‘Sito Badia’ – ‘Avó Badia’ em árabe, como seus netos gostam de chamá-la – nasceu na cidade de Hwash [en], oeste da Síria, no estado do Homs. Ela imigrou ao Brasil com sua família há 80 anos, quando tinha apenas 13 anos de idade. A história de sua vida recorda os primeiros dias dos imigrantes árabes no Brasil e na América latina.
Em 1932, o pai de Badia, Habib, decidiu residir no Brasil depois que os seus dois irmão mais velhos se mudaram para São Carlos, no estado de São Paulo:
Meu avô Farah estava na Argentina com meus tios, com idade de 10 e 12 anos. Quando ele soube que seu irmão havia se estabelecido em São Carlos, Brasil, ele decidiu deixar os meninos com ele e voltou para a Síria, onde viveu até sua morte. Meu pai veio sozinho ao Brasil para ver seus irmãos mais velhos; ele ficou um ano e voltou à Síria. Ele comparou a vida no Brasil com a vida na Síria e decidiu estabelecer-se no Brasil, pedindo que nos juntássemos a ele. Eu estava com minha mãe e meus dois irmãos mais novos, Michael, 11 anos, e Adib, 9. Quando deixamos o porto de Beirute, no Líbano, rumo ao Porto de Santos, foram 40 dias de viagem de cruzeiro ao Brasil. Eu me senti enjoo no mar; paramos em Gênova, Itália, onde me lembro do cemitério, e ficamos cinco dias dentro do navio em Marselha, França.
Todos os primos estavam esperando a família em São Carlos, onde o pai de Sito Badia alugara uma casa. Ela ajudou sua mãe a cuidar dos dois irmãos e não freqüentou a escola (ela não sabe escrever), mas tem memória de antigas músicas, como عتابا ودلعونا (Ataba e Delona) e a Dabke da Síria, que ela cantava para sua mãe:
لابدا شعيطة ولابدا بعيطة، الأمر المقدر ياأمي لبسنا البرنيطة. من مدة سبع سنين كنا فلاحين، واليوم مرتاحين بلبس البرنيطة
A maioria dos Sírios que imigraram para o Brasil tem histórias parecidas – moraram com os primos e abriram seus próprios negócios. Conforme estatísticas de 1962, 9% dos donos de indústrias em São Paulo [.pdf] eram sírios e libaneses.
Meu pai começou a vender roupas e abriu uma loja depois em Descalvado, onde Michael Shamas, um libanês, ajudou a nós e ao meu irmão Badi. Depois de alguns anos, um amigo falou para ele sobre uma cidade nova que estava sendo construída, Novo Horizonte. Eu casei com Mossa, nosso primo sírio, quando eu tinha 28 anos de idade.
Sito Badia tem quatro filhas, oito netos e em dois meses vai chegar o primeiro bisneto, Gabriel. Com as famílias dos seus irmãos e primos, juntam-se até 90 pessoas. Cada Natal é uma festa para apresentar os jovens ramos da árvore genealógica e nutrir as relações com as suas raízes árabes.
Sito Badia ainda mantém uma forte relação com a família no Brasil e na Síria através de suas filhas: Maria, Najat, Marta e Esmeralda (já falecida); graças a ela que a língua árabe sobreviveu na família:
Só eu, meu irmão Michael e meus primos Elias e Jamile somos os sírios que ainda falam árabe na família. A família só sabe nomes de comida em árabe [risos]. Visitei a Síria três vezes, mas está mais difícil agora para viajar. Falamos ao telefone todo Natal e Páscoa. Em 2009 foi a última vez que Marta e Najat visitaram a Síria, e a minha primeira neta se casou com um sírio.
Badia agora vive em Novo Horizonte, São Paulo, onde planeja, daqui a sete anos, comemorar seu 100º aniversário.
1 comentário
oi gostei muito do texto ou seja da historia