Este post faz parte da nossa cobertura especial Europa em Crise [1]
Saber-se-á em poucas horas se a manifestação Que se Lixe a Troika, Queremos as Nossas Vidas [2] vai conseguir juntar números há muito não vistos de pessoas nas principais ruas e praças de Portugal. Quando a 7 de Setembro o Primeiro Ministro Pedro Passos Coelho anunciou mais medidas de austeridade [3], parece ter dado motivos a uma massa cada vez mais generalizada da população para que saia às ruas e se manifeste. As medidas têm um impacto cada vez mais visível nos bolsos e contas dos trabalhadores, do público ou privado, ao final do mês.
A poucas horas do início das manifestações, já se tinham ultrapassado largamente os 100.000 cliques nas páginas dos eventos convocados através do Facebook para 36 cidades [4] em Portugal, “um valor muito superior aos 69 mil da página da convocatória da manifestação realizada a 12 de março, que levou quase 300 mil pessoas para a rua”, tinha adiantado [5] a RTP um dia antes. Para além das manifestações que tomarão lugar de Norte a Sul e ilhas no território nacional (mapeado [6] por David Ferreira no Twitter), há também protestos marcados para Barcelona [7], Berlim [8], Bruxelas [9], Londres [10], Paris [11], Estados Unidos e Canadá [12], e até em Fortaleza [13], no Brasil.
No Twitter, as hashtags #QueSeLixeATroika [15] e #15sPT [16] já estão em uso, bem como as habituais #Passos [17], #troika [18] e #crise [19]. A tag #15s [20] está a ser partilhada com os protestos de dimensão ibérica que estão também a tomar lugar no dia 15 de Setembro em Espanha.
Nas redes sociais não têm faltado manifestações de criatividade nos preparativos para a manifestação, como ilustra o P3 na sua galeria de cartazes [21] ou no Tumblr que aponta, Trespassa o Passos [22].
Qualquer cidadão-repórter pode partilhar as suas imagens num recém criado foto-blog que pretende centralizar e disponibilizar fotos dos protestos, O Que Diz a Rua [23], enviando mensagem através do Twitter (@fotosdamanif [24]) ou por email (para o endereço “fotosdamanif” no Sapo.pt ou Gmail.com).
Têm sido partilhados vídeos na conta Youtube da organização da manifestação (queselixeatroika [25]), como o flashmob [26] realizado na véspera do 15 de Setembro, em frente às instalações do FMI. Os vídeos apelam à mobilização [27], ilustram as medidas de austeridade e o estado actual da economia no país, e tentam esclarecer alguns “Mitos e Desmitos da Troika”, como o vídeo que se segue intitulado Destroika [28]:
“Neste momento todas as medidas de Austeridade impostas pelo Governo actual só servem para piorar ainda mais o estado das nossas economias”, acreditam os criadores do vídeo Basta Porra Basta [29], no qual o FMI é apresentado como “um Banco normal [que] quer os seus dividendos, pagos sem apelo nem agravo” e que “[está]-se a marimbar se o povo tem fome ou não”, enquanto que “os nossos Políticos de algibeira que foram criados nos seios da Maçonaria e dos Partidos Políticos, dizem sim a tudo o que esses abutres pedem, e forçam as medidas de Austeridade”.
E defende que “só existem duas maneiras de resolver esta “crise” de uma vez por todas”:
1ª Solução – Pressionar a Europa a criar urgentemente uma confederação de estados Europeus, com uma única legislação e mercado único apoiado directamente pelo BCE e governado a partir de Bruxelas. (…) E Portugal relega-se para uma posição de colônia balnear da Europa e prestador de serviços a nível Europeu, delegando o sector primário aos outros estados Europeus.
2ª Solução – Revolução e Independência da Nação Portuguesa! Todos os políticos e deputados actuais dos partidos do PS/PSD/CDS serão extraditados para um país da CPLP a ser designado. Entramos em incumprimento e saímos da União Europeia, ninguém paga mais um tostão da dívida. Voltamos ao Escudo e irá ser redigida uma nova constituição baseada no mérito e na igualdade de oportunidades entre cidadãos.
Sais à rua?
“O Buraco [30]” das contas públicas (resumido numa tabela publicada no blog Blasfémias) e as medidas tomadas para o tapar, conseguem desagradar uma faixa cada vez mais alargada de cidadãos e cidadãs. Uma carta do escritor e ensaísta Eugénio Lisboa, octogenário, dirigida ao primeiro ministro e reproduzida [31] no blog de Eduardo Pitta, diz:
Falei da velhice porque é o pelouro que, de momento, tenho mais à mão. Mas o sofrimento devastador, que o fundamentalismo ideológico de V. Exa. está desencadear pelo país fora, afecta muito mais do que a fatia dos velhos e reformados. Jovens sem emprego e sem futuro à vista, homens e mulheres de todas as idades e de todos os caminhos da vida — tudo é queimado no altar ideológico onde arde a chama de um dogma cego à fria realidade dos factos e dos resultados.
Resta saber que número sairá de facto às ruas nesta tarde de verão em que os termómetros marcam 30ºC.
Alguns podem deixar-se levar pela típica inacção que João Moreira de Sá (@arcebispo [32]) ridiculariza no Twitter (com menção ao caso de corrupção [33] que envolve a compra de submarinos no valor de 880 milhões):
se eu for para a praia com um cartaz “Abaixo os Submarinos” (que até contém ironia), conta? #15SPT [34]
Outros repetem o manifesto [35] Que Se Lixe a Troika, e dizem procurar “qualquer coisa de extraordinário”:
Se nos querem vergar e forçar a aceitar o desemprego, a precariedade e a desigualdade como modo de vida, responderemos com a força da democracia, da liberdade, da mobilização e da luta. Queremos tomar nas nossas mãos as decisões do presente para construir um futuro.
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