‘O Choque de Civilizações’ Representado em Vídeo Equivocado da Comissão Européia

Um vídeo que parodia o filme Kill Bill e se baseia no tema do “conflito entre civilizações” foi feito pela Comissão Européia (EU, na sigla em inglês) para promover a Comissão Européia junto a jovens adultos. No entanto, o vídeo foi retirado do ar no dia 6 de março de 2012, depois de ter circulado on-line e de ter sido alvo viral de acusações de racismo.

A retirada do vídeo de circulação não impediu que a controvérsia inflamasse os ânimos nos blogues e redes sociais. Enquanto escrevia este texto, o videoclipe ainda encontrava-se disponível no Daily Motion [fr] e no YouTube:

O site de notícias 24heures.ch [fr] descreve o cenário do vídeo em detalhe:

Une jeune femme blanche de peau dans une combinaison qui fait penser à celle d’Uma Turman dans le film Kill Bill de Tarantino, fait face à chaque adversaire mâle arrivant dans l’entrepôt où elle se trouve. L’un est visiblement originaire d’Asie, l’autre d’Inde et le dernier, du Brésil. L’Europe face aux puissances émergentes? Leur attitude est agressive quand la jeune femme ferme les yeux et se dédouble plusieurs fois pour former un cercle autour des combattants, tout à coup doux comme des agneaux.

La symbolique lourdingue du clip se termine par un slogan affirmant: «Plus nous serons nombreux, plus nous serons forts». Juste avant, le cercle de femmes vu d’en haut s’est transformé en un drapeau étoilé de l’UE.

Uma jovem caucasiana numa vestimenta de cor amarelo brilhante semelhante àquela de Uma Thurman do filme de Quentin Tarantino, Kill Bill, enfrenta cada adversário masculino que entra o armazém onde se encontra. Um homem é, claramente, de origem oriental, um outro parece ser árabe ou indiano e o último parece ser um praticante de kickboxing com dreads. Seria a representação dos poderes emergentes opostos à Europa?  A linguagem corporal dos homens é agressiva até o momento em que a jovem fecha os olhos e se multiplica em várias, criando um círculo ao redor dos lutadores que imediatamente se tornam dóceis como carneirinhos.  O simbolismo desajeitado do vídeo finaliza com um slogan que declara: “Quanto mais numerosos somos, mais fortes nos tornamos”. Logo antes desta afirmação, o círculo de mulheres visto de cima se transforma na bandeira de estrelas da União Européia.

O site traz o seguinte comentário:

L’incroyable de cette histoire, c’est qu’il y a eu probablement plusieurs hauts-fonctionnaires bruxellois qui n’ont simplement rien vu d’offensant dans ces images. En ligne hier sur quelques sites d’information, ce clip-vidéo a été retiré en début d’après-midi et la campagne annulée.

O incrível desta história é que provavelmente os muitos funcionários graduados em Bruxelas  simplesmente não viram nenhuma ofensa nestas imagens.  Este vídeo ficou disponível on-line ontem em vários sítios de notícias, mas foi retirado no início da tarde e a campanha foi cancelada.

A página do Facebook [fr] do Parti des Indigènes de la République cita um artigo do Regards.fr [fr], a publicação “mensal anti-capitalista”:

Ce stupéfiant petit film, bourré de stéréotypes racistes et essentialistes a été pensé, réalisé puis mis en ligne le vendredi 2 mars par les communicants de la délégation générale de l’élargissement de l’Union européenne de la Commission de Bruxelles. Face au tollé soulevé, il en a été retiré le mardi suivant, 6 mars. Le temps de faire un petit buzz sur Internet mais sans que la presse, en tout cas française, n’en fasse vraiment ses choux gras.

Este surpreendente pequeno filme, cheio de estereótipos racistas e personagens previsíveis, foi concebido, criado e depois colocado na web na sexta-feira, 2 de março, por representantes da delegação da Comissão Européia para a Ampliação da União Européia. Em vista da indignação pública crescente, foi retirado na terça-feira seguinte, dia 6 de março. Tempo o suficiente para criar uma onda de comentários na Internet, mas sem que a imprensa francesa, de qualquer jeito, conseguir tirar o melhor proveito disto.

