Este artigo é parte de nossa cobertura da Revolução na Síria em 2011 [en]
Desde meados de março, quando os protestos – que começaram na Tunísia e Egito – chegaram à Síria, o número de mortes cresceu aos milhares enquanto dezenas de milhares foram presos ou desapareceram. Ativistas sírios enfrentaram violência sem precedentes e uma guerra de informações onde o objetivo é a supressão de qualquer forma de oposição.
Porém, o conteúdo compartilhado pelos cidadãos têm inundado a Internet e conseguiu quebrar a parede da mídia controlada pelo Estado. Este post oferece uma seleção do material enviado pelos internautas, que retrata a luta do povo sírio pela liberdade e dignidade ao fim de quatro décadas de silêncio.
O silêncio contra as vozes do povo
Décadas de controle das notícias e da mídia na Síria ajudaram o regime a reprimir a voz de seus cidadãos, mantendo a legitimidade internacional. O governo sírio detém o mercado de telecomunicações local, o mais controlado na região [en], enquanto jornalistas estrangeiros são impedidos de entrar no país. Esta imagem mostra os manifestantes com fita adesiva na boca para enviar uma forte mensagem da “cidade de Kafar Nabl ocupada”:
Do que você tem medo?
Nos últimos meses, sírios lutaram contra o regime de 41 anos de medo. Este vídeo difundido na Internet mostra um jovem conversando com outro, listando as razões que o fazem sentir medo e por que ele não deve temer nada. Termina o vídeo dizendo: “o silêncio é a arma mais poderosa”. [legenda em espanhol]
Para colocar os “pingