- Global Voices em Português - https://pt.globalvoices.org -

5 lugares em Santiago, no Chile, para lembrar da ditadura de Pinochet e dizer “nunca mais”

Categorias: América Latina, Chile, Direitos Humanos, Governança, História, Mídia Cidadã
Former torture and detention centre Londres 38 on September 11, 2013. Photo by user Hi Sashi on Flickr, under a Creative Commons license (CC BY-NC-ND 2.0) [1]

Londres 38, antigo centro de prisão e tortura, em 11 de setembro de 2013. Foto no Flickr por Hi Sashi, publicada sob licença Creative Commons (CC BY-NC-ND 2.0)

No blogMemória da América Latina [2][en], Lillie Langtry publicou uma série de artigos sobre “lugares da memória” de Santiago, capital do Chile: monumentos e locais relacionados ao golpe de Estado [3] que derrubou o presidente socialista Salvador Allende [4][es] em 11 de setembro de 1973, e os 17 anos da ditadura de Augusto Pinochet [5]. Este ano, em 2013, o golpe de Estado completou 40 anos [6][es].

1. Museu da Memória e dos Direitos Humanos

Museum of Memory and Human Rights. Photo by Giovanni A. Pérez on Flickr, under a Creative Commons license (CC BY-NC 2.0) [7]

Museu da Memória e dos Direitos Humanos. Foto publicada no Flickr por Giovanni A. Pérez sob licença Creative Commons(CC BY-NC 2.0)

Esse passeio virtual começa no Museu da Memória e dos Direitos Humanos [8][es], “um lugar amplo e surpreendente”, como explica [9][en] Lillie:

Sadly you're not allowed to take photographs inside, which is a real shame, because the most striking feature for me is the huge wall of photographs of the disappeared reaching up across the entire space. There is also a point where you can stand and look out at it and locate individual names and faces.

On the ground floor various terminals show footage of the 1973 coup and its aftermath. As you move upstairs, different areas cover aspects like exiles and international solidarity, media coverage, and torture – including, chillingly, an electric shock device (made by General Electric – not suggesting they intended it to be used for that purpose!). There are also items made by prisoners and photographs of memorial sites throughout Chile.

Infelizmente é proibido tirar fotos do interior do Museu, o que é realmente uma vergonha, já que a parte mais interessante do Museu é, na minha opinião, o grande mural de fotos dos desaparecidos. Há também um local onde se pode encontrar os rostos e nomes.

No andar térreo, várias telas mostram filmagens da Copa de 1973 e dos resultados dos jogos. À medida que você sobe as escadas, encontra imagens e informações sobre assuntos como exílios e solidariedade internacional, cobertura da mídia e tortura – incluindo friamente um dispositivo de choque elétrico (feito pela General Electric – não querendo sugerir que tenha sido feito com este propósito!). Há também itens feitos por prisioneiros e fotos de locais memoráveis ao longo do Chile.

Universal Declaration of Human Rights at the Museum of Memory and Human Rights, Chile. Photo by Jen Dyer on Flickr, under a Creative Commons license [10]

Declaração Universal dos Direitos Humanos no Museu da Memória e Direitos Humanos, Chile. Postada no Flickr por Jen Dyer Photo sob licença Creative Commons (CC BY-ND 2.0)

Lillie observa também que, “…claramente, esse não é um espaço onde você encontra qualquer tipo de pseudo-neutralidade ou ponderação das facções pró- e anti-Pinochet como sendo iguais”, e ela cita um texto do catálogo do museu:

The task of building a memory must be guided by a moral compass; we must build a reading of the collective trauma that goes above and beyond what is evident, a history of victims and criminals, guilty and innocent. The goal in the museum's construction of memory is to become a space that assists the culture of human rights and democratic values in becoming the share ethical basis of our present and future coexistence. Only in this way can we empower our claim of NEVER AGAIN.

A tarefa de construir uma memória deve ser guiada por um fundamento moral; devemos construir uma leitura do trauma coletivo que vá além e acima das evidências, uma história das vítimas e dos criminosos, dos culpados e dos inocentes. O objetivo da construção do Museu é se tornar um espaço que possa auxiliar a cultura dos direitos humanos e valores democráticos na formação de uma base ética de nossa coexistência presente e futura. Só assim podemos fortalecer o nosso clamor: NUNCA MAIS.

Você pode ver mais fotos do Museu (da parte de dentro, inclusive) Flickr [11].

2. Londres 38

"40 Years of Fighting and Resistance": Londres 38, former torture and detention centre in Santiago, Chile. Photo by the Municipality of Santiago on Flickr, under a Creative Commons license (CC BY-NC-ND 2.0) [12]

“40 anos de luta e resistência”: Londres 38, antigo centro de detenção e tortura em Santiago, Chile. Foto publicada no Flickr pela Prefeitura de Santiago sob licença Creative Commons (CC BY-NC-ND 2.0)

Em outra postagem, Lillie escreveu sobre um antigo centro de detenção e tortura chamadoLondres 38 [13][en]:

It was used by the DINA (secret police) as a torture and holding centre for regime opponents, at least 98 of whom died there or afterwards. In front of the building, victims’ names are embedded among the cobble stones (similar to the Stolperstein in Germany).

Foi usado pelo DINA (polícia secreta) como um centro de prisão e tortura para os opositores do regime, pelo menos 98 deles que morreram lá [14]ou depois [de soltos] [es]. Na frente do prédio, os nomes das vítimas estão cravados em pedras angulares (parecido comStolperstein [15] na Alemanha).

E diz mais:

I was initially a little surprised at the condition of the walls, but of course it makes far more sense to see it like this than artificially spruced up. You certainly get more of a sense for the suffering that took place there; although it's also really amazing to think how central the location is. Ilovechile.cl writes that the building was known for the loud classical music coming from it – pretty chilling when you realise what that music was covering up.

