A eleição presidencial nos Estados Unidos (EUA) está para acontecer no dia 6 de novembro de 2012 e, à medida que a campanha entra em sua fase final, torna-se claro que o resultado da corrida tem tudo para trazer implicações amplas e duradouras para a orientação futura da política externa do país. Os riscos também são substanciais para os interlocutores da diplomacia dos Estados Unidos, inclusive para aqueles do continente africano, que têm posições críticas no que diz respeito à crise no Mali [en] e a muitas outras questões.
Como resultado, blogueiros africanos têm analisado, cuidadosamente, tanto os enfoques dados à diplomacia africana quanto os planos de ação que os candidatos a presidente dos Estados Unidos colocarão em prática, caso sejam eleitos.
Embora os desacordos em relação à Primavera Árabe [en] terem revelado que Barack Obama e seu desafiante Mitt Romney pretendem assumir posições opostas quanto à estratégia das relações internacionais quando politicamente vantajosas, em geral, na verdade, suas diferenças são muito mais discretas [en].
Uma área sobre a qual eles tendem a concordar é a de intercâmbio comercial. Relatando sobre o discurso de Romney na Clinton Global Initiative [Iniciativa Global de Clinton, em inglês, en], usuários do Twitter observaram:
@AnnieFeighery: trade relations is the foundation of his planned agenda for aid #Romney #CGI2012
@AnnieFeighery: relações comerciais são a base de sua agenda planejada de ajuda #Romney #CGI2012
@MahaRafiAtal: Romney proposes integrating aid & trade: $ will go to nations who strike investment deals w U.S./implement market reforms. #cgi2012
@MahaRafiAtal: Romney propõe integrar ajuda & comércio: $ irá para nações que fechem acordos de investimento com E.U.A./implementem reformas de mercado.#cgi2012
O Presidente Obama apresentou opiniões semelhantes no debate sobre ajuda versus negócios comerciais. Tom Murphy coloca em evidência essas semelhanças [en]:
The shift from aid to trade is one that the Obama administration has stressed through policy and remarks. The June strategy for sub-Saharan Africa included the four pillars for the region: Strengthen democratic institutions; Spur economic growth, trade, and investment; Advance peace and security; and Promote opportunity and development. Romney seemingly echoed the pillars of the Obama administration’s policy by saying that foreign aid should address humanitarian need, foster the strategic interests of the US and use aid to elevate people and provide lasting change.
A mudança em enfoque de ajuda para o comércio é algo a que a administração Obama tem dado ênfase por meio de políticas e declarações. A estratégia de junho para a África Subsariana incluiu os quatro pilares da região: Fortalecer as instituições democráticas; Impulsionar o crescimento econômico, as trocas comerciais e os investimentos; Avançar os esforços de paz e segurança; e Promover oportunidades e desenvolvimento. De forma semelhante, Romney faz eco aos pilares das políticas da administração Obama ao dizer que a ajuda externa deve atender às necessidades humanitárias, fomentar os interesses estratégicos dos Estados Unidos e fazer uso da ajuda para promover pessoas e proporcionar mudança duradoura.
Opiniões de blogueiros africanos
Enquanto isto, blogueiros africanos especulam sobre os desdobramentos da eleição e sobre o que se pode esperar de cada candidato.
Francois-Xavier Ada, da República dos Camarões, reconhece que há muito pouco que separa Obama de Romney. Em seu post ‘The Obama vs Romney Fallacy‘ [en] ele argumenta:
I just couldn’t get past the idea that there is a difference between Obama and Romney’s foreign policies [..] They are not if you ask me. American military presence in the Middle East has not reduced a little; it is the same argument that has been made to justify the USA’s aggressive behavior.
Let’s start with Africa and Africom. A simple question: where is the logic behind training and equipping militaries in a continent that has been and still is ravaged by war? The United States provides intelligence and training to fight militants across the continent, from Mauritania in the west to Somalia.
Eu simplesmente não consigo aceitar a ideia de que haja uma diferença de posição em relação à política externa proposta por Obama e Romney [..] Diria que não há. A presença militar dos americanos no Oriente Médio não foi reduzida em nada; é a mesma argumentação que tem sido usada para justificar o comportamento agressivo dos EUA.
Vamos começar com a África e o Africom [en]. Uma pergunta simples: qual a lógica por trás de oferecer treinamento e equipamento a militares num continente que foi, e ainda está sendo, devastado por guerra? Os Estados Unidos fornecem serviço de inteligência e de treinamento para combater militantes por todo o continente, da Mauritânia à Somália.
