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Brasil: Uma nação dividida entre protestos e futebol

Categorias: América Latina, Brasil, Governança, Mídia Cidadã, Política, Protesto

Essa postagem é parte de nossa cobertura especial: Revolta do Vinagre no Brasil [1].

Foi mais um dia para vestir a camisa verde e amarelo nas ruas do Brasil, mas por razões bem diferentes.

Para alguns, as cores nacionais eram para torcer para o time da casa. Para outros, as camisas eram para exigir mudanças políticas e sociais e para enfrentar a violência da polícia militar [2].

No mesmo dia em que a seleção brasileira garantiu seu lugar [3] na final da Copa das Confederações, protestos ocorreram em ao menos 18 cidades [4] na quarta-feira, 26 de junho. Do lado de fora do Estádio do Mineirão em Belo Horizonte, onde o Brasil venceu o Uruguai por 2-1, quase 40.000 [5] juntaram-se para um protesto organizado pelo Comitê Popular dos Atingidos pela Copa, o COPAC [6], juntamente [7] com o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra e o Movimento dos Atingidos por Barragens.

Uma pessoa morreu [8] após cair de um viaduto, e a queda de um segundo homem também foi reportada. Pelo menos 25 pessoas foram presas e 25 ficaram feridas. Uma loja de carros foi queimada e uma loja de eletrodomésticos foi saqueada [9].

A mistura de sentimentos da nação pode ser vista no Twitter:

Cerca de 6.000 pessoas se reuniram no Rio de Janeiro para torcer para a seleção nas semi-finais da Copa das Confederações do dia 26 de junho [10]

Cerca de 6.000 pessoas se reuniram no Rio de Janeiro para torcer para a seleção nas semi-finais da Copa das Confederações do dia 26 de junho. Foto de Tomaz Silva, Agência Brasil. (CC BY 3.0 BR)

O meia-atacante brasileiro Lucas Moura (@LucasnaRede_ [11]) escreveu:

@LucasnaRede_ [12]: Bora pra mais uma batalha! #VaiBrasil [13] http://instagram.com/p/bB-MUuIwPB/ [14]

A usuária do Twitter, Nina Pires (@ninapires_ [15]) disse que estava nervosa durante a partida:

@ninapires_ [16]:Que jogo tensooo #vaiBrasil [17] mais um goool, vamos láááá

Mas a situação foi bem descrita pelo usuário do Twitter Luiz Gusttavo Senner (@gusttavosenner [18]):

@gusttavosenner [19]: Enquanto o #Mineirão [20] ferve por dentro as manifestações fervem por fora nas ruas de #BH [21]

Na batalha fora do campo em Belo Horizonte, a manifestação que começou de forma pacífica tornou-se violenta. A declaração do COPAC no Facebook [22] explicando o que aconteceu tem mais de 7.390 likes:

Belo Horizonte Brasil x Uruguai [23]

Gás lacrimogênio atirado pela polícia numa manifestação do lado de fora do Estádio do Mineirão durante a partida entre Brasil e Uruguai em Belo Horizonte. Foto: BH nas Ruas, usado com permissão

MidiaNina #protestobh pic.twitter.com/AkEFHRUbdK [24]

Impedidos de se aproximarem do estádio em Belo Horizonte, manifestantes colocam fogo em veículos importados numa franquia de loja de carros. Foto: Mídia NINJA, publicado com permissão

Impedidos de se aproximarem do estádio em Belo Horizonte, manifestantes colocam fogo em veículos importados numa franquia de loja de carros [25]

Impedidos de se aproximarem do estádio em Belo Horizonte, manifestantes colocam fogo em veículos importados numa franquia de loja de carros. Foto: Mídia NINJA, publicado com permissão

NOTA PÚBLICA DO COPAC: SE QUEREM ACHAR CULPADOS, CULPEM A FIFA!

O Comitê Popular dos Atingidos pela Copa participou ativamente de mais uma marcha em Belo Horizonte pelos direitos do povo, contra as violações e privatização do espaço público em decorrência da realização do megaevento Copa das Confederações FIFA.

