Este artigo foi publicado originalmente no blogue do autor, Azadolu [en/tr].
No dia 10 de Abril de 2013, uma hashtag na “twittosfera” turca proclamava #ayagakalk (“levanta-te”). O apelo veio de um pequeno grupo de activistas que tentava preservar o parque existente na Praça Taksim, Parque Gezi, contra o projecto de construção de um centro comercial na zona. Ninguém esperava que este pequeno incidente se viesse a tornar no maior protesto na história republicana do país. Nas palavras do utilizador do Twitter Ezgi Medran [tr], que no dia 10 de Abril tentava recolher assinaturas para o protesto inicial, marcado para 13 de Abril:
@egedenizz Taksim Gezi Parkı'nı kurtarmak için, imzalarınızı bekliyoruz! http://taksimicinayagakalk.com/ #ayagakalk@ayagakalktaksim aracılığıyla
@egedenizz Precisamos das vossas assinaturas para salvar o Parque Taksim Gezi! http://taksimicinayagakalk.com/ #ayagakalk @ayagakalktaksim
Os protestos começaram como festival no dia 13 de Abril. O activista ambiental Barış Gençer Baykan [tr] escreveu:
@yesilgundem Taksim Gezi Parkı'na binlerce kişi sahip çıkıyor
#ayagakalk@ayagakalktaksim pic.twitter.com/X6dek5HvnG
@yesilgundem Milhares estão a proteger o Parque Taksim Gezi
#ayagakalk@ayagakalktaksim pic.twitter.com/X6dek5HvnG
Na altura, não se tinham registado ainda quaisquer confrontos entre as forças de segurança e os manifestantes. No dia 27 de Maio teve lugar outro protesto pelos mesmos motivos. Dessa vez, alguns activistas ocuparam o Parque Gezi para bloquear os trabalhadores da construção. A equipa 140journs [tr] partilhou uma imagem dos activistas com estas palavras:
@140journs Taksim Gezi Parkında dün gece başlatılan yıkım çalışmalarına karşın geceden itibaren nöbet tutuluyor.
#ayagakalkpic.twitter.com/1ZVUpkgxkX
@140journs Existem patrulhas desde ontem à noite no Parque Taksim Gezi apesar das obras de demolição.
#ayagakalk pic.twitter.com/1ZVUpkgxkX
A situação começou a ficar descontrolada depois de dois incidentes que se tornaram virais nas redes sociais. O primeiro foi a imagem de uma manifestante desarmada atacada com gás lacrimogéneo pela polícia, tirada por Osman Orsal, fotógrafo da agência Reuters. Mais tarde, numa operação de madrugada, a polícia incendiou as tendas dos activistas. O incidente ficou registado no YouTube.
A popular hashtag transformou-se em #direngeziparki (“resiste Parque Gezi”) e seguiu-se um crescente apoio aos protestos. O actor turco Memet Ali Alabora estava no parque e foi uma das primeiras celebridades a aderir activamente à resistência. Na sua conta do Twitter [tr], afirmou:
@memetalialabora Mesele sadece Gezi Parkı değil arkadaş, sen hâlâ anlamadın mı? Hadi gel.
#direngeziparkı
@memetalialabora Isto não é apenas sobre o Parque Gezi, meu amigo, ainda não percebes? Vem, vamos embora.
#direngeziparkı
A polícia começou a atacar os manifestantes com gás lacrimogéneo e canhões de água. A quantidade de gás usada foi excessiva. Testemunhas no local relataram que a polícia fazia pontaria aos corpos dos manifestantes quando atirava os cartuchos de gás. No Twitter, o utilizador Alper Orakci [tr] partilhou a quantidade incrível de cartuchos de gás lacrimogéneo na Istiklal Caddesi, a maior rua da Praça Taksim:
@alperorakci Gaz bombasi kapsulleri!!! pic.twitter.com/pEmVk9ZBcY
@alperorakci Cartuchos de gás lacrimogéneo! pic.twitter.com/pEmVk9ZBcY
Osman Orsal, o fotógrafo da Reuters que tirou a fotografia emblemática da manifestante vestida de vermelho, foi ferido por um cartucho de gás. Benjamin Harvey [en], chefe de delegação da agência Bloomberg na Turquia, escreveu:
@BenjaminHarvey Osman Orsal, photographer. This is a photo he took in Istanbul yday: http://bit.ly/11GaGa1 This is him today: pic.twitter.com/8aU1vRZGjX
@BenjaminHarvey Osman Orsal, fotógrafo. Esta é uma das fotografias que tirou ontem em Istambul: http://bit.ly/11GaGa1 Este é ele, hoje: pic.twitter.com/8aU1vRZGjX
Benjamin Harvey [en] exasperou-se com a CNN-Turquia por exibir um documentário sobre pinguins durante os confrontos:
@BenjaminHarvey Seriously, CNN-Turk is airing a show on penguins.
@BenjaminHarvey A sério, a CNN-Turquia está a exibir um programa sobre pinguins.
Os apoiantes do AKP (Partido da Justiça e do Desenvolvimento), o partido do governo na Turquia, culparam os manifestantes pelos confrontos, comentando no Twitter com a hashtag #oyunagelmeturkiyem (“não te deixes enganar, Turquia”). O utilizador Canan Kumas [en] escreveu:
@Canan_Hasret Tayyip has done nothing but help the country grow over the past years and now they want him impeached over a park
#oyunagelmetuerkiyem
@Canan_Hasret Tayyip não tem feito outra coisa senão ajudar o país a crescer nos últimos anos e agora querem destituí-lo por causa de um parque
#oyunagelmetuerkiyem
Refutando comparações entre a Turquia e a Primavera Árabe, outro utilizador, Bunyamin Hakimoglu [en], disse:
@Benj_Kobsch Don't imagine a spring in Turkey. The government is elected with a democratic election. Be aware of the difference!
#OyunaGelmeTürkiyem
@Benj_Kobsch Não imaginem uma Primavera na Turquia. O governo é eleito com uma eleição democrática. Percebam a diferença!
#OyunaGelmeTürkiyem
Por outro lado, também houve algumas críticas entre os seus apoiantes. Por exemplo, Ertugrul Gunay, senador do AKP e ex-ministro da cultura e do turismo, enfureceu-se com as ferozes políticas do seu partido contra os manifestantes:
@ErtugrulGunayFethin yıldönümünde Istanbul'da AVM yapmak için 75yıllık ağaçları kesmeye kalkanlar, ne Fatih Sultan'ı anlamışlar, ne de Yaradan'ın emrini!
@ErtugrulGunay Quem tenta abater árvores de 75 anos no aniversário da conquista de Istambul para construir um centro comercial não pode entender nem o Sultão Fatih nem a ordem de Deus!
Mesmo enquanto os protestos e confrontos continuaram por todo o país, o Primeiro-Ministro Erdogan não parecia disposto a recuar. Na sua conta pessoal do Twitter [tr], afirmou:
@RT_ErdoganMuhalefetin 100 bin kişi topladığı yerde biz 1 milyon kişi toplarız ama bizim böyle bir derdimiz yok.
@RT_Erdogan Onde a oposição junta cem mil pessoas nós podemos reunir um milhão, mas não alinhamos nesse tipo de questões.