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Irã Bloqueia Acesso ao Google e ao Gmail

Categorias: Oriente Médio e Norte da África, Irã, Governança, Liberdade de Expressão, Mídia Cidadã, Política, Protesto, Tecnologia

O regime iraniano tem sido um inimigo da liberdade de expressão há décadas, mas no domingo, 23 de setembro de 2012, ainda conseguiu surpreender muita gente ao anunciar que iriam filtrar o Google e o Gmail durante as horas seguintes.

Um representante do governo iraniano, Abdolsamad Khoramabadi, disse que tal medida se devia [1] [fa] a uma solicitação feita pelo público como forma de se opor a um filme contrário ao Islã exibido no YouTube [2] que muitos julgavam ser uma blasfêmia (o Google é proprietário do YouTube). Khoramabadi é membro importante de uma  “Commissão responsável por definir casos de Conteúdo Criminoso” [3].

Enquanto isto, alguns suspeitam que a verdadeira razão para o bloqueio do Google tem mais a ver com a promoção daquilo que é chamado de “Internet nacional” [4] iraniana que era para [5] ter sido operacionalizada no dia 22 de setembro, mas que, até o momento, ainda não foi lançada.

O Global Voices entrou em contato com vários iranianos de diferentes cidades, incluindo Tehran, Shiraz e Qom. Quase todos disseram que estavam sem acesso ao Gmail. Um punhado deles estão, também, sem possibilidade de acessar o site de busca do Google.

Arash Abadpour [7], um blogueiro e cientista da computação iraniano cuja base é no Canadá  explicou da seguinte maneira a situação para o Global Voices:

Cutting off access to Google Search essentially pushes a significantly larger population towards looking for ways to be able to get around the filtering regime. A result of this process is not necessarily a “better” or “more free” Internet, but, nevertheless, the current course of action is not going to help the Iranian establishment either. They are pushing people towards a more vigilant approach to the Internet. They are telling people “go learn how to use a VPN”, and I foresee that being exactly what is going to happen.

Cercear o acesso ao site de busca do Google basicamente estimula uma população significativamente maior a tentar encontrar outras maneiras de burlar o regime de filtro. O que vem como resultado deste processo pode não ser, necessariamente, uma Internet “melhor” ou “mais livre”, mas nem tampouco o curso de ação atual irá ajudar o governo iraniano. Eles estão levando as pessoas a adotar uma abordagem de mais vigilância à Internet. Estão dizendo às pessoas “aprendam como usar um VPN” e vejo que será exatamente isto o que irá se suceder.

Uma campanha no Facebook foi lançada [6] para clamar por liberdade na Internet e pelo direito de acessar o Google. Uma tira de Mana Neyestani (direita) que mostra o Google sendo filtrado chama a atenção nesta página do Facebook.

Vários netizens iranianos também usaram o Twitter para ironizar sobre o filtro. Behran Tajdin tuitou  [8][fa]:

@Behrang: This “public” who requested Google filtering, did they not have gmail accounts? If they had, what do they use them for?

@Behrang: Este “público” que pediu que o Google fosse filtrado, não seriam donos de contas no gmail? Se eram, para que usavam estas contas?

Saye Roshan tuitou [9] [fa]:

@sayeeeeh: We blocked Gmail and Google, we brought up the rate for the dollar, I doubt we can make  life harder for the USA with these actions.

@sayeeeeh: Bloqueamos o Gmail e o Google, elevamos o câmbio para o dólar, duvido que possamos transformar para pior a vida para os EUA com ações como estas.

Na verdade, a principal vítima desta decisão não é o Google, mas a liberdade dos iranianos. Aparentemente, até mesmo as liberdades virtuais são demais para o regime islâmico.