A marcha decorreu de forma tranquila e pacífica até a Avenida Abraão Caram, quando um conflito de grandes proporções se instaurou entre manifestantes e polícia militar. Os manifestantes de movimentos sociais e do COPAC fizeram um cordão humano para isolar o acesso à barreira imposta pela FIFA e pelo Governo do Estado, mas algumas pessoas tencionaram a barreira física e a polícia revidou sobre toda a manifestação lançando bombas de “efeito moral”, gás lacrimogêneo e balas de borracha. Consideramos que o fato de as pessoas haverem tencionado a barreira da FIFA se relaciona à revolta da população com a realização de megaeventos de forte caráter privatista e elitista em um país marcado por tantas desigualdades sociais e necessidades prioritárias. Repudiamos, sim, a barreira imposta que é ilegítima, pois cerceia a população dos espaços da cidade em favor da volúpia lucrativa da FIFA e das empresas a ela associadas…..

Um perfil no Twitter sob o nome @meiodabeirada [26] criticou a polícia por não ser capacitada para lidar com o grupo que vandalizou o protesto:

@meiodabeirada [27]: A POLICIA NÃO CONSEGUE GARANTIR A SEGURANÇA, NÃO É? SÃO POUCOS. A MAIORIA SEGUIU PELA ANTONIO CARLOS. #PROTESTOBH [28] pic.twitter.com/PNhUwZtFSo [27]

Por outro lado, o usuário do Twitter Luiz Carlos Garrocho (@lc_garrocho [29]) questionou:

@lc_garrocho [30]: Vandalismo o enfrentamento da barreira? Mas qual o sentido de manifestar tão longe do Estádio? #protestobh [31]

As Cinco Respostas de Dilma

Agência Brasil/CC-3.0

Protestos em Brasília no dia 26 de junho de 2013/ Agência Brasil (CC BY 3.0 BR)

Enquanto isso, em Brasília, o Congresso Nacional tomou algumas decisões importantes. No dia 26 de junho, um projeto de lei que torna a corrupção ativa e passiva um crime hediondo e não afiançável [32] passou no Senado, e vai continuar na Câmara dos Deputados até as mãos da presidente.

No dia anterior, a Câmara dos Deputados rejeitou a proposta da controversa emenda constitucional, já apelidada de “PEC da Impunidade” [33]. Eles também cancelaram [34] o orçamento de 43 milhões de reais que seria alocado para o Ministério das Comunicações para ser gasto em tecnologia para transmissão de vídeo e transporte de dados durante a Copa do Mundo.

No mesmo dia, a Câmara dos Deputados aprovou que 75% dos royalties das petrolíferas de camadas pré-sal [35] devem ser reservados [36] para educação, e 25% para a saúde.

Essa série de medidas impeliu o famoso colunista José Simão (@jose_simao [37]) a fazer a seguinte piada:

@jose_simao [38]: O Congresso tá parecendo viúva tirando atraso de dez anos!

A presidente Dilma Rouseff anunciou [39] reformas em 5 áreas: transporte público, reforma política, saúde, responsabilidade fiscal e educação no dia 24 de junho e está para requisitar um referendo para implementar uma reforma política no país. Para o tópico que iniciou [40] as manifestações nas ruas, transporte público, o governo assinou um pacote de 50 bilhões de reais. Roussef teve uma reunião [41] com os prefeitos de todas as cidades, governadores de estado e os membros do Movimento Passe Livre, a força que organizou os primeiros protestos que mais tarde no mesmo dia tornou-se a Revolta do Vinagre.

Alguns [42] apontaram que o governo rejeitou o fato de a inflação ter retornado ao Brasil.

Fabio Rodrigues Pozzebom/ABr [43]

Manifestantes chutaram 594 bolas de futebol em frente ao Concrego Nacional em Brasília para simbolizar que eles estão passando a bola para os 594 parlamentares. Foto por Fabio Rodrigues Pozzebom em 26 de junho de 2013, Agência Brasil (CC BY 3.0 BR)

Essa postagem é parte da nossa cobertura especial: Revolta do Vinagre no Brasil [1]