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One Billion Rising: dia global de acção pelo fim da violência contra as mulheres

Categorias: Europa Ocidental, Alemanha, Suíça, Arte e Cultura, Ativismo Digital, Direitos Humanos, Mídia Cidadã, Mulheres e Gênero, Protesto
Captura de ecrã da curta-metragem

Captura de ecrã da curta-metragem “One Billion Rising”, de Eve Ensler

Uma em cada três mulheres será vítima de violação ou maus tratos durante a sua vida. Com uma população mundial de sete mil milhões, isto significa que mil milhões de mulheres e meninas vivem ou são confrontadas com situações de violência diária [N. da T.: equivalente a um bilião em alguns sistemas de numeração]. Mais de 603 milhões de mulheres vivem em países em que a violência doméstica não é considerada crime. De acordo com uma nota de imprensa [1][en] da campanha “UNidos Para Acabar Com a Violência Contra as Mulheres” (“UNiTE to End Violence against Women”), do Secretário-geral das Nações Unidas, Ban Ki-moon, até 70% de todas as mulheres sofrem algum tipo de violência. O comunicado também refere que a probabilidade de uma mulher entre os 15 e os 44 anos ser violada ou vítima de violência doméstica é mais elevada do que a de contrair cancro ou malária, sofrer um acidente de viação ou ser afectada pela guerra.

Logo português do One Billion Rising

Logótipo português do movimento One Billion Rising

Perante estes alarmantes números, o movimento V-Day [2] [en] lançou a campanha internacional One Billion Rising [3] [en] (Um Bilião de Pé). Este movimento, em rápido crescimento, exige o fim da violência contra mulheres e meninas e apela à igualdade de direitos; o objectivo é sensibilizar e chegar ao maior número de pessoas possível.

Assim, no dia 14 de Fevereiro de 2013, mil milhões de pessoas em todo o mundo são chamadas a participar em manifestações. Pelo mundo afora, homens e mulheres vão “manifestar-se, dançar e levantar-se” em espaços públicos e anunciar a sua solidariedade através de muitas outras actividades [4] [en]. “One Billion Rising” é uma campanha que diz respeito a todos. Até ao princípio de Fevereiro tinham sido organizadas mais de 13 mil iniciativas em mais de 190 países, e o número de actividades não parava de aumentar. A blogueira suíça Nathalie Sassine-Hauptmann escreve no seu blogue Clack [5] [de] sobre esta “onda feminista [6]” [de]:

Zurzeit feiern weibliche Proteste grosse Erfolge – zumindest in den Medien. Nach #Aufschrei kommt jetzt der Aufstand. Lokale Aktionen und globale Resonanz zeichnen «One Billion Rising» aus: Um gegen Gewalt an Frauen zu protestieren, werden 190 Länder am «day to rise», dem 14. Februar 2013 an einem gigantischen Flashmob teilnehmen. Niemand ist darüber mehr überrascht als Eve Ensler, Initiantin und Autorin der «Vagina-Monologe». «Es geht über Klassen, soziale Gruppen und Religion hinaus. Es ist wie ein enormer feministischer Tsunami.» berichtete sie dem englischen «Guardian» gerührt.

Actualmente os protestos das mulheres vivem grandes sucessos – pelo menos nos meios de comunicação. Depois do #Aufschrei [grito de revolta, uma popular hashtag contra o sexismo [7] [en], vem o levantamento. Acções locais e resposta global distinguem o “One Billion Rising”. Como protesto contra a violência sobre as mulheres, 190 países vão tomar parte num gigantesco flashmob no dia 14 de Fevereiro de 2012, o “day to rise”. Ninguém está mais surpreendido com isto do que Eve Ensler, impulsionadora do projecto e autora da obra “Os Monólogos da Vagina [8]” [en]. “Está para além do âmbito de classes, grupos sociais e religião. É como um enorme tsunami feminista”, declara ao jornal The Guardian.

Os protestos locais vão desde o primeiro flashmob de sempre em Mogadishu e marchas na ilha escocesa de Bute, até um comício de grandes proporções na Índia, passando por um gigantesco evento de dança no Bangladesh [9] [en].

Mapa das actividades planeadas na Alemanha até ao início de Fevereiro

Mapa das actividades planeadas na Alemanha até ao início do mês de Fevereiro

Só na Alemanha estavam previstas mais de 120 actividades [10] [de], como demonstrações de dança, cadeias humanas, espectáculos teatrais, seminários anti-violência, etc. Na Suíça, a Organização Feminista para a Paz (CFD) [11] [de] e a associação Mulheres Pela Paz ao Redor do Mundo [12] lançaram uma plataforma conjunta [13], em que os organizadores suíços podem trabalhar em rede, trocar ideias e projectos, para a publicação contínua das actividades a acontecer na Suíça. No início de Fevereiro estavam já planeados flashmobs em Basel [14], Bern [15], Zürich [16], Genf [17], Worb [18]Thun [19], Lugano [20], Biel, Lausanne e Gümligen. O movimento é incrivelmente dinâmico, graças à possibilidade de conectar as pessoas através das redes sociais e de permitir que contribuam pessoalmente para esta acção global, através da criatividade e do compromisso individuais.

