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Espanha: Como as Redes Sociais estão Limpando a TV

Categorias: Europa Ocidental, Espanha, Ativismo Digital, Mídia Cidadã, Mídia e Jornalismo, Protesto

O avanço tecnológico nem sempre representa um avanço em nossa qualidade de vida. O caso da programação televisiva espanhola é um claro exemplo da dissociação desses dois elementos. Por muitos anos, conteúdo de baixa qualidade tem sido televisionado na Espanha. A chamada telebasura em espanhol (“telelixo”) tem sido um modelo de negócios bastante rentável, por conta de seu baixo custo de produção e pela grande audiência que conquista. Esses programas trazem grandes quantidades de dinheiro às redes de TV ao televisionar as piores facetas da humanidade, frequentemente flertando com o escandaloso ou com o imoral. Exagera-se assuntos sensacionais em troca de ganhos financeiros, o que levanta sérias questões éticas acerca dos programas, além de colocar em xeque a qualidade e a honestidade do serviço prestado à população pelas informações neles transmitidas. A muitos reality shows e muitos programas de fofoca ou de mesas-redondas dá-se uma roupagem jornalística. Estes são os comentários do Manifesto contra a TV lixo [1] [es], da Plataforma Pela TV de Qualidade:

Bajo una apariencia hipócrita de preocupación y denuncia, los programas de telebasura se regodean con el sufrimiento; con la muestra más sórdida de la condición humana; con la exhibición gratuita de sentimientos y comportamientos íntimos. Desencadenan una dinámica en la que el circense “más difícil todavía” anuncia una espiral sin fin para sorprender al espectador.

Com uma aparência hipócrita de preocupação e denúncia, os programas de telelixo se regozijam com o sofrimento; apresentando amostras do que há de mais sórdido na condição humana; com a exibição gratuita de sentimentos e comportamentos íntimos. Desencadearam um círculo vicioso em que os espetáculos mais chocantes devem continuar para surpreender o telespectador.

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NÃO AO TELELIXO! DESLIGUE-O ANTES QUE ELE O DISCONECTE! Foto de arrakis.es

Mídia Tradicional versus Mídias Sociais

Por outro lado, o telelixo corre sérios riscos graças a uma audiência que tem usado o poder das mídias sociais e das campanhas digitais. Desde 2008, o jornalista e blogueiro Pablo Herreros tem criticado tais programas em seu blog “Comunicação é o nome do jogo” [2] [es], chegando a chamar alguns desses programas de “crime subsidiado” na TV. Alguns programas apresentaram entrevistas com criminosos ou com suas famílias, para falar dos crimes cometidos na TV, em troca de grandes quantidades de dinheiro.

Em outubro de 2011, Pablo Herreros montou uma petição em seu blog, que colheu mais de 33.000 assinaturas, exigindo que anunciantes publicitários punam os programas que praticassem esse tipo de pagamento. Dentre os programas que a petição buscou interromper estava o show La Noria, que havia pago por uma entrevista com a mãe de El Cuco, condenado por matar a jovem Marta del Castillo [3] [es], depois de um caso de grande repercussão. Os anunciantes tomaram conhecimento da petição e, pela primeira vez na televisão espanhola, se retiraram completamente do programa. Há apenas algumas semanas, o programa deixou de ser transmitido.

O blogueiro Pablo Herreros também publicou um vídeo (em espanhol) que mostra o trauma e a dor das famílias das vitimas causadas por esse tipo de entrevista paga:

A luta por uma programação televisiva responsável continua nas redes sociais através das hashtags #NomáscrímenpagadoenTV (Chega de crime pago na TV) e #Otratelevisiónesposible (Outra televisão é possível). O objetivo é que a petição ganhe apoio suficiente para incluir políticos e estações de televisão. Muitos anunciantes já estão cientes do apelo da petição, o que representa uma grande conquista.

Alguns veículos de mídia já apontam para um possível declínio no lixo na TV [4] [es] referindo-se principalmente aos programas que pagam criminosos e aos programas jornalísticos sensacionalistas. A crise dos anúncios na Espanha poderia ser o momento perfeito para se repensar que tipo de TV a sociedade deseja e para trazê-la à tona.

Por outro lado, enquanto é importante confiar em iniciativas populares pela internet e em sua influência, não se pode esquecer que, há quatro dias atrás, o reality show Big Brother alcançou índices de audiência recorde com 1,3 milhão de espectadores na Espanha, mesmo depois de 12 anos no ar.