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Pastor Malafaia: ciência e homossexualidade

Categorias: Brasil, Ciência, Direitos LGBT, Lei, Mídia Cidadã, Protesto, Religião

Para aqueles que lutam pelos direitos dos homossexuais no Brasil, o maior inimigo tem nome e sobrenome: Silas Malafaia [1]. Este pastor, formado em psicologia, lidera a Igreja Assembleia de Deus Vitória em Cristo [2] e carrega consigo os valores conservadores do casamento entre pessoas do mesmo sexo. Ao mesmo tempo que enfrenta pesada oposição a suas ideias, o pastor conta com um número de seguidores bastante expressivo.

No dia 3 de fevereiro de 2013, Malafaia concedeu, em rede aberta de televisão, entrevista para a jornalista brasileira Marília Gabriela [3]. Na ocasião, comentou sobre temas polêmicos. Defendeu o pagamento de dízimo por parte dos fiéis das instituições evangélicas e repudiou a criminalização da homofobia – prevista no Projeto de Lei Complementar 122 [4] – e o casamento civil igualitário, invocando o artigo 5º da Constituição Brasileira [5], que assegura liberdade de expressão a todos os cidadãos.

Em 12 de fevereiro, no Observatório de Imprensa, Danilo Thomaz fez uma análise da questão [6]. O argumento é que, nas redes sociais a briga é o “equivalente virtual a uma briga na calçada em frente ao boteco”.

A discussão sobre as liberdades públicas e a igualdade de direitos – valores sobre os quais se ampara a questão dos homossexuais – é transformada em uma histeria compartilhada na qual os dois lados, munidos com seus 140 caracteres, se diferenciam no que defendem e se assemelham na forma com que argumentam. Acabam, do mesmo modo, por anular o debate e deslegitimar a questão. Populistas e vigaristas, à direita e à esquerda, de quebra, aproveitam para se promoverem.

Para justificar sua oposição aos gays, Malafaia apelou para a genética. Disse que a opção de ser homossexual é unicamente comportamental e que “não existe gene homossexual”. A polêmica foi instalada nas redes sociais e o assunto chegou aos Trending Topics do Twitter [7]. O blog BHAZ [8] disse que o pastor usou estudos desconhecidos para sustentar seu ponto de vista. O texto do dia 6 de fevereiro descrevia:

Desta vez, o pastor, em meio à sua inflamada argumentação contra a criminalização da homofobia e a legalização do casamento civil igualitário, resolveu apelar para o que ele chama de “ciência”. Seu objetivo, ao lançar mão de argumentos ditos “científicos” era, em suma, afirmar que a homossexualidade na verdade não passa de um comportamento “aprendido ou imposto”, que ninguém nasce homossexual e que, consequentemente, os ativistas LGBT não teriam o direito de lutar para legalizar o casamento civil igualitário ou pedir a criminalização das manifestações de ódio e do preconceito motivados pela orientação sexual e identidade de gênero.

No dia seguinte ao programa da jornalista Marília Gabriela (04/02), a resposta de um geneticista brasileiro, doutorando na Universidade de Cambridge, Eli Vieira, foi gravada no seguinte vídeo:

No dia 16 de fevereiro, Silas Malafaia respondeu, em vídeo, para Eli Vieira, a quem chamou de ‘pseudo-doutor’ em genética:

http://www.youtube.com/watch?v=ot9iaTqixI4 [9]

As reações negativas continuaram. Em 8 de fevereiro, foi criada no site Avaaz.org [10] uma petição que demanda a cassação do registro de psicólogo de Silas Malafaia [11]. O número de assinaturas foi grande. Contudo, simpatizantes do pastor postavam mensagens de apoio no Twitter, pedindo que o documento não fosse assinado. Assim o fez @CASSIANECANTORA [12] em 15 de fevereiro:

Eu ja assinei… Pessoal vamos votar pela NAO cassação do registro de psicólogo do Pr Silas Malafaia acessa o link ai http://www.avaaz.org/po/petition/Pela_NAO_cassacao_do_registro_de_psicologo_do_Sr_Silas_Lima_Malafaia/?wHEFheb … [13]

Pela mesma rede social, Marcelo Arantes (@dr_marcelo [14]) apoiava o ato (13/02):

Já exerceu seu poder de cidadão hoje? Assine esta petição pela cassação do registro de Psicólogo de Silas Malafaia. http://www.avaaz.org/po/petition/Pela_NAO_cassacao_do_registro_de_psicologo_do_Sr_Silas_Lima_Malafaia/?wHEFheb … [13]

De maneira oficial, a Igreja Assembleia de Deus Vitória em Cristo fazia, em sua própria página [15], um recolhimento de nomes para apoiar a não-cassação do registro. Malafaia ainda manifestou vontade de processar o Avaaz.org [16]. O texto do site relatava:

Após polêmica gerada em torno da entrevista do Pr. Silas Malafaia ao programa “De frente com Gabi”, foi criada uma petição pública on-line na tentativa de cassar seu registro de psicólogo. Entretanto, em nenhuma das entrevistas concedidas à imprensa Silas Malafaia se apresenta como psicólogo, e sim como pastor, o que não justifica uma petição que envolva o Conselho Regional de Psicologia.

Maria Berenice Dias, jurista que atua em favor dos direitos da população LGBT, também se manifestou no YouTube, no dia 7 de fevereiro:

O pastor Silas Malafaia também teria comparado homossexuais a bandidos. “Eu amo os homossexuais como amo os bandidos”, pontuou. O blog Pragmatismo Político [17] denunciou a fala, em 5 de fevereiro:

A correlação valorativa entre “homossexuais” e “bandidos” é odiosa. Ela objetiva reforçar o vínculo entre homossexualidade e desvio, sustentando, sorrateiramente, a ideia de que a homossexualidade assim como o fenômeno da delinquência atenta e prejudica a sociedade. Em outros termos, a analogia diz o seguinte: os bandidos existem, são um fato social, mas precisamos mudá-los, puni-los e “ressocializá-los” para que não lesem a sociedade. Sem afirmar diretamente, Malafaia pensa o mesmo sobre os homossexuais; eles são um fato social, existem, mas precisamos corrigi-los para que não lesem à família, os bons costumes, às leis naturais, à palavra de Deus etc.

O líder religioso foi também condenado por usar o termo homossexualismo, pois o correto seria homossexualidade. Apesar disso, Marlus Ápyus [18] condenou a correção, em post no Facebook, no dia 5 de fevereiro:

Antes de mais nada, eu acho que vocês deveriam largar essa bobagem de condenar o uso do termo “homossexualismo” por já ter sido entendido como uma doença. Alguém muito mal informado no passado o usou neste sentido, a OMS corrigiu o erro em 1990 e, sem explicação evidente, duas décadas depois fomos “obrigados” a falar em “homossexualidade”, apenas reforçando um equívoco já reparado. Eu vou continuar falando homossexualismo. Porque comunismo não é doença, porque romantismo não é doença, porque lesbianismo não é doença. E porque homossexualismo jamais deveria ter sido considerado uma.