A princípio eu fiquei surpresa com o estado do muro, mas é claro que faz muito mais sentido vê-lo assim do que todo enfeitado. Assim você entende muito melhor todo o sofrimento que aconteceu ali; embora seja realmente maravilhoso pensar em como esse lugar é central. Ilovechile.cl [16] diz que o prédio era conhecido pela música clássica que vinha dele – é bem assustador perceber o que toda aquela música pretendia esconder.

Londres 38 on September 11, 2013. Photo by César Castillo on Flickr, under a Creative Commons license (CC BY-NC-ND 2.0) [17]

Londres 38 no dia 11 de setembro de 2013. Foto publicada por César Castillo o Flickr sub licença Creative Commons (CC BY-NC-ND 2.0)

3. La Moneda

La Moneda, Chile's presidential palace. Photo by user alobos Life on Flickr, under a Creative Commons license (CC BY-NC-ND 2.0) [18]

La Moneda, palácio presidencial do Chile. Foto publicada por Alobos Life no Flickr so licença Creative Commons (CC BY-NC-ND 2.0)

Lillie escreveu também sobreo palácio presidencial do Chile [19][en], que foibombardeado [20] durante o Golpe em 11 de setembro de 1973.

Sobre os bombardeios, Francisco Vergara Perucich diz:

This building, considered a symbol of national independence and republican tradition, a built expression of the social progression, was completely burned and destroyed by the own military forces that swore loyalty to the nation and its constitution. Imagine two F-16s bombing the White House, or two Typhoons bombing Buckingham Palace… A scene really hard to believe. This attack was a sign of the end of a republican and democratic era.

Este prédio, considerado um símbolo da independência nacional e da tradição republicana, uma expressão viva da progressão social, foi completamente queimado e destruído pelas próprias forças militares que juraram lealdade à nação e à sua constituição. Imagine dois F-16s bombardeando a Casa Branca, ou dois tufões atacando o palácio de Buckingham… Uma cena realmente difícil de se acreditar. Esse ataque foi o marco do fim de uma era republicana e democrática.

Forty years since the military coup. La Moneda. Photo by Hi Sashi on Flickr, under a Creative Commons license (CC BY-NC-ND 2.0) [21]

Quarenta anos desde o golpe militar. La Moneda. Foto por Hi Sashi publicada no Flickr sob licença Creative Commons (CC BY-NC-ND 2.0)

4. Memorial pelos Desaparecidos

Memorial for those detained, those who disappeared and those who were executed for political reasons. Photo by user Nuevasantiago on Flickr, under a Creative Commons license (CC BY-NC-SA 2.0) [22]

Memorial pelos que foram detidos, pelos que desapareceram e pelos que foram executados por razões políticas. Foto de Nuevasantiago publicado no Flickr sob licença Creative Commons (CC BY-NC-SA 2.0)

Em sua última postagem da série sobre os locais de memória de Santiago, Lillie menciona o Memorial pelos Desparecidos [23]:”uma grande parede de pedra onde estão cravados os nomes da vítimas”.

Ela explica que a parte interior do Memorial é um cemitério:

I always really like seeing a memorial used, actually part of the fabric of life. In this case, at the bottom of the memorial are many notes, photos, little plaques, flowers, and so on. It's a sombre site but then, it is in a graveyard. The important thing is these victims did not previously have anywhere where their families could go to mourn them and to mark their lives, and now they do, and they are acknowledged in the chief cemetery of the capital city as being part of the country's history.

Eu sempre gosto muito de ver memoriais, eles fazem parte do tecido da vida. Este memorial tem, em sua base, várias notas, fotos, plaquinhas, flores e coisas do tipo. É um lugar sombrio mas, afinal, é um túmulo. O importante é que antes essas vítimas não tinham nenhum lugar onde suas famílias pudessem ir para chorar e lembrar delas, mas agora elas têm e esão reconhecidas no principal cemitério da capital como sendo parte da história do país.

Raúl Valdés Stoltze. Memorial for the Disappeared. Photo by Paul Lowry on Flickr, under a Creative Commons license (CC BY 2.0) [24]

Raúl Valdés Stoltze. Memorial pelos Desaparecidos. Foto postada por Paul Lowry no Flickr sob licença Creative Commons (CC BY 2.0)

Para mais postagens sobre a memória e os direitos humanos na América Latina, visite o blog [2]da Lillie. Você pode também segui-la no twitter: @Lillie_Langtry. [25]

5. Estádio Nacional

Chile's National Stadium. Photo from Wikimedia Commons, under a Creative Commons license (CC BY 2.0) [26]

O Estádio Nacional do Chile. Foto por Wikimedia Commons, publicada sob licença Creative Commons (CC BY 2.0)

Finalmente, gostaríamos de incluir mais um local de recordações em Santiago, no Chile: Estádio Nacional, que foi usado com um centro de detenção e tortura.

Pascale Bonnefoy [27] explica no Global Post [28][en]:”Estima-se que o número total de prisioneiros esteja entre 7 mil e 20 mil, incluindo cerca de mil mulheres. […] As torturas aconteceram na pista de ciclismo, nos escritórios administrativos, nos corredores e nos campos. Não há como afirmar categoricamente quantas pessoas foram mortas ou desapareceram do estádio.”

Remembering the prisoners 40 years later, on September 11, 2013 at the National Stadium. Photo by Pablo Trincado on Flickr under a Creative Commons license (CC BY 2.0) [29]

Lembrando os prisioneiros 40 anos depois, em 11 de setembro de 2013 no Estádio Nacional. Foto publicada por Pablo Trincado no Flickr, sob licença Creative Commons(CC BY 2.0)