Este artigo, escrito por Silvia Arjona Martín, foi publicado originalmente no website de AECOS com o título Aire limpio para Guinea-Bissau [es], a 26 de Agosto de 2013. Leia a primeira parte no Global Voices: Ar limpo para a Guiné-Bissau: quais as alternativas de futuro?
A data prevista para a realização de eleições democráticas para a Presidência da Guiné Bissau, 24 de Novembro de 2013*, sempre foi vista com insegurança e desconfiança pelos cidadãos e cidadãs guineenses. Poucas pessoas acreditavam que as urnas realizariam a sua função sem impedimento algum.
Paula Fortes, jornalista afrobrasileira com raízes guineenses, mostra-se “de pé atrás” à espera do que possa acontecer. Ela não acredita que as coisas vão mudar, ainda que o deseje, mas vê o futuro da sua terra muito incerto por conta da falta de estabilidade política que a acompanha. Talvez o facto de ter vivido a guerra de 1998, motivo pelo qual teve de sair de Bissau com 14 anos só com uma bolsa com os seus bens mais pessoais, rápida e directamente para o porto em busca do barco que a levaria para Cabo Verde, não a ajude a ver o futuro com prosperidade. Recorda aqueles acontecimentos com muita tristeza, como a maior cicatriz da sua vida.
Por causa disso, e também pela vergonha que ainda sente quando vê que interferem com o seu país – referindo-se ao último Golpe de Estado – começou a fazer parte do Movimento Ação Cidadã (MAC). O movimento foi criado após o mesmo golpe por um grupo de jovens indignados com tantos vaivéns políticos injustos, e sob o lema que o herói nacional, Amílcar Cabral, predicava nos seus dias:
pensar pelas nossas próprias cabeças, andar com os nossos próprios pés
O objetivo era questionar o que estava a acontecer e como dar andamento a soluções construtivas “deixando o mundo imaginário” de lado, porque para Fortes há que diferenciar entre o mundo das ideias e o mundo das acções. Para mostrar a importância do activismo social como meio para alcançar a mudança [necessária], ela conta:
Uma coisa é dizer que estou a pensar plantar uma árvore e outra coisa é dizer que plantei uma árvore, é dizer que coloquei uma semente [na terra] e sinto a obrigação de regá-la todos os dias para que a planta não morra.
A jovem jornalista também acredita que o nível de reflexão na Guiné Bissau é “baixo” e que se prefere sempre recorrer à ajuda internacional para solucionar os problemas, mas “temos de ser nós, homens e mulheres, os protagonistas da mudança do nosso país”, exclama com um olhar seguro e levantando a voz numa das salas da Liga Guineense dos Direitos Humanos de Bissau, a partir de onde trabalha agora.
Elizabeth Myrian Fernandes, outra participante do movimento, geralmente envolvida num programa de rádio que emite aos domingos, também sente que está a plantar uma semente, especialmente com os djumbais (palavra crioula usada para se referir a uma reunião onde as pessoas podem expressar-se livremente, sem quaisquer restrições) que acontecem no interior do país com a juventude guineense. O que é a transição política e o que esperam da democracia são questões-chave destas reuniões dinâmicas e altamente participativas, cujo objetivo é capacitar os e as jovens e reflectir colectivamente sobre o que está a acontecer na Guiné-Bissau.
O último djumbai tomou lugar na capital da região de Biombo, Quinhamel, onde cerca de 25 pessoas partilharam os problemas que identificam na sua localidade assim como a responsabilidade que têm entre eles. Amadú Mbalo, de 22 anos, assegurava que o principal problema nesta região é a falta de organização social para fazer frente tanto às dificuldades como às próprias autoridades locais, dada a escassez de vontade política que demonstram em relação à comunidade. Ao final de um intenso dia de debate e discussão, ele estava convencido da importância do djumbai porque “serviu-nos para pensar em acções futuras e unir mais jovens com o fim de trabalhar mais e melhor pela nossa região”, relatava sorridente e orgulhoso da jornada.
Este movimento, que parte da base de não ter qualquer organização legal, de contar com uma estrutura horizontal e de autofinanciar as suas actividades, pretende chegar mais além do que o fim da transição política, embora a decisão de como fazê-lo ainda esteja só no ar.
Um convite recente para partilharem a sua experiência de activismo social e político numas jornadas internacionais sobre cidadania activa, DEEP Global Conference “Building a Global Citizens Movement”, no início de Novembro em Joanesburgo, deu-lhes mais força, entusiasmo e vontade de prosseguirem com esta luta. Uma luta que nem sempre tem sido fácil – algumas das pessoas que integram o movimento permanecem no anonimato pelas possíveis represálias políticas que podiam ter – mas que acreditam que há-de ser constante pela lufada de ar fresco que trazem ao país e porque, com movimentos como este, poder-se-ia alcançar rapidamente os sonhos de toda a Guiné Bissau.
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