Na outra ponta do espectro político a interpretação é diferente.  Jean-Patrick Grumberg, em nome do dreuz.info [fr] afirma:

Je trouve cette vidéo mensongère, mais pas raciste. Mensongère car je ne vois pas ce que l’Europe fait pour se protéger de l’invasion islamiste, mais je vois, au contraire, ce qu’elle fait pour la favoriser. Je ne vois pas ce que l’Europe fait pour se protéger contre l’immigration d’Africains, mais je vois ce qu’elle fait pour la favoriser, et je ne vois pas en quoi la Chine, que les dirigeants Européens ne cessent d’appeler au secours pour renflouer leurs caisses, représente un danger.

Acho este vídeo desonesto, mas não racista. Desonesto porque não vejo o que a Europa esteja fazendo para se proteger contra a invasão islâmica. Pelo contrário, vejo o que a Europa está fazendo para encorajar esta invasão. Não vejo o que a Europa esteja fazendo para se proteger contra a imigração africana, mas vejo o que está fazendo para encorajá-la, e não vejo de que maneira a China, a qual os líderes europeus incessantemente buscam para ajuda, possa representar um perigo.
A still from the offending European Commission video

Uma tomada do vídeo ofensivo da Comissão Européia

No Twitter as reações são as mais variadas e,  frequentemente, apaixonadas:

@LauraLardy: L'UE fait la promotion de la guerre des civilisations et du racisme…

@LauraLardy: Os Estados Unidos estão promovendo uma guerra de civilizações e racismo…

@sergiomarx: La video de la Commission est-elle vraiment raciste ? Ou est-ce que le racisme ne serait pas plutôt dans l'oeil du spectateur ?

@sergiomarx: Seria o vídeo da Comissão Européia de fato racista? Ou não estaria o racismo, na verdade, nos olhos do espectador?

Será que este caso não se tornaria um exemplo clássico para os estagiários da Comissão Européia? O blogue Décrypter la communication européenne [fr] explica os pontos chaves deste “conflito de interpretação” ao mesmo tempo que lista os artigos na imprensa que cobrem esta história:

Le communiqué officiel signé par le Directeur général de la DG Élargissement justifie la diffusion de la vidéo en expliquant que la cible a laquelle la vidéo était destinée avait réagi positivement lors des tests de pré-lancement :
C’était un clip viral, ciblant à travers les réseaux sociaux, un public jeune (16-24) qui comprend l’intrigue et les thèmes des films d’arts martiaux et de jeux vidéo. Les réactions de ces publics ciblés ont en effet été positives, tout comme celles des focus groupes sur lesquels le concept avait été testé.

A comunicação oficial assinada pela Diretoria Geral para Ampliação justifica a distribuição do vídeo ao mesmo tempo que explica que o público alvo para este vídeo havia reagido positivamente durante as exibições-testes na fase de pré-lançamento:

“It was a viral clip targeting, through social networks and new media, a young audience (16-24) who understand the plots and themes of martial arts films and video games. The reactions of these target audiences to the clip have in fact been positive, as had those of the focus groups on whom the concept had been tested.”

“Foi um clip viral que se dirigia a uma plateia jovem (16-24), por meio das redes sociais e da nova mídia, capaz de compreender as tramas e os temas de filmes e jogos virtuais referentes às artes marciais. As reações ao vídeo dessas plateias-alvo foram na verdade positivas, assim como haviam sido as dos grupos focais em quem o conceito havia sido testado.”

A conclusão do blogue concorda com as opiniões da maioria dos usuários da Internet [fr]:

Quoique la Commission européenne ait reconnu qu’il y avait un problème avec la vidéo controversée en choisissant de la retirer ; la divergence d’interprétation avec les médias sur la raison du retrait montre que la Commission reste sourde à l’accusation d’absence de clairvoyance quant à la potentielle lecture raciste de la vidéo.

A Comissão Européia reconhece que houve um problema com este vídeo controverso e daí a decisão de retirá-lo do ar. No entanto, as diferentes interpretações feitas pelos meios de comunicação sobre a razão da retirada do vídeo é prova de que a Comissão está  tendo ouvidos moucos para denúncias de falta de capacidade de prever o potencial para uma interpretação racista.

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