Os russos que defendem a liberdade na Internet têm muito trabalho pela frente, se quiserem levar a sua causa do mundo virtual para o físico – as manifestações do dia 28 de Julho contra a chamada “lei anti-pirataria” atraíram apenas algumas centenas de pessoas, entre os milhares que manifestaram a sua oposição “online”.
O RuNet Echo já antes escreveu sobre a sucessiva ingerência nas liberdades na Internet que se vive na Rússia, e sobre o que alguns chamam de censura insinuante. No mês passado, esta tendência parecia ter culminado, com a aprovação no parlamento russo de uma lei essencialmente equivalente à lei SOPA dos EUA [en]. A lei, com entrada em vigor a 1 de Agosto de 2013, permite que qualquer website seja encerrado com base em acusações que aloja ou permite ligações para conteúdo protegido por direitos de autor.
A indústria russa de Internet [ru] respondeu com bloqueios [en], ameaças de greve generalizada na Internet no dia 1 de Agosto, petições e uma série de protestos, marcados para 28 de Julho. No anúncio do protesto podia ler-se [ru]:
Как показывает практика, власти в России редко обращают внимание на бурление в Сети. Гораздо больше их волнуют реальные люди, выходящие на улицы.
Como mostra a prática, o governo russo raramente presta atenção à agitação na Rede. Preocupam-se muito mais com pessoas verdadeiras que marcham nas ruas.
Embora esta seja uma afirmação duvidosa (considerando o enorme “sucesso” dos protestos de rua na Rússia ao longo do ano passado), foram planeadas acções de rua com várias semanas de antecedência, com o apoio do Partido Pirata da Rússia [ru], do RosComFreedom [ru] e da Associação de Utilizadores da Internet [ru], e concretizadas nas áreas metropololitanas de Kazan, Tomsk e Novosibirsk [ru], para além de Moscovo e São Petersburgo. No entanto, não conseguiram atrair as multidões. O protesto/concerto de Moscovo, por exemplo, atraiu apenas “300 a 500″ pessoas [ru], afirmou Peter Rassudov, do Partido Pirata – o que representa apenas metade dos 1105 membros da página VKontakte do protesto [ru].
Sem surpresas, os defensores da liberdade na Internet têm tido mais sucesso nos seus esforços online, mais especificamente com a petição que criaram no website Iniciativa Pública Russa [ru]. A petição [ru], que pretende a revogação da lei considerada injusta, foi até à data assinada por 54 mil pessoas, e diz:
Мы считаем, что данный закон направлен не столько против распространения нелегального контента, сколько против развития Интернета в России, нацелен на его разрушение, а также ущемляет интересы национальной интернет-индустрии и права интернет-общественности.
Acreditamos que esta lei é dirigida não tanto contra a distribuição de conteúdos ilegais, mas contra o desenvolvimento da Internet na Rússia, visando a sua destruição, e prejudica, adicionalmente, os interesses da indústria nacional de Internet e os direitos do público utilizador da Internet.
Embora este número de assinaturas conseguidas em menos de um mês seja uma grande proeza, fica aquém dos 100 mil necessários para que a petição seja analisada e mostra já sinais de debilidade:
Os internautas russos não desistem facilmente, imaginando todas as maneiras de conseguir votos – como uma faixa que todos os websites que participam podem colocar no topo da sua página (desenhada e publicada [ru] por um utilizador anónimo no website de tecnologia Habrahabr). Talvez a “Greve da Internet” de 1 de Agosto (fecho dos sites aderentes) estimule mais alguns utilizadores da Internet a votarem. No entanto, mesmo que a petição atinja os 100 mil votos, a não ser que estes milhares de apoiantes virtuais se convertam em corpos físicos nas ruas e grupos de lóbi no parlamento, é pouco provável que o governo russo se importe.