quisesse poderia me bancar e ir muito fundo com essa história.

Comprei o forno, ajeitei a cozinha, arrumei os pães num cesto e agora estamos aqui!  Assim, daqui, da minha casa, no aconchego do meu lar, ao lado dos meus filhos eu proponho á vc: quer um pão fresquinho?

Meus sonhos são grandes. E a cada pão concretizo e alimento um pouco de cada um deles.

Luciana Sapia [15]

“A parte do meu corpo que mais mudou com a gravidez foram minhas mãos – mãos maternas, mãos que tateiam o mundo, buscando amor para oferecer ao filho recém-chegado” (Luciana Sapia)

A designer que virou costureira

Gisele Dias [17] deixou a carreira de designer para se tornar modista [18], especializando-se em vestidos românticos e femininos, feitos a partir de rendas e flores. Quando trabalha com encomendas sob-medida, conta histórias de amor em forma de vestidos:

A Modista abriu em 2005. Foram tantas dificuldades… É normal encontrarmos muitas delas quando decidimos fazer algo novo que não dominamos. Abandonar uma profissão é uma difuculdade. A passagem de uma coisa para outra implica escolhas… Escolher e escolher certo é tarefa dificil! No meu caso, sou exemplo de alguém que tinha uma carreira e foi para o comércio. Sim, é comercio! A gente não se lembra dessa parte quando decide montar um negócio e tem uma cabeça criativa.

Gisele Dias [19]

“Acredito que a filosofia de vida que me move e também move o trabalho de A MODISTA é um grande diferencial: a celebração dos sentimentos mais profundos e verdadeiros por meio do traje de noiva…” (Gisele Dias)

Particularmente, sofri bastante lidando com gente. Assumo que não sou a pessoa mais sociável do planeta. Sou muito, muito reservada, nunca tive muito contato com público e o comércio me obrigou a isso. Foi bem dificil no começo. Mas, na verdade, foi uma grande escola. As dificuldades nos fazem crescer, quando temos humildade para aprender com elas. […]

Estou muito feliz com o que faço, mas me acho uma insatisfeita incondicional. ;-P. Quando não é uma coisa é outra e, ao meu ver, estamos apenas começando, apesar dos oito anos da loja. Temos muitas conquistas na mão, muitos objetivos para serem alcançados ainda e é isso que me move e que me faz olhar pra frente e para o futuro. Para viver fazendo o que se gosta é preciso humildade e entrega incondicional. Sem dúvida também o que move os desejos de qualquer pessoa é determinação e muita coragem. Vai sempre haver momentos dificeis, momentos de felicidade total, enfim… Lembro sempre de um ditado zen que diz que o segredo é: ser flexível como uma árvore e balançar com o vento sem se quebrar. Na minha vida acho que tudo acontece de forma muito orgânica e não muito racional. Tudo movido muito pelo emocional.

A advogada que virou terapeuta

Titi Vidal [20] atuou como advogada de Direito de Família durante alguns anos, teve bons empregos e escritório, mas foi a partir de um hobby que ela encontrou sua verdadeira vocação. Hoje, Titi é astróloga, taróloga e terapeuta holística [21], trabalhando de 12 a 14 horas por dia, e nunca esteve tão feliz:

Trabalhava como advogada durante o dia. À noite e aos finais de semana comecei aos poucos a atender e continuei a estudar. E fui me tornando Astróloga e Taróloga. 
Acabei conhecendo e estudando algumas técnicas terapêuticas e me tornei, também, terapeuta holística.

Sei que um dia, depois de muitos sinais que pedi, recebi um muito claro e pedi demissão em meu emprego. Já tinha recebido vários pequenos sinais, mas este não teve como não ser ouvido. Fazia, na época, um curso de mitologia. O professor falava de um determinado mito quando, no mesmo dia em que eu havia pedido aos anjos um claro sinal, interrompeu a aula do nada para falar sobre Apolo, que nada tinha a ver com o que vinha falando até então. Disse claramente que na vida tínhamos que ser como Apolo, que abandonou tudo para seguir sua verdadeira vocação. E sobre isso falou por um tempo considerável, talvez até que eu percebesse que o recado era para mim. Então decidi, no dia seguinte, pedir demissão. A minha surpresa foi quando me ofereceram o dobro para eu ficar. “E agora?” Pensei eu! “Será que o sinal era para isso?”. Mas firme e forte mantive minha decisão e comecei a me dedicar em período integral ao que em breve seria mesmo minha profissão.

E assim foi e ainda é. Sou Astróloga e Taróloga. E das técnicas terapêuticas que pratiquei encontrei-me principalmente na Radiestesia e então me tornei também Radiestesista.
 E estas são minhas profissões, minhas áreas de atuação e o que hoje me faz muito feliz. Amo o que faço.

Titi Vidal [20]

“Só que chega um momento em que somos colocados a prova. Somos testados e o universo nos pergunta se é isso mesmo que desejávamos fazer. ” (Titi Vidal)