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Dezenas de milhares de pessoas afectadas pelas chuvas em Moçambique

Categorias: África Subsaariana, Moçambique, Desastre, Esforços Humanitários, Governança, Meio Ambiente, Mídia Cidadã, Refugiados

Em Moçambique, as chuvas que têm vindo a cair desde o princípio do mês de Janeiro fustigam as populações nas regiões centro e sul do país. Os afectados estão abrigados em seis centros de acolhimento, sendo que a população vulnerável como crianças, mulheres, idosos e doentes correm maior risco. Os distritos mais afectados são os distritos de Chókwè e Guijá e cidade de Xai-Xai, na província de Gaza, sul de Moçambique.

Um artigo publicado no Jornal @Verdade [1] a 23 de Janeiro dá conta de que mais de 55 mil pessoas residentes em áreas consideradas de maior risco foram evacuadas para as áreas seguras. Cerca de 5 mil pessoas foram levadas para o distrito de Chibuto. O número total de pessoas afectadas na província de Gaza é de 65 mil. Contudo, esse número poderá facilmente atingir os 100 mil, uma vez que os níveis de água continuam a subir na capital provincial de Gaza, a cidade costeira de Xai-Xai.

Devido às inundações, foi interrompida a circulação na principal via de comunicação terrestre que liga a região norte e sul do país.

Cheias Chókwè

Cheias em Chókwè. Fotografia do Jornal @Verdade

Um comentário [2] deixado ao artigo por Alexandra Cabral através do Facebook:

Isto é simplesmente assustador. Ajudem esta população, por favor! Uma vez na vida, façam algo sem ser para receber contrapartidas. Mostrem que ainda existe sensibilidade e união no povo moçambicano.

Outro leitor Abel Fumo faz um apelo [3] ao governo moçambicano:

Sabemos que se trata duma situaçao de natureza mas o governo tem que começar a perceber que chegou o momento de redobrar o esforço em ajudas com género alimentício tendo em conta que se trata das mesmas pessoas que vão às urnas para votar.

Porém, ao contrário de outros leitores, um cidadão repórter que não quis ser identificado deixou ficar a sua indignação [4] através do Facebook do Jornal @Verdade [5]:

Mas então não aprendemos nada com as cheias do ano 2000? Estes aquedutos na EN1 [Estrada Nacional número 1] quando foram reabilitados porquê não foram feitos para aguentar nível igual ou superior ao daquelas cheias? Por cada 1USD que se gasta em prevenção poupavam-se 7 USD em emergência!

“Continuam a aumentar as vítimas e os danos causados pelas inundações” 

Até sexta-feira última (25), o Instituto Nacional de Gestão de Calamidades (INGC) [6] havia identificado mais de 70 mil pessoas afectadas directamente pelas enxurradas, das quais 45 perderam a vida, 3.402 casas ficaram destruídas parcialmente, outras 2.231 ficaram totalmente destruídas e 698 habitações estão inundadas.

As enchentes deixaram 92 salas de aulas submersas, o que faz com que 1.346 alunos não estejam a estudar.

A cidade de Xai-Xai, capital provincial de Gaza, sul de Moçambique, alagada. Fotografia do Jornal @Verdade

Vandalismo e pilhagem

Em contacto com o Jornal @Verdade [5], algumas vítimas narram episódios que revelam “uma profunda tristeza em consequência das perdas acumuladas, por um lado, por causa das cheias, por outro, devido ao vandalismo praticado por pessoas, parte das quais tida como esfomeada e que se recusa viver em centros de acomodação”.

Algumas famílias desalojadas pelas cheias causadas pelo aumento do caudal do rio Limpopo, no distrito de Chókwè queixam-se de actos de pilhagem protagonizados por indivíduos de má fé. Os comerciantes afirmam que os malfeitores, alguns munidos de instrumentos contundentes, saquearam os seus armazéns e ainda proferiram ameaças.

Uma das vítimas das cheias no sul de Moçambique, Suleimane Cassamo, residente no 1º bairro, na cidade de Chókwè, declarou [7] que as pessoas organizaram-se em grupos numerosos e invadiram residências e armazéns alheios enquanto os donos procuravam abrigar-se em lugares considerados seguros:

Saqueiaram electrodomésticos e produtos alimentares como arroz, óleo e farinha de milho.

Enquanto isso a sociedade civil também se organiza para prestar apoio às vítimas das enchentes. A organização Makobo [8] iniciou uma campanha de angariação de donativos e começou já nesta segunda feira (28) a distribuí-los às vítimas das cheias:

vamos entregar a CHIAQUELANE, Distrito do Chókwè, as primeiras doações que recebemos. Obrigado a todos pelo apoio, generosidade e solidariedade…Bem hajam. Estamos a contar enviar carregamentos regulares para a Macia e Xai-Xai, dependendo do que conseguirmos recolher nos próximos dias.

Mobilização cidadã em apoio às vítimas das cheias [8]

S.O.S. Chókwè [9]“: Mobilização cidadã em apoio às vítimas das cheias. Imagem de Makobo [10] no Facebook