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Brasil: Bicicleta Leva Livros a Moradores de Rua

Categorias: América Latina, Brasil, Arte e Cultura, Educação, Ideias, Literatura, Mídia Cidadã

Se boas idéias ultrapassam fronteiras, esta continua indo e indo de bicicleta. Quer dizer, de Bicicloteca [1], uma bicicleta que transporta uma pequena biblioteca pela cidade de São Paulo, Brasil.

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A Bicicloteca na Praça da Sé, São Paulo. Foto de GreenMobility no Flickr (CC BY-NC 2.0)

O projeto é uma maneira ágil e criativa de incentivar o hábito da leitura, principalmente entre pessoas que moram nas ruas, por ser comum que as bibliotecas exijam registros de identificação civil e comprovantes de residência para permitir o empréstimo de livros, documentos que moradores de rua não possuem. A iniciativa da bicicloteca surgiu especialmente dessa privação e conquistou apoio de paulistanos, meios de comunicação e empresas. Em agosto de 2012, ela completa um ano de difusão do livro e da leitura.

Quem pedala a bicicloteca é Robson Mendonça, 61 anos, um bibliotecário que já foi morador das ruas de São Paulo. A leitura d’A Revolução dos Bichos [3], livro escrito por George Orwell, provocou nele uma mudança de perspectivas, comprovando que a leitura transforma a vida das pessoas. Robson Mendonça mantém o caminho aberto para que outros possam segui-lo, saindo das ruas assim como os vendedores da revista Ocas” [4], da qual já falamos em outro post [5], ou através do Movimento Estadual da População em Situação de rua, que Mendonça lidera e que advoga por uma população de milhares de pessoas sem residência.

O vídeo abaixo mostra a atividade da Bicicloteca em São Paulo:

Essa iniciativa é parte das atividades do Instituto Mobilidade Verde [6], uma ONG sem fins lucrativos que atua na reflexão de meios de transporte alternativos sustentáveis para as cidades. Por e-mail, o presidente da organização, Lincoln Paiva, conta como tudo começou:

A Bicicloteca é um movimento independente que nasceu em diversos lugares do mundo com o objetivo de chegar onde as bibliotecas tradicionais não chegam e da forma mais simples e barata possível. A bicicloteca dos Moradores de rua nasceu depois de um encontro que eu tive com o Robson Mendonça, ex-morador de rua que saiu das ruas depois de ter lido “Revolução dos Bichos”. O instituto doou a primeira bicicloteca e depois vieram outras doadas pela iniciativa privada.

Em um ano, a Bicicloteca realizou mais de 107.000 empréstimos sem nenhuma burocracia e contando com um acervo de mais de 30.000 livros. Atualmente, o Instituto Mobilidade Verde trabalha no monitoramento desse projeto e na sua expansão para outras ONGs interessadas em adotá-lo. A bicicloteca também empresta livros em braille para deficientes visuais, promove saraus em praças públicas, ocupa as ruas com passeios por locais históricos [7].

Logomarca do projeto, publicada no Flickr do GreenMobility sob licença Creative Commons BY-NC 2.0 [8]

Logomarca do projeto, no Flickr de GreenMobility (CC BY-NC 2.0)

Todo esse trabalho tem gerado repercussões positivas, e um dos exemplos do seu reconhecimento foi o fato do Prêmio Cidadão Sustentável [9] indicar o IMV e a iniciativa bicicloteca nas categorias Meio Ambiente e Cultura.

Até mesmo uma adversidade, que poderia ter encerrado o trabalho, revelou o respeito e o afeto de toda a cidade de São Paulo. Em setembro de 2011, a bicicloteca foi roubada, mas a grande repercussão na imprensa local contribuiu para que o equipamento fosse recuperado. Essa adversidade foi transformada em mobilização no Movere [10], uma plataforma online de financiamento coletivo [11]. O vídeo abaixo foi usado para solicitar o apoio de 12 mil reais para a construção de duas biciclotecas:

Continuando a inovar, a bicicloteca também leva internet gratuita [12] por onde passa, utilizando energia solar no empreendimento. E já não atende apenas moradores de rua. Sem nenhum impedimento a bicicloteca democratiza o acesso à informação, entretenimento, cultura, à população em geral, trabalhadores e estudantes.

No Brasil, por onde passa, a bicicloteca leva a mensagem de que um livro pode mudar uma vida. Com esse mesmo pensamento, a organização Bibliothèque Sans Frontières [13] (Bibliotecas Sem Fronteiras, fr), por exemplo, está possibilitando a leitura em situações de risco e necessidade no Haiti, inaugurando bibliotecas móveis para atender a população local. O mundo tem espaço de sobra para toda a inventividade de bibliotecas.