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Angola: Turistas Gastam Milhões em Portugal

Categorias: África Subsaariana, Europa Ocidental, Angola, Portugal, Desenvolvimento, Economia e Negócios, Relações Internacionais

Durante anos Angola viveu na sombra do estado Português, mas actualmente a realidade inverteu-se e é o capital dos turistas angolanos que enche as caixas das lojas de luxo em Portugal. De acordo com o estudo da Visa Europe “Mediterranean Rim Tourism Monitor [1]” [.pdf, en], os turistas angolanos gastaram mais de 87 milhões de euros desde Janeiro até Abril deste ano.

Em 2011, os turistas angolanos gastaram 56.9 milhões de euros, o que significa um acréscimo de 30 milhões de euros em 2012. Contudo, este aumento contrasta com a realidade africana, já que a maior parte do povo vive com menos de 100 euros por mês, como realça [2] o jornalista angolano, Orlando Castro, no seu blogue Alto Hama,

o perfil do povo angolano, que representa 70% da população, é pé descalço, barriga vazia, vive nos bairros de lata, é gerado com fome, nasce com fome e morre pouco depois com… fome.

Contraste entre desenvolvimento e pobreza em Luanda. Foto de mp3ief no Flickr (CC BY-NC-SA 2.0) [3]

Contraste entre desenvolvimento e pobreza em Luanda. Foto de mp3ief no Flickr (CC BY-NC-SA 2.0)

Para o jornalista, os turistas angolanos que gastam dinheiro em Portugal são maioritariamente “homens, de 40 anos, empresários do ramo da construção, ex-militares ou com ligações ao governo”.

Os angolanos, que representam mais de 30% do mercado de luxo português gastam aproximadamente 350 euros em cada peça que compram, reforça o jornalista, Orlando Castro:

É comum uma loja de luxo facturar, numa só venda, entre 50 e 100 mil euros, pagos por transferência bancária ou cartão de crédito.

Os gastos dos turistas angolanos assim como os moçambicanos foram dos que mais aumentaram em Portugal. Angola é já o segundo país que mais compra produtos portugueses.

O estudo, da Visa Europe, revela também que os levantamentos em dinheiro atingiram um total de 220 milhões de euros entre Janeiro e Abril de 2012, “tendo-se verificado um aumento considerável das despesas de visitantes estrangeiros em Portugal em praticamente todos os sectores”.

No início do ano, o Presidente do Parlamento Europeu, Martin Schulz afirmava [4] que a entrada de capitais angolanos contribuiria para o “declínio” de Portugal, dado que o dinheiro proveniente de estados onde a democracia é questionada põe em causa os valores da democracia portuguesa.

Cisco António, no site da Associação Cívica de Cabinda Mpalabanda republicou [5] as palavras de Martin Schulz:

Esse é o futuro de Portugal: o declínio, também um perigo social para as pessoas, se não compreendermos que, economicamente, e sobretudo com o nosso modelo democrático, estável, em conjugação com a nossa estabilidade económica, só teremos hipóteses no quadro da União Europeia

Para o presidente do Parlamento Europeu, Portugal deveria virar-se para a Europa, todavia, a maior parte dos estados europeus estão em crise e para sair desta situação, Portugal tem-se virado para estados onde a democracia é considerada uma “utopia”, como é o caso de Angola e da China.

Publicidade a banco angolano no aeroporto de Lisboa. Foto de Chiva Congelado no Flickr (CC BY-NC-SA 2.0) [6]

Publicidade a banco angolano no aeroporto de Lisboa. Foto de Chiva Congelado no Flickr (CC BY-NC-SA 2.0)

No site Maka Angola o jornalista Rafael Marques de Morais dá conta que [7],

os grandes parceiros económicos de Angola, como a China, Brasil e Portugal têm alimentado, de forma directa, a corrupção, através de concessão de linhas de crédito por petróleo e acordos económicos bilaterais opacos.

Apesar disso, o governo português continua a pedir a colaboração de Angola e tal como comentou, Rafael Marques de Morais,

tais comportamentos asseguram que pouco ou nada se altere em Angola, excepto o dinheiro envolvido que se torna cada vez mais apetecível.

No blogue Pegadas Luís Moreira afirma [8]:

a pouco a pouco o dinheiro angolano vai dominando empresas e sectores económicos em Portugal, desde a banca, à comunicação social, aos sectores agrícolas do azeite e do vinho.

Um artigo [9] publicado em finais de Julho pela Deutsche Welle indica que para o Ministro-adjunto e dos Assuntos Parlamentares português, Miguel Relvas, as relações com Angola são “inseparáveis, daí registar-se um aumento do investimento Angolano em Portugal”. O ministro esteve envolvido no caso do fecho de um programa da rádio pública em Janeiro de 2012, após emissão de uma crónica que criticava o controlo da comunicação social portuguesa por grupos económicos angolanos, conforme o Global Voices reportou [10].

Luís Moreira, no blogue Pegadas, aponta [11]:

o grande problema de aceitarmos como sócios países não democráticos e sem estado de direito é que os novos sócios, rapidamente, olham para o nosso país como olham para o deles. Tudo se compra, não há limites à trafulhice, nem à ganância.

Em Maio de 2011 a Invest Lisboa, parceira da AICEP [12] (Agência para o Investimento e Comércio Externo de Portugal), organizou uma conferência em Luanda destinada a atrair investidores angolanos, um grupo específico de empresários com capacidade e dimensão para investir internacionalmente, e o slogan era ‘Lisboa é a sua capital europeia [13]’ [.pdf].

No blogue, Maka Angola, é referido [14] que

entre o investimento legítimo e o branqueamento de capitais, Portugal contínua a ser o destino preferido dos ricos angolanos e a sua melhor lavandaria financeira.

O site Circulo Angolanos Intelectual ressalva [15]:

O novo-riquismo angolano em todo o seu esplendor, têm muito dinheiro e gastam muito dinheiro, todos viajam muito, por todo o mundo, compram palácios, mansões, não têm mãos a medir dado o seu incomensurável poder aquisitivo. É assim a vida dos mais ricos e mais abastados angolanos, continuam na rota do dinheiro indiferentes a pobreza da maior parte da população angolana. As desigualdades sociais em Angola, Luanda em particular, são enormes, aberrantes e absurdas para um país que ainda não se afirmou e tarda em encontrar-se

Portugal é assim um destino obrigatório para os angolanos com dinheiro que continuam a apostar no país, indiferentes a crise económica que assola o continente Europeu.