Pouco após a grande divulgação de fotos das Marchas das Vadias que ocorreram em várias cidades do Brasil nos dias 26 e 27 de maio, surgiram várias denúncias de que fotos de mulheres com os seios à mostra, em sinal de protesto contra o machismo que denunciavam, estavam sendo deletadas pelo Facebook por “violar a declaração de direitos e responsabilidades” para com o serviço online.
Alguns casos tiveram maior publicidade, o da ativista Luka Franca em São Paulo, o do perfil da Marcha das Vadias de Belo Horizonte e o da fotógrafa Ananda Luz na Marcha do Rio de Janeiro, em caso denunciado por sua filha, Tarsila Luz. Esta última escreveu em seu perfil do Facebook:
Galera, a minha mãe Ananda Luz não pode acessar o facebook hoje, está bloqueada porque foi denunciada as fotos que ela fez sobre a marcha das vadias… o engraçado e que retiraram somente fotos que as mulheres com seios de fora estavam em conflito com a polícia. Quem será que denunciou? Será que os mesmos fizeram com outros meios de comunicações? Por que incomoda tanto, nós mulheres, protestarmos? Chega dessa ditadura!!!!!!
É possível comparar as fotos de seu álbum do Facebook com as do Flickr e notar, por exemplo, que uma das fotos – dentre outras – não aparece mais no primeiro. Todas elas com mulheres com seus seios à mostra. Curiosamente, as fotos de homens sem suas camisas não foram censuradas. O caso ainda foi repercutido pela blogueira Conceição Oliveira em seu blog.
O perfil da Marcha das Vadias de Belo Horizonte foi igulamente censurado e protestou. Falando em nome do grupo, a administradora da página no Facebook, Débora, disse que “as ameaças de porrada, os insultos… esses não foram denunciados. Passaram ilesos, comuns e socialmente aceitos que são”:
Mas os peitos… ah, os peitos, afrontosos peitos, que ainda hoje assustam aqueles que cospem nas tetas que mamaram, esses seres de boa índole que querem ‘proteger sua filha de 5 anos da imoralidade do mundo'; aqueles que te asseguram que você ‘deveria ir marchar contra a corrupção'; aqueles que nos culpam de todas as moléstias do mundo; aqueles que afirmam que é por nossa causa que ‘o Brasil não vai pra frente'; aqueles porcos de alma imunda, por viverem na lama, só têm lama a oferecer às vacas profanas, às putas das divinas tetas, às vadias que têm a ousadia, a impáfia, o atrevimento, a infâmia, a imoralidade, a sem-vergonhice de… mostrar os peitos. Ah, os peitos! Polícia, socorro! Padre, me ajude! Há peitos livres lá fora, alguém me ajude, é urgente, eu tenho medo de peitos!!!
Outro caso com ainda mais visibilidade é o da jornalista e ativista Luka Franca, cuja foto em que aparece com os seios à mostra junto à sua filha “foi denunciada como ‘conteúdo inadequado’ e o Facebook concordou com a reclamação, barrando futuras postagens e interações da jornalista com seus amigos”, explica Manu Barem, do blog Jezebel:
Mas aí veio a rebeldia: seus amigos compartilharam a foto centenas de vezes na rede social como forma de contestar a postura adotada pelo Facebook em relação ao ativismo de Luka.
Pedrão Ribeira Nogueira, foi um dos que postou a foto de Luka no Facebook, e acabou sendo censurado também.
A própria ativista escreveu em seu blog:
Para se retirar uma imagem ou publicação do ar é preciso que esta seja denunciada ao Facebook, mas quando se faz isso o próprio site indica que a imagem pode não ser retirada, justamente por causa do código de boa vizinhança que eles estabelecem – só lembrar que eles incluíram no código a questão da amamentação e das obras clássicas com nudez – ou seja, antes qualquer imagem era considerada pornografia, hoje o que não consta na lista de exceções do FB é suspenso e com 3 suspensões você é expulso da rede social, quase um colégio marista…
Ela ainda relembra de um antigo caso de suspensão no Facebook da ativista Kalu, suspensa por postar uma foto amamentando, e também denuncia que a ativista do Ocupa Sampa Paula Lion, suspensa por também postar fotos de mulheres com seios descobertos na Marcha das Vadias de São Paulo.
Sobre o conceito da Marcha das Vadias, a professora e ativista Maíra Kubik Mano comentou:
Dentro desse contexto de afirmação da liberdade e do corpo como um campo de batalha política, algumas manifestantes optaram por sair às ruas com os seios descobertos. Uma provocação, claro, para mostrar que a mulher não deve ser objeto de desejo 24 horas por dia, como querem as propagandas de cerveja.
E completou:
Entendo que a empresa tenha uma política que proteja sua rede, por exemplo, de pedófilos. Mas faltou um bom discernimento para perceber a diferença entre protesto e pornografia.
Todas as fotos censuradas foram consideradas pelo Facebook como contendo “nudez e pornografia“:
O Facebook tem uma política rígida contra o compartilhamento de conteúdo pornográfico e impõe limitações à exibição de nudez. Da mesma forma, desejamos respeitar o direito das pessoas de compartilhar conteúdo de importância pessoal, sejam fotos de uma escultura, como Davi de Michelangelo, ou fotos de família da amamentação de uma criança.
O site de compartilhamento, obviamente, não faz distinção entre nudez “gratuita”, pornografia e ativismo social.
2 comentários
O abuso sexual é praticado muitas vezes por pessoas próximas e conhecidas, da criança ou adolescente, quando não pela própria família (pai, mãe, irmãos) ou mais ampla (tios, primos…).
A grande maioria dos abusos se dão por atos libidinosos (carícias, felação oral, afagos) o que dificulta a obtenção de provas. No entanto, a gravidade as conseqüências não diminui, pois não é a agressão física que define o abuso, mas sim, a violência emocional e social que está contida no ato.
A dificuldade da criança ou do jovem em lidar com a situação, muitas vezes a relação incestuosa não é claramente percebida como tal e sim como manifestação de carinho, aproximação, dificultando uma possível denúncia.
O aspecto que pode contribuir para a omissão da denúncia, está relacionado ao sentimento de culpa que uma eventual participação consentida possa causar.
O abuso é uma experiência devastadora principalmente pelo fato da criança ou adolescente ser colocada num papel de adulto, numa situação enlouquecedora.
Psicoterapeuta e Psicóloga Clínica – Silvia Helena Molina
E daí que ela seja gorda e feia? Antes de agradar aos machos ou a necessidade deles de autoafirmação, os peitos e as bundas das mulheres precisam agradar a elas próprias. E isso a professora explica bem!