Este post faz parte da nossa cobertura especial Europa em Crise [1].
Os protestos Blockupy [2], contra “o empobrecimento generalizado e a restrição de direitos democráticos que ocorre na Eurozona, como resultado da crise do sistema global”, abalaram o epicentro financeiro da Europa, Frankfurt, na semana passada.
Na continuação dos dias de acção global a 12 e 15 de Maio de 2012 (12M e 15M), activistas de vários pontos da Europa tinham sido convocados para convergirem em Frankfurt numa manifestação de solidariedade internacional. O objectivo primordial seria eventualmente fazer um bloqueio ao Banco Central Europeu (BCE) e outras instituições cruciais do capitalismo global. No dia 4 de Maio, no entanto, o Departamento de Ordem Pública do Município de Frankfurt anunciou [3] que todas as acções planeadas seriam consideradas ilegais, excepto a marcha marcada para Sábado, 19 de Maio.
Mesmo assim, milhares de activistas decidiram tomar uma posição contra a proibição e reclamar pelo direito previsto na constituição [5] “de [reunir em] assembleias sem armas, sem [necessidade de] registo prévio ou permissão”.
Enquanto que a grande mídia não deu muita atenção aos eventos, as redes sociais online eram inundadas de reportagens feitas pelos cidadãos sobre as mobilizações que decorreram sob presença e repressão policial desproporcionada [6].
No Twitter muitos vídeos [7] e fotos [8] foram partilhados através da hashtag #Blockupy [9]. Pessoas [10] e colectivos de diferentes países, tal como o Occupy Bruxelas e Bélgica [11], transmitiram em directo os protestos, marchas e assembleias, assim como o programa cultural e diversos debates sobre trabalho, ecologia, economia, entre outros.
“Protestar pelo direito de protestar”
O Blockupy começou no mesmo dia em que o Presidente francês recém eleito, Hollande, se encontrava com a Chanceler Merkel [12] [fr] em Berlim, 16 de Maio. Ao mesmo tempo, em Frankfurt, a polícia cumpria a ordem de despejo [13] da acampada “Occupy Frankfurt” com já mais de sete meses em redor do símbolo do Euro [14] perto das instalações do BCE. O blog Critical Legal Thinking (Pensamento Legal Crítico), que fez uma cobertura aprofundada dos quatro dias de protesto, descreveu a cidade em “Estado de Excepção efectivo [5]“.

Polícia intercepta três autocarros de Berlim a caminho de #Frankfurt. Foto de @Blockupy no Twitter.
No feriado do 17 de Maio, enquanto a mídia mainstream apontava os holofotes ao Ministro das Finanças alemão Wolfgang Schäuble [16] – que foi galardoado com o prémio europeu Charlemagne [17] pelo seu papel central na definição das políticas de austeridade principalmente impostas aos países periféricos – autocarros que transportavam activistas de diferentes cidades em direcção à manifestação anti-austeridade no centro de Frankfurt foram impedidos de entrar [18] na cidade e escoltados de regresso à origem pela polícia.
Apesar das tentativas de intimidação, cerca de 2.000 activistas conseguiram ocupar, pelo menos por algumas horas, a praça histórica de Roemerberg onde se encontra a câmara municipal, e símbolo do início da democracia [19] no país.

Manifestantes do Blockupy em acção contra o sistema bancário e financeiro. Foto de Patrick Gerhard Stoesser, copyright Demotix (17 de Maio, 2012).
A praça foi depois bloqueada pela polícia de choque:

Manifestantes sentados e de braços fechados em oposição à presença policial. Foto de Patrick Gerhard Soesser, copyright Demotix (17 de Maio, 2012).
Ao fim do dia, a polícia de choque esvaziou a praça de forma violenta, como ilustram diversos foto repórteres [22] [de]:

Um manifestante a ser detido pela polícia. Foto de Patrick Gerhard Stoesser, copyright Demotix (17 de Maio, 2012).
A detenção de pelo menos 400 protestantes [24] de diferentes nacionalidades despoletou manifestações de solidariedade também fora do país:

Embaixada da Alemanha em Roma. Protesto contra a repressão e detenções em Frankfurt durantes os protestos contra a crise. Cartazes contra o eixo Roma-Berlim, BCE e Merkel. Foto de Simona Granati, copyright Demotix (18 de Maio, 2012).
Uma reportagem vídeo [26] pelo utilizador de Youtube sydansalama1, da Finlândia, com entrevistas legendadas em inglês, resume alguns dos acontecimentos do dia:
Tinha sido recomendado aos funcionários de bancos sediados no distrito financeiro de Frankfurt que tirassem folga na sexta feira, 18 de Maio [27], ou que trabalhassem a partir de casa de forma a evitarem entrar na cidade, já que era o dia em que estava programado o bloqueio. No entanto, como Jerome Ross da Roar Magazine escreveu [28] na noite anterior, a cidade de “Frankfurt [tinha já sido] bloqueada com mais de 5.000 polícias mobilizados numa operação sem igual, para manterem os manifestantes fora da cidade e longe dos bancos”:
as the activists here prepare to physically block the headquarters of the European Central Bank [29], the police already seems to have done the job for them.
Nesse dia, os noticiários reportavam sobre a contratação da Goldman Sachs pelo governo espanhol [31] para a availação do Bankia, absorvido pelo Estado no início de Maio [32]. Também corriam boatos sobre um referendo na Grécia [33] dedicado à sua continuação na Eurozona. Em Frankfurt, liam-se em faixas mensagens de apoio aos países europeus do sul (como “We are all Greeks [34]“, Somos Todos Gregos), e a cidade continuava “afectada pela presença policial massiva, pelas identificações, e pelas ruas bloqueadas [35]“.
Quando finalmente chegou o dia da marcha autorizada, 19 de Maio [36], cerca de 20.000 manifestantes (números da polícia, a organização indica mais de 25.000) percorreram o centro da cidade. [37]

Manifestação Blockupy em Frankfurt. Uma grande faixa transportada pelos manifestantes diz: “Resistência Internacional Contra a Austeridade Imposta pela Troika e Governos”. Foto de Michele Lapini copyright Demotix (19 de Maio, 2012).

Blockupy em Frankfurt: Mais de 20.000 contra a política da crise financeira. Participantes internacionais na manifestação. Foto de Patrick Gerhard Stoesser copyright Demotix (19 de Maio, 2012).
John Halloway, a escrever para o Guardian, considerou que o Blockupy trouxe “um vislumbre de esperança em tempos de austeridade [41]” e que abriu uma nova fase de “explosões de raiva criativa que se seguirão”. O analista de política internacional Vinay Gupta, finaliza [42]:
Those people in the streets rioting, the protesting classes, are fighting not for internal political change within their own countries, but (whether they know it or not) for a re-arrangement of the political balance of an entire continent.
Este post faz parte da nossa cobertura especial Europa em Crise [1].