Mapa das actividades planeadas na Suíça até ao início do mês de Fevereiro

Mapa das actividades planeadas na Suíça até ao início do mês de Fevereiro

Até ao início de Fevereiro existiam já 138 contributos no canal YouTube do V-Day [21], em que homens e mulheres de todo o mundo explicavam porque tinham tomado a decisão de descer às ruas no dia 14 de Fevereiro. A blogueira Helga Hansen [22][de], de Braunschweig, Alemanha, que escreve para a associação feminista alemã Mädchenmannschaft [23] [de], gravou a sua declaração:

Sharon Adler, galardoada com o prémio Mulher do Ano 2012 de Berlim e fundadora do jornal online AVIVA-Berlin [24] [de], também participou nesta acção:

Podem ser vistas mais declarações [25] [de] de homens e mulheres da Alemanha no blogue Die Münchnerin [26] [de]. Luziehfair escreve no blogue de escritores alemães Ausrufern [27] [de]:

Nachdem ich in der letzten Zeit unter anderem Diskussionen um Unwörter des Jahres verfolgen durfte und die aktuelle Sexismusdebatte in den Medien (vermutlich auch an den Stammtischen, aber das ist ja nicht mehr mein Millieu) die skurrilsten Formen annimmt und sich zeitgleich überall auf der Welt Tragödien wie in Indien abspielen, möchte ich mal konstruktiv werden: “Eine von drei Frauen auf diesem Planeten wird im Laufe ihres Lebens geschlagen oder vergewaltigt. Das sind eine Milliarde Frauen, denen Gewalt angetan wird … ein unfassbares Greuel. Am 14. Februar 2013 läd der V-Day eine Milliarde Frauen dazu ein, raus zu gehen, zu tanzen und sich zu erheben, um das Ende dieser Gewalt zu fordern. […] Wir zeigen der Welt unsere kollektive Stärke und unsere globale Solidarität über alle Grenzen hinweg. […]” Das ist der Aufruf der Kampagne One Billion Rising und ich finde, er gehört gehört. Soll Gehör bekommen.

Ultimamente tenho tido oportunidade de acompanhar, entre outras, as discussões sobre as “não-palavras do ano”, e o actual debate sobre sexismo está a assumir nos meios de comunicação (provavelmente também nas conversas de café, embora esse já não seja o meu meio) os contornos mais estranhos, e, ao mesmo tempo, acontecem pelo mundo tragédias como a da [violação na] Índia, e eu quero ser construtiva: “Uma em cada três mulheres deste planeta é agredida ou violada durante a sua vida. São mil milhões de mulheres vítimas de violência… um horror inconcebível. No dia 14 de Fevereiro de 2013, o V-Day convida mil milhões de mulheres a saírem, dançarem e erguerem-se, para exigirem o fim desta violência contra as mulheres. […] Mostramos ao mundo a nossa força colectiva e a nossa solidariedade global para além de todas as fronteiras. […]” Este é o apelo da campanha One Billion Rising e eu penso que deve ser ouvido. Tem de ser ouvido.

Luziehfair também faz referência à apresentação da comovente curta-metragem de Eve Ensler (Atenção: imagens potencialmente chocantes):

Entretanto, o blogue Frauenblog [28] [de] já pensa no que virá a seguir:

Und hier kommt die Frage nach dem Danach ins Spiel. Macht es Sinn, diese Entwicklungen in Gang zu setzen und danach die Aktion zu beenden? Wünschenswert wäre es mit Sicherheit, hier eine Kontinuität anbieten zu können. Doch nicht jeder Event kann auf Dauer angelegt werden, dafür haben wir einfach nicht genug Kapazitäten und Kraftreserven. Aber: Ein solcher „Event“ entsteht ja auch nicht aus dem Nichts, sondern es ist eingebettet in bereits vorhandene Strukturen, die auch am Tag danach noch existieren und ihre gewohnte Arbeit fortsetzen. Sollten sich im Anschluss an One Billion Rising […] Frauen finden, die sich dieser Bewegung anschließen, sei es als regionale V-Day-Gruppe oder als Verstärkung in den bereits existierenden Frauengruppen vor Ort, so wäre dies neben unserem öffentlichen Statement:„Wir sind hier, wir sind überall, wir sind stark, wir sind laut, wir lassen uns nicht mehr zum Schweigen bringen“ ein großartiger Erfolg.

É aqui que surge a questão do que se segue. Fará sentido lançar estes desenvolvimentos, para depois a acção parar? Claro que seria desejável propor uma continuidade, mas nem todos os eventos podem ser mantidos, simplesmente não temos capacidade nem força. Mas um acontecimento destes não surge do nada, está integrado em estruturas que já existem, que continuarão a existir e a desempenhar o seu trabalho nos dias seguintes. Se, através do One Billion Rising […], se encontrassem mulheres que se juntassem a este movimento, num grupo de V-Day regional ou em apoio a uma associação de mulheres local já existente, isto seria um magnífico sucesso a juntar à nossa declaração pública: Estamos aqui, estamos em todo o lado, somos fortes, fazemos barulho, não seremos mais silenciadas.”