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Moçambique: O Mural do Povo de Maputo

Categorias: África Subsaariana, Moçambique, Educação, Ideias, Liberdade de Expressão, Mídia Cidadã, Mídia e Jornalismo, Política, Protesto

Ao mesmo tempo que cada vez mais vemos o avanço de novas tecnologias que facilitam a comunicação e a informação, como smartphones, tablets, Twitter e Facebook, em Maputo [1], capital de Moçambique, surge o Mural do Povo: uma extensa parede da parte de fora do Jornal@Verdade [2], onde a população pode escrever cartas e dirigir reflexões aos seus governantes.

Trata-se de uma forma original de comunicação, cuja eficácia e alcance residem na sua própria simplicidade. De certa forma, representa um autêntico “Mural Offline do Facebook”, como diria sua idealizadora [3] [en], no blog Menina do Javali:

The idea of the Wall was to create a permanent and offline space for readers to read (simple) and to comment (simple).

A ideia do Mural era a de criar um espaço permanente e offline para leitores lerem (simples) e comentarem (simples).

Assim, basta um pedaço de giz para que qualquer cidadão possa manifestar suas queixas de maneira pública e aberta, sejam elas referentes a educação, saúde, segurança, ou a qualquer outra reivindicação para com as políticas públicas e os dirigentes. Desse modo, há uma maior democratização do direito de cobrança e de exigência por parte dos cidadãos.

Mural do Povo - Maputo [3]

Mural do Povo – Maputo. Foto do blog Menina do Javali (usada com permissão)

A inspiração surgiu do projeto “Before I Die” [4] (Antes de eu morrer) [en], de Candy Chang, iniciado em Nova Orleães (E.U.A) que já alcançou respaldo internacional, sendo implementado em várias cidades do mundo. Trata-se, basicamente, da transformação de uma parede em um imenso mural com várias inscrições “Before I die_____” que seriam completadas voluntariamente pelas pessoas que, assim, dividiriam seus sonhos e esperanças em um local público.

O Mural do Povo de Maputo, oficialmente lançado a 20 de janeiro, já está acessível virtualmente: é possível acompanhar, pela internet, grande parte dos recados escritos por meio da seção Cidadão Repórter [5] do site do jornal. Além disso, os incidentes relatados são classificados e organizados de acordo com seu local e data, formando, assim, um banco de dados rico para enventuais consultas.

Um dos tópicos frequentemente relatados através da plataforma Cidadão Repórter é a corrupção [6] policial. No Mural do Povo, um cidadão dirige a sua mensagem [7] às autoridades:

Polícia de transito, parem com a corrupcao. Assim, o nosso país ira desenvolver. Como vamos progredir se tiram-nos o pouco que ganhamos no suor do dia a dia.

Mural do Povo [3]

Mural do Povo. Foto do blog Menina do Javali

Muitos manifestam também preocupações relacionadas com a educação, tais como a imposição recente de descontos nos salários dos professores [8] para a preparação de um congresso [9] do partido no poder (FRELIMO), as condições em que as crianças frequentam as aulas [10], ou a falta de livros nas escolas [11]:

Disse o magnanimo 1o Presidente da Republica que: Façamos da escola um lugar para o povo tomar o poder, mas se formos a reparar, meus caros senhores, hoje em dia o poder e que esta a tomar o povo, vejamos uma coisa extremamente importante quando falamos concretamente da educação em todas as escolas secundárias do país nao temos os livros do novo curriculum nas nossas bibliotecas, e com tudo isso os futuros deste pais ficam sem foco e sem saber o que estes escritores falam acerca do mundo. Queremos os livros do novo curriculom nas nossas bibliotecas (Escola Secundaria da Polana)

O Mural do Povo em Maputo é uma iniciativa de mídia cidadã que merece sua devida atenção; ela alia a própria prática da cidadania democrática com a informação pública e com uma melhor relação entre os indivíduos, o local onde vivem e a comunidade como um todo. Quem sabe ele não se internacionalize tanto quanto seus inspirador?