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A blogosfera cubana dá as boas vindas ao Novo Ano

Categorias: América Latina, Caribe, Cuba, Ativismo Digital, Mídia Cidadã, Política, Protesto

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O ano 2012, foi marcado pela visita do Papa Bento XVI a Cuba [1], pelo rastro de destruição deixado pelo furacão Sandy [2], pela polêmica questão legal de regulação do uso público de música [3], entre outros eventos, e também deixou uma marca na blogosfera da ilha.

A celebração do Natal em Cuba foi também uma razão para análises em alguns blogues. Em seu artigo  ‘La cultura de la Navidad’ (A Cultura do Natal), Roberto Méndez faz uma compilação [4] de informações históricas sobre a evolução desta tradição na ilha.

Hasta muy avanzados los años 60 del pasado siglo (…) aunque solo una porción de la población fuera auténticamente cristiana, era común celebrar esta época en familia (…) La orientación atea del gobierno a partir de 1961 y, sobre todo, la suspensión de los festejos navideños en torno a la zafra de 1970, convirtió a la Navidad en algo casi clandestino. (…) Con el avance de los años 80, ciertas prohibiciones oficiales fueron relajándose, aunque lo navideño quedaba sumido en el ambiguo terreno de los ‘festejos de fin de año’.

Até o final da década de 60 do século passado (…) mesmo que apenas uma parcela da população fosse genuinamente cristã, era comum celebrar esta época junto com a família (…) A orientação ateísta do governo a partir de 1961 e, sobretudo, a suspensão das festividades de Natal em torno da colheira de 1970, converteu o Natal em algo quase secreto. (…) Com a progressão dos anos 80, certas proibições oficiais foram sendo gradualmente flexibilizadas, embora o Natal tenha surgido no terreno ambíguo das “festividades de final de ano”.

Nesta época, Rosana Berjaga, em seu blogue Yo Me Mi… pero contigo [5], relembra o significado da árvore de Natal para o seu sobrinho de 7 anos.

A Ernesto no le importa la apología a lo extranjero. Mi sobrino no puede entender qué es una tradición importada, qué es un consumo inconsciente, en su cabecita de 6 años no hay espacio para entender que la tradición de la navidad y la de Papá Noel y la de los Reyes Magos, nos fue impuesta por la colonización económica.

Mi sobrino hace apología de una navidad sin nieve porque es el momento del año en que todos juntos, como una familia, armamos el enorme arbolito de mi abuela.

Ernesto não se preocupa com a defesa daquilo que é estrangeiro. Meu sobrinho não consegue entender o que é uma tradição importada, o que é consumo inconsciente, em sua cabecinha de menino de seis anos não há lugar para a compreensão de que a tradição do Natal, do Papai Noel e dos Três Reis Magos foram impostas a nós pela colonização econômica.

Meu sobrinho faz apologia por um Natal sem neve porque é o momento no ano quando nós todos, em família, armamos a enorme árvore de Natal de minha avó.

A cidade cubana de Santiago, a principal cidade afetada na esteira do furacão Sandy, celebrou da mesma forma a chegada do novo ano. No blogue Musilla Traviesa [6], a autora retoma  [7]uma festa que remonta o ano 1900.

Motivos de Navidad en las calles de La Habana, Cuba. (Foto: Cortesía de Jorge Luis Baños)

Símbolo de Natal nas ruas de Havana, Cuba. (Foto: Cortesia de Jorge Luis Baños)

 

Es la fiesta de la Bandera, acto único en todo el país y de su género en el mundo, que se desarrolla ininterrumpidamente desde el 31 de diciembre de 1900. Oportunidad en la que el entonces Alcalde de Santiago de Cuba, Don Emilio Bacardí Moreau izó en el edificio gubernamental una Bandera Cubana justo a las 12:00 de la noche.

Esta fiesta tuvo su origen cuando el señor Ángel Moya conocido por los santiagueros como ‘Chichi’, ‘concibió la idea de regalar a la ciudad la primera bandera cubana que debía ondear oficialmente en el edificio municipal, una vez proclamada la república libre y soberana.’

