- Global Voices em Português - https://pt.globalvoices.org -

Nigéria: Blogueiros e twiteiros nigerianos #SalvamOke

Categorias: África Subsaariana, Nigéria, Ativismo Digital, Juventude, Mídia Cidadã, Saúde, Tecnologia

Ighiwoto Okeoghene John é um jovem nigeriano que quase perdeu não só os pés mas a própria vida para a diabetes. Melhor dizendo, #Oke quase “abraçou” os seus antepassados porque a sua condição financeira o impedia de obter cuidados médicos básicos.

A campanha Salvem Oke (#SaveOke) foi iniciada por alguns blogueiros e twiteiros nigerianos – liderados por Linda Ikeji [1] [en] – com o objectivo de salvar a vida de Oke. A ciberdefensoria #SaveOke é mais uma prova do poder ascendente das redes sociais no país mais populoso de África.

Quem é #Oke?

O protagonista desta história pelas suas próprias palavras [2] [en]:

Ighiwoto Okeoghene John (Oke). Imagem cedida por: Lindaikeji.blogspot.co.uk)

Ighiwoto Okeoghene John (Oke). Imagem cedida por: Lindaikeji.blogspot.co.uk

My name is Ighiwoto Okeoghene John. I attended Federal Government College, Warri. Gained admission into Obafemi Awolowo University. Like many young people but unlike most, I could not finish. I was diagnosed with Diabetes 1 and 2. My health started failing. My legs failed me. I had this wound that ate my toes that refused to heal.

Just like many of you, in January 2012, I was angry with the country that didn’t have the best health care services, a country where I had to pay so much for my injections of insulin which I took daily. I was angry I could hardly keep to the diet my doctor gave me because it was expensive. I was angry yet I could not go out to march. I could not even walk. For six years now, my legs have failed me, they cannot move me; I cannot move them. My health is failing me but I keep up all hope that I will be fine.

There are some things you do not choose in life; the family you are born into; the country you are born into; your genes; the sicknesses passed through those genes. I cannot change these. You cannot change this but, there is something you can change. Something you can save; my legs; my life.

I need 5million naira for an operation in India. I need you to get me out of this couch. Truth is the couch is getting tired of me too. The wood from the edge that I use as pillow now pains me in the head, from wear and tear. Truth is my body is getting tired, getting weak. I need to get my life back. I need your help.

O meu nome é Ighiwoto Okeoghene John. Frequentei a Escola do Governo Federal em Warri. Entrei na Universidade Obafemi Awolowo como muitos jovens. Mas, ao contrário da maioria deles, não pude terminar. Fui diagnosticado com diabetes tipo 1 e 2. A minha saúde começou a falhar. As minhas pernas falhavam-me. Tinha uma ferida que me corroía os dedos dos pés e se recusava a sarar.

Tal como muitos de vocês, em Janeiro de 2012 eu estava zangado com o país que não tinha os melhores cuidados de saúde, um país onde tinha de pagar tanto pelas minhas injecções, que levava diariamente. Estava zangado por mal conseguir manter-me na dieta que o meu médico me tinha dado, por ser cara. Estava zangado mas não podia sair para protestar. Nem podia andar. Há já seis anos que as pernas me falham, não me conseguem transportar, eu não as consigo transportar. A minha saúde está a declinar mas eu mantenho todas as esperanças de vir a ficar bom.

Há coisas que não se escolhem na vida: a família em que nascemos; o país em que nascemos; os nossos genes; as doenças transmitidas nesses genes. Eu não posso mudar isso. Vocês não podem mudar isso, mas há uma coisa que podem mudar. Uma coisa que podem salvar: as minhas pernas, a minha vida.

Preciso de 5 milhões de naira [cerca de 30 mil dólares americanos] para uma operação na Índia. Preciso de sair deste sofá. A verdade é que o sofá também já está a ficar farto de mim. A madeira do canto que uso como almofada agora magoa-me o pescoço, do desgaste pelo uso. A verdade é que o meu corpo está a ficar cansado, a ficar fraco. Preciso de ter a minha vida de volta. Preciso da vossa ajuda.

O âmbito da campanha #SaveOke

O blog Omojowa [3] [en] resume:

Oke has been diagnosed with Diabetes type 1 and 2. The wound on his toe has taken his feet. It threatens to take his life. Oke needs your help. Oke needs 5 million naira for an operation in India. Oke needs this money fast.

There are two things that you can do to save Oke: Donate: You can donate any amount to save Oke’s life. 5 million naira is a long way. It would be great if one person gives that. But 5m is just 5,000 people giving N1,000 each. Please try to give a minimum of a N1,000. More is better.

Oke foi diagnosticado com Diabetes Tipo 1 e 2. A ferida no dedo tomou-lhe conta dos pés. Ameaça tomar-lhe a vida. Oke precisa da vossa ajuda. Oke precisa de 5 milhões de naira para uma operação na Índia. Oke precisa desse dinheiro depressa.

Há duas coisas que podem fazer para salvar Oke: Donativos: podem doar qualquer valor para salvar a vida de Oke. 5 milhões de naira é um longo caminho a percorrer. Seria excelente que uma pessoa desse isso. Mas 5 milhões são apenas 5 mil pessoas com um donativo de N1000 [cerca de 6 dólares americanos] cada uma. Por favor tentem fazer um donativo mínimo de N1000. Mais seria melhor.

Como a campanha se tornou viral

As estratégias, expostas pelo blog Fairy GodSisters [4]:

Twitter:

I looked at the amount he needed for surgery, 5 million naira only. Pere! Immediately I thought of the probe going on at the National Assembly, the almighty N850, 000 meal [5], and I knew that either one person wrote it off with a cheque or all of us would gather our pennies together. Either way, 5million naira was doable.

I went on Twitter, and with a ‘warning because of the gory photos’, started asking people to first publicise, and then donate. This is where my first set of thank you’s start. To @KathleenNdongmo, @4eyedmonk, @omojuwa,@MrBankole, @ykprojects
who not only ran with the story but helped out in their own way, may all the help you will ever seek never be more than a message from you!

Olhei para a quantia que ele precisava para a cirurgia, só 5 milhões de naira. Céus! Imediatamente pensei no inquérito a decorrer na Assembleia Nacional, sobre a famigerada refeição de N 850.000 [5] [en], e soube que ou uma pessoa passava um cheque ou todos nós juntávamos os nossos tostões. De qualquer maneira, 5 milhões de naira arranjavam-se.

Fui para o Twitter, e com um “aviso por imagens explícitas”, comecei a pedir às pessoas que divulgassem, primeiro, e depois que fizessem donativos. É aqui que começa o meu primeiro lote de agradecimentos.

A @KathleenNdongmo, @4eyedmonk, @omojuwa,@MrBankole e @ykprojects, que não só agarraram a história mas também ajudaram à sua maneira, que toda a ajuda que alguma vez venham a precisar nunca seja mais que uma mensagem vossa!

@KathleenNdongmo (as if on cue) DM’ed me to get in touch with the CCHub [6] guys. I hadn’t heard of them before that night but apparently they’d successfully spearheaded a campaign to fix the blown off roofs of the Yaba Barracks using a webpage [7]. Sounded great, and is the second rung up the appreciation ladder. I rang Tubosun [8], one of the founders of CCHub past midnight (Nigerian time), and not only was he pleasant, he agreed to help! This was despite the fact that his company was in the middle of a pretty hectic event. A big thank you also goes to Stanley, a developer with the company who was detailed to our cause and was very patient with Oke and I in all the emails we had to exchange.

@KathleenNdongmo (como se fosse a sua deixa) disse-me por DM para eu contactar o pessoal do CCHub [6] [en]. Eu nunca tinha ouvido falar deles, mas aparentemente tinham liderado com sucesso uma campanha para arranjar os telhados das casas do quartel de Yaba, derrubados pelo vento, através de uma página web [7] [en]. Parecia-me muito bem, e é este o segundo degrau na escada dos agradecimentos. Contactei o Tubosun [8], um dos fundadores do CCHub [6], depois da meia-noite (hora nigeriana), e ele não só foi amável, como concordou em ajudar! Isto apesar de a sua empresa estar no meio de um evento bem agitado. Um grande obrigado também para o Stanley, um programador da empresa que foi destacado para a nossa causa e que foi muito paciente comigo e com o Oke em todos os emails que tivemos de trocar.

Artigo no blog:

On Sunday morning I did a blog post on his story, and on Monday a more descriptive one. By this time people in the diaspora were all over us, asking how they could pitch in. God bless you guys!

Domingo de manhã escrevi no blogue sobre a história dele e na segunda-feira escrevi um artigo mais detalhado. Nessa altura as pessoas na diáspora já não nos largavam, perguntando como podiam contribuir. Deus vos abençoe!

Documentário no YouTube

 That same night I thought about making a video to connect us with Oke; not one of the silly ‘£/$3 a day will save 1 million children in Africa’ kind of videos, I just wanted him to tell his story. I got in touch with Onye Ubanatu (because only the best would do), and again, it was closer than further to midnight. After I pitched it to him, he agreed! He was billed to be out of Lagos the entire week but promised to get on it the day after he got back which in my opinion was good because it would provide new momentum for the campaign that week. Thank you Onye! Mwah!

Nessa mesma noite pensei em fazer um vídeo para nos ligarmos ao Oke; não um desses vídeos tolos do tipo “3£/$ por dia vão salvar um milhão de crianças em África”, queria apenas que ele contasse a sua história. Contactei o Onye Ubanatu (porque só me ia contentar com o melhor), e, mais uma vez, era perto da meia-noite. Depois de lhe apresentar a ideia, ele concordou! Iria estar fora de Lagos toda a semana mas prometeu tratar disso no dia a seguir ao seu regresso, o que na minha opinião seria bom porque daria novo ânimo à campanha nessa semana. Obrigada Onye! Chuac!

Envolvendo o Governo (telefonia móvel):

I got a call yesterday (Wednesday) afternoon. Ejiro Gegere (God bless you richly for your tenacity) called to say the Delta State [9] Government got in touch and would cater to Oke. At the time she rang, they’d already gotten him admitted in a hospital on the Island for tests, and as you’re reading this he’s been to Immigration and is back with his passport! They have said they’ll cater to everything, and they’re well on their way to that.

Recebi uma chamada ontem (quarta-feira) à tarde. Ejiro Gegere (que Deus o abençoe abundantemente pela sua tenacidade) ligou para dizer que o Governo do Delta State [9] o tinha contactado e iria cuidar do Oke. Quando ela ligou já tinham conseguido que fosse admitido num hospital na Ilha para análises, e no momento em que estão a ler isto já foi aos Serviços de Imigração e já tem o passaporte! Disseram que iriam tratar de tudo, estão no bom caminho para isso.

#Oke viajou entretanto para a Índia, onde está actualmente a receber tratamento. @KathleenNdongmo [10] confirma:

@KathleenNdongmo [11]: YAY! So glad to see Oke's getting the treatment he needs RT @seunfakze: another picture from #Oke from india #SaveOke http://pic.twitter.com/LZZsnBdh

@KathleenNdongmo [11]: YAY! Estou tão feliz por saber que o Oke está a receber o tratamento de que precisa RT @seunfakze: mais uma imagem de #Oke da Índia #SaveOke http://pic.twitter.com/LZZsnBdh

A moral da história #SaveOke

Emmanuel Udumah em Virality is a Cause [12] [en] propõe três lições a retirar:

Oke in an Indian hospital (Image by @seunfakze, April 11, 2012)

Oke num hospital indiano. Imagem de @seunfakze (11/04/2012)

And it is therefore clear, that seeking to #SaveOke, we are accepting the ease of categorization. Understanding that it is either he’s on his feet again, or not. Grey is not our colour of choice.Recall that Russell and his cohorts became famous by advocating a cause. #SaveOke, too, is a cause. A cause with endearing practicality, and tangible consequences. In this case, we do not have to grope for ethical implications or stumble in the cocoon of debates.

If we retain these questions in our head, and take no action, we lose the opportunity to enjoy the bliss of spontaneity. One of the tools being employed in this cause is social media, which suffices, as KONY 2012 did, for the republic of the webosphere. If this republic can cast aside all doubts, which legitimately exist, and act without thinking, I think we would have saved not just Oke, but ourselves.

E é, portanto, claro que ao procurarmos #SalvarOke, aceitamos a facilidade da categorização. Compreendendo que, ou bem que ele volta a erguer-se de pé, ou não. O cinzento não é aqui a cor preferida. Relembremo-nos que Russell e os seus companheiros ficaram famosos por advogarem uma causa. #SaveOke também é uma causa. Uma causa com uma vertente prática cativante, e consequências tangíveis. Neste caso, não temos de debater-nos com implicações éticas ou tropeçar num ninho de debates.

Se mantivermos estas questões em mente, e não actuarmos, perdemos a oportunidade de aproveitar a felicidade da espontaneidade. Uma das ferramentas usadas nesta causa são as redes sociais, o que é suficiente, como KONY 2012 foi, para a república da webosfera. Se esta república puder afastar todas as dúvidas, que existem legitimamente, e agir sem pensar, penso que podemos ter salvado não apenas o Oke, mas também a nós próprios.

Em Lições da Campanha #SaveOke, [13] o blogue Fairy GodSister sugere quatro categorizações:

Social Media is Powerful 

I’ve never doubted the power of social media (wouldn’t have studied it if I did) but if I did, this campaign would have forever put paid to those doubts. The speed with which the blog posts spread and the amazing functionality called the ‘retweet’.

Nigeria is in Trouble

Oke’s story was just another instance pointing to a problem we (Nigeria) haven’t gotten past. Unfortunately, even in 2012 we are still in the ‘reaction’ rather than ‘proactive’ mode. No one thinks to plan for the future, hell we’re barely getting through today!

Who Sings for the Unsung?

How many people die every day because they have no access to qualitative healthcare? How many ‘trivial’ cases transform into life threatening because they were not nipped in the bud with adequate treatment? Who sings for the unsung?

We are still the World 

Social media has always and will always revolve around people. Social media without human involvement can be compared to a beautiful car without a driver: it is nothing without our input. It is one thing to sit in the comfort of your home and moan every day about everything going wrong with the country, how the government doesn’t care, how we need a ‘paradigm shift (lol), etc. It is a totally different (and more profitable) thing however to do your civic duties, know your leaders (local and national), and then hold them accountable by getting informed, asking them questions, you know the drill.

As redes sociais são poderosas

Nunca duvidei do poder das redes sociais (não as teria estudado se duvidasse) mas se o fizesse, esta campanha teria acabado com as dúvidas. A velocidade com que os artigos no blogue se espalharam e a fantástica funcionalidade chamada “retweet”.

A Nigéria está em sarilhos

A história de Oke foi apenas mais uma situação a assinalar um problema que nós (Nigéria) ainda não ultrapassámos. Infelizmente, mesmo em 2012 ainda estamos em modo “reacção” em vez do modo “proactivo”. Ninguém pensa em planear para o futuro, caramba, mal conseguimos passar o dia de hoje!

Quem fala em nome dos sem voz?

Quantas pessoas morrem todos os dias por não terem acesso a cuidados de saúde de qualidade? Quantos casos “banais” se transformam em letais porque não foram cortados pela raiz com tratamento adequado? Quem fala em nome dos sem voz?

Ainda somos o Mundo

As redes sociais sempre giraram e sempre girarão em torno das pessoas. As redes sociais sem envolvimento humano podem ser comparadas a um belo carro sem condutor: não é nada sem o nosso contributo. Uma coisa é ficar sentado no conforto do lar a resmungar por tudo o que o país tem de errado, que o governo não quer saber, que precisamos de uma “mudança de paradigma” (lol), etc. É, no entanto, outra coisa completamente diferente (e mais proveitosa) cumprirmos os nossos deveres cívicos, conhecermos os nossos líderes (locais e nacionais), e depois responsabilizá-los, mantendo-nos informados, fazendo-lhes perguntas, sabem como é.