Brasil: Lançamento da rede sustentabilidade liderada por Marina Silva

No último dia 16 de fevereiro de 2013, o movimento liderado pela ex-Ministra do Ambiente Marina Silva ao longo dos últimos 2 anos foi batizado em Brasília, DF, com o nome de Rede Sustentabilidade.

Cerca de 1700 pessoas, entre apoiadores, fundadores e ideólogos, estiveram presentes no lançamento da Rede que pretende vir a ser reconhecida legalmente como partido político – ainda que sua proposta seja a de não ser um partido nos moldes convencionais. Baseando-se na utilização da Internet como ferramenta fundamental de ação política e centrada na questão da sustentabilidade, o objetivo da Rede é  recolher as 500 mil assinaturas, até setembro de 2013, necessárias para se oficializar como partido.

Brasília - A ex-senadora Marina Silva fala no lançamento de seu novo partido. Foto José Cruz/Agencia Brasil (CC BY 3.0)

Brasília – A ex-senadora Marina Silva fala no lançamento de seu novo partido. Foto José Cruz/Agencia Brasil (CC BY 3.0)

Este movimento foi formado na internet como rescaldo da campanha presidencial de Marina nas redes sociais em 2010. Nas eleições que se seguiram, Marina obteve um total de quase 20 milhões de votos, pelo Partido Verde (PV), o que lhe garantiu o terceiro lugar e provocou a necessidade de um segundo turno, algo que veio como surpresa para o Partido dos Trabalhadores (PT) que acreditava, fielmente, que o pleito seria resolvido já no primeiro turno com a vitória de Dilma Roussef.

A candidatura de Marina Silva à presidência da república para as eleições de 2014 depende da  entrada em funcionamento do novo partido até outubro de 2013 o que, por sua vez, depende não só da coleta das assinaturas, mas também da publicação do estatuto no Diário Oficial da União [o que ocorreu no dia 26 de fevereiro de 2013]  e da aprovação da Justiça. O Manifesto Político divulgado por ocasião do lançamento da Rede da Sustentabilidade é composto por pouco mais de 5 páginas e foi formulado pelos ideólogos e fundadores do partido, entre eles Heloísa Helena, João Paulo Capobianco e Walter Feldman.

Captura de ecrã do website http://brasilemrede.com.br/

Captura de ecrã do website BrasilEmRede.com.br

“Nem situação, nem oposição”

Na Internet, os comentários que se seguiram à notícia foram, em sua maioria, contrários à iniciativa, apontando principalmente para o fato de que o movimento de Marina se declara “nem situação, nem oposição.” Este comentário de Carlos Afonso Quintela da Silva é emblemático desta posição contrária:

[A Rede Sustentabilidade] Irá “pescar” aqui e ali afiliados nas outras legendas. Certamente os insatisfeitos. Ou seja mais uma legenda para reunir os oportunistas e deserdados pelos seus ex-correligionários. Vai ser a cara de tantos outros já existentes.

Percebe-se, entretanto, que após o programa Roda Viva que foi ao ar logo depois, no dia 18 de fevereiro de 2013, no qual Marina Silva teve a oportunidade de esclarecer muitos pontos relativos ao movimento, inclusive a questão de não ser “nem situação, nem oposição”, os comentários na Internet passaram a ser mais equilibrados.

Roberto de Santana Conceição traduz a opinião de boa parcela da audiência que assistiu à entrevista e ficou bem impressionada:

[…] Marina parabéns pela entrevista, já estava decepcionado de ser Brasileiro, de ser gente, acredite, sei do poder das palavras tão usadas pelos grandes líderes políticos e religiosos, mas senti que poso [sic] voltar a votar, espero não me decepcionar.

Mas não se esqueça, vivemos num Pais que a corrupção viro [sic] tradição e a batalha será árdua.

Numa posição contrária à fundação do partido de Marina Silva, Amaro Doce faz a seguinte observação em seu post reproduzido no Blog Luis Nassif Online:

Nada decepciona mais nesse partido da Marina Silva do que a negação da luta política dos mais fracos e da pregação ao conformismo submisso aos mais fortes.

Em seguida, faz menção ao apoio declarado de Maria Alice Setúbal, herdeira e acionista do [Banco] Itaú e de Guilherme Leal (candidato a vice-presidente na chapa de Marina em 2010 e dono e presidente da Natura) ao movimento Rede Sustentabilidade:

É a “utopia sonhática” do Itaú, da Globo, do bilionário neoliberal dono da Natura. É a sustentabilidade reacionária e conservadora. Os bilionários mandam, eles são os “sábios” conselheiros, orientadores e ideólogos de um hipotético governo, cuja REDE Marina se encarregaria de manter conectados os brasileiros, obedientes à ordem dominadora moldada por eles. Todos conformados, igual aos dominados no filme Matrix. Semelhante aos primeiros 502 anos da história do Brasil.

Nesta mesma linha de raciocínio, de negação da luta política e dos ideais socialistas, o comentário de Sonia Maria de Gouveia em Revista Sustentabilidade vem a ser significativo:

O escritor Homero temia as imperfeições da palavra escrita, devemos, então, ter em mente o quão problemáticos são os textos escritos quando analisamos as ideias da ex-senadora e evangélica, de um lado ela tem um forte pé da nas ideais socialistas e favor dos pobres, de outro precisa cativar os jovens e pessoas sem ideologia comuns em nossa época, logo repudia sua formação socialista [em] prol do projeto pessoal de poder. A derrocada do socialismo apenas causou sofrimento ao mundo, no qual vemos a teoria da prosperidade obliterar qualquer preocupação social mais profunda.

Já Reinaldo Azevedo em seu blog veiculado pela Veja relata o seguinte:

Neste [16 de fevereiro de 2013], [Marina Silva] reuniu os “marineiros” para dar largada à criação da legenda que não é nem oposição nem situação, mas “posição”; que não é nem pragmático nem utópico, mas “sonhático”… Estava no melhor da sua forma, e isso quer dizer, então, que ninguém entendeu quase nada do que ela disse, mas todos acharam genial

Entre as frases de Marina em seu discurso de lançamento da Rede, o blogueiro destaca a seguinte:

  Estamos vivendo uma crise civilizatória e não temos o repertório necessário para enfrentá-la.

Para, em seguida, formular uma crítica do seu “caráter obviamente reacionário”:

Quando alguém diz que “vivemos uma crise e não temos repertório”, afirma, de modo oblíquo, que, nas crises passadas, o tal repertório existia. O que parece “progressista” no discurso de Marina é, no fim das contas, regressista. Ela tem saudade de um passado que nunca houve.

Registro Partido Rede, Cartório Venâncio 2000, Brasília DF. Foto de Luiz Alves no Flickr (CC BY-NC-SA 2.0)

Registro Partido Rede, Cartório Venâncio 2000, Brasília DF. Foto de Luiz Alves no Flickr (CC BY-NC-SA 2.0)

Por outro lado, numa posição a favor da constituição de um novo partido, o blogueiro Paulinho afirma:

[A]o contrario de muita gente, que acha um exagero 30 partidos políticos no Brasil, creio que deveria ter pelo menos o triplo, uma vez que nosso país hoje, passa de 200 milhões de habitantes, sendo que 80% deles, são eleitores, portanto não acredito que 30 partidos políticos, representam suficientemente todas as correntes de pensamento no país.

Vale, portanto, ficarmos atentos para o desenrolar das notícias envolvendo a possível consolidação desta Rede em Partido – ainda que a intenção é de não perder sua característica de rede. Haveria chance deste vir a ser um marco para melhor na história da política partidária brasileira?

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