É o Festival da Bandeira, um ato exclusivo do país e único do tipo no mundo, que tem sido festejado ininterruptamente desde o dia 31 de dezembro de 1900. Momento do então prefeito de Santiago de Cuba, Don Emilio Bacardí Moreau, hastear uma bandeira cubana no prédio do governo exatamente à meia-noite.

Este festival teve origem quando o Senhor Ángel Moya, conhecido pelos santigueros (habitantes de Santiago) como ‘Chichi’, ‘concebeu a ideia de dar à cidade a primeira bandeira cubana a balançar, oficialmente, no prédio do governo, quando a república foi definitivamente proclamada livre e soberana.’

A extensão de acesso à Internet também foi um tópico que definiu a agenda de fim de ano na blogosfera cubana. De acordo com um artigo publicado no diário oficial, Granma [8], o cabo de fibra ótica entre Cuba e Venezuela deveria ter entrado em operação em julho de 2011. Este investimento de 70 milhões de dólares teria [9] “multiplicado a velocidade de transmissão das informações, das imagens e da voz que Cuba possui hoje por volta de 3 mil vezes.” No final de 2012, para Luis Rondón Paz [10], autor do Ciudadano Cero [11], “ainda estamos atolados pela batalha Internet vs Intranet, na qual a  Internet é aquilo que está fora de Cuba e a Intranet, aquilo que está dentro.”

Naquilo que diz respeito à blogosfera, de acordo com Rogelio Díaz [12], “o ano que termina esta segunda-feira, dia 31 de dezembro de 2013, seguindo o calendário ocidental, não foi muito feliz para a inteligência, o debate ou a livre expressão das inevitáveis diferenças existentes entre as visões e aspirações de cada cubano.”

O fechamento de alguns blogues, como La Joven Cuba [13], de posições relacionadas ao governo, agravaram os questionamento de Díaz, que também destaca:

¿Por qué a la juventud, llamada a desempeñar roles protagónicos en todo proceso revolucionario y enaltecida con el llamado guevariano al Hombre Nuevo, le decapitan todo intento de desbordar el rol asignado de obediencia? ¿Qué mensajes clarísimos emiten estos sucesos? Evidentemente, que el horno no está para galleticas; que toda voz fresca, espontánea, que se atreva a poner en juicio las políticas de la burocracia imperante, está en peligro de ser suprimida en el momento en que así se estime conveniente. No habrá tolerancia al debate abierto, al análisis sincero de ideas diversas, ni siquiera dentro del campo de las corrientes que respeten ideales socialistas desde distintos matices. La unidad monolítica y la obediencia a la clase burocrática imperante seguirá siendo el único estandarte aceptable.

Por qual razão se frustra as tentativas da juventude de subverter o papel de obediência a ela atribuída  quando é ela, exatamente, que é convocada a assumir o papel de liderança em todo o processo revolucionário e é ela que está animada com o suposto projeto Guevariano em direção ao Novo Homem? Que mensagens cristalinas são emitidas por estes eventos? É evidente que o “forno não é para os biscoitos”,  que a mais recente e espontânea voz que se atreve a questionar as políticas da burocracia governante está em perigo de ser suprimida no momento em que se considera conveniente. Não haverá tolerância de um debate aberto, de análise sincera de ideias diversas, e nem mesmo no campo dos  plebeus que respeitam as ideias socialistas a partir de diferentes aspectos. Uma unidade monolítica e a obediência à classe burocrática dominante continuará a existir como padrão aceitável.

Entretanto, para o último dia do ano, o blogueiro e jornalista cubano, Luis Sexto recomenda [14]: “Me atrevo a sugerir a você, então, que não rezemos na última noite do ano (…) por um rosário de censuras à vida. E nem pelo que foi perdido, ou pelo iremos perder”.

*Foto da capa de autoria de flippinyank [15], retirada do Flickr [16] sob Licence CC BY-2.0. [17]