George Bamu é o fundador do blog Africa Agenda e é também um camaronês. Em artigo para o Africa Agenda ele lamenta a falta de atenção dada à África, por ambos os candidatos, como questão da política externa. Ele afirma [en]:
While the Obama administration is making efforts to deal with African issues; terrorism in the horn of Africa, food security in Africa, efforts to deal with HIV and AIDS, it is being criticized for not paying much attention to the continent. [..] The administration may, or may not get the opportunity to fully implement its Africa policy, if the election turns out otherwise. As for Mitt Romney, it is not clear what he is up to, on Africa. Right now there is not enough data about possible Africa policy plans that a Romney administration might pursue. While this may not reflect everything in the candidates’ thinking on Africa, they seem concerned about Chinese efforts there, extremism and piracy in Somalia, terrorists in Nigeria and “inept regimes” in Sudan, Zimbabwe and the Democratic Republic of Congo.
Ao mesmo tempo que a administração Obama se esforça para lidar com as questões africanas: o terrorismo no Chifre da África, segurança alimentar, ações para lidar com o HIV/VIH e a SIDA, está também sendo criticada por não prestar muita atenção ao continente. [..] A administração pode, ou não, se valer da oportunidade de implementar plenamente sua política para a África, se a eleição acabar de outra maneira. Quanto a Mitt Romney, não está claro o que ele pretende na África. Neste exato momento, não há dados suficientes sobre possíveis planos de políticas africanas que uma administração Romney pudesse querer implementar. Se isto não reflete tudo sobre a perspectiva do candidato para a África, eles parecem preocupados com as ações chinesas na África, com o extremismo e a pirataria da Somália, os terroristas na Nigéria e os “regimes ineptos” no Sudão, no Zimbábue e na República Democrática do Congo.
Ao escrever sobre os pontos de vista de africanos sobre Mitt Romney, George Bamu acrescenta o seguinte:
But what do Africans know about Mitt Romney, the candidate? In “A South African Take on the U.S Race”, Moeletsi Mbeki, Deputy Chairman, South African Institute of International Affairs, told the U.S Council of Foreign Relations that Africans knew nothing about Mitt Romney until he started running against Obama.
Mas o que os africanos sabem sobre Mitt Romney, o candidato? No “A South African Take on the U.S Race” [Uma Perspectiva Sul-Africana sobre a Corrida nos EUA, em inglês], Moeletsi Mbeki, Vice-Presidente do Instituto Sul-Africano de Relações Internacionais, declarou ao Conselho dos EUA para Relações Exteriores que os africanos não sabiam nada sobre Mitt Romney até o momento que ele iniciou sua campanha contra o Obama.
Farouk Kayondo, editor de notícias da TV e âncora na Empresa de Transmissão de Uganda, oferece suas opiniões sobre a corrida presidencial nos EUA num vídeo da TV2Africa:
Enquanto isto, em Majunga, Madagascar, Vero Andrianarisoa observa que, da mesma forma que os EUA, Madagascar está também se preparando para sua própria eleição presidencial [fr]:
Madagascar est à la veille d'élections. Pour mieux se préparer et pour pouvoir maîtriser les différents procédés dans le domaine, le pays a grandement besoin d'apprendre des autres nations démocratiques afin de pouvoir mieux les organiser.
Madagascar se encontra, também, próxima de suas eleições presidenciais. Para se preparar e melhor monitorar os diferentes procedimentos durante as eleições, o país poderia aprender, com outras democracias, como organizar melhor suas eleições.
Em resumo, nem todo mundo está convencido de que os EUA sejam uma influência positiva para a África. Sébastien Perimony descreveu algumas das desilusões sentidas [fr] no registro das ações de Obama em relação à África durante seu primeiro mandato:
L’espoir qu’avait suscité l’élection de Barack Obama en Afrique a fait pschitt ! Les fantasmes ont disparu et laissent place aujourd’hui à une colère grandissante des populations africaines, qui attendaient un changement de politique. Au lieu de quoi elles se retrouvent envahies par les forces spéciales de l’armée américaine, pour lesquelles le gouvernement dépense des millions de dollars qui auraient dû servir, par exemple, dans la corne de l’Afrique, à une aide alimentaire
Quão rapidamente desapareceram as esperanças despertadas na África pela eleição de Barack Obama! O sonho acabou e abriu caminho para um ressentimento crescente dos africanos que ansiavam por uma mudança de política. No lugar disto, eles se sentem invadidos pelas forças especiais do Exército dos EUA com as quais o governo gastou milhões de dólares. Aqueles mesmos milhões poderiam ter sido usados para reduzir a escassez de alimentos na região do Chifre da África.