Este artigo faz parte da nossa cobertura especial Relações Internacionais e Segurança.
Em novembro de 2011, após ser reeleito, o Presidente de Camarões, Paul Biya, anunciou [fr] que o país em breve se tornaria um grande “canteiro de obras”. A meta do novo mandato é alcançar o status de mercado emergente até 2035 por meio de uma série de “grandes realizações” em desenvolvimento de infraestrutura energética e de transporte [fr]. Muitos especialistas não se convencem [fr] do prazo, a começar pela quantidade de desafios que o projeto apresenta.
A questão da infraestrutura energética, e, mais especificamente, de energia elétrica, é problemática. Assim como diversos outros países africanos, Camarões enfrenta problemas no fornecimento de energia elétrica.
O jornalista Leopold Nséké explica em um artigo publicado na revista Afrique Expansion Magazine:
Underequipped, the African continent is awash in the obsolescence of its facilities and bore the brunt of poor management of available resources. Representing 15% of the world population, Africa consumes paradoxically only 3% of the total world production of electricity.
De acordo com estimativas [fr], apenas 20% da população de Camarões tem acesso ao fornecimento normal de energia elétrica. Em verdade, aqueles que têm acesso ao fornecimento de energia elétrica costumam enfrentar interrupções que chegam a durar até três dias [en]. Além disso, energia elétrica é um produto caro para a maioria dos cidadãos camaroneses. A AES Sonel, por exemplo, uma empresa privada, comunicou recentemente que irá aumentar em 7% a tarifa de energia elétrica [fr] a partir de 1º de junho de 2012.
O acesso limitado à energia elétrica representa uma ameaça à industrialização no país, o que por sua vez poderia comprometer o anseio de se tornar uma economia emergente até 2035. Um estudo [fr] desenvolvido pela Escola Politécnica de Yaoundé definiu, em linhas gerais, que:
Production losses were estimated at EU91.5 million per year in industrial enterprises because of the difficulties in supplying electricity. These results indicate that inadequate and poor quality of electricity supply has slowed industrial development.
Da mesma foma, a instabilidade no fornecimento de energia elétrica está também entre as principais preocupações da população. A Feowl, uma nova iniciativa da comunidade, objetiva melhorar a disponibilização de informações, inexistente no momento, acerca do impacto do fornecimento ineficaz de energia elétrica em Douala, o centro econômico de Camarões.
Considerando que o país depende fundamentalmente da geração de energia hidrelétrica [en], o poder público iniciou a construção da hidrelétrica Lom Pangar, no sudeste de Camarões. O projeto, financiado pelo Banco Mundial e outras organizações internacionais é considerado essencial às aspirações do país que busca se tornar uma economia emergente.
A expectativa é de que a hidrelétrica ofereça um aumento na geração de energia elétrica em Camarões. A barragem, com capacidade programada de 7.250 bilhões de metros cúbicos, cobrirá uma área de 610 km2. Haverá também um reservatório a ser usado durante o período de estiagem, instalado em outras duas barragens no rio Sanaga, tendo por fim possibilitar a geração de mais energia elétrica.
O blog [en] de Christiane Badgley destaca algumas lacunas no projeto. Ela salienta o problema de a geração de energia elétrica priorizar as necessidades do setor da indústria no país:
…the urban and rural poor do not appear to be the primary beneficiaries of the Lom Pangar project. Instead, the dam is designed to regulate the flow of the Sanaga River in order to increase energy production from existing and proposed downstream hydropower plants serving the southern electricity grid and the country’s single largest electricity consumer, the Alucam aluminum smelter. Jointly owned by the government of Cameroon and the Canadian-based company Alcan, Alucam plans to more than double its production and needs new sources of cheap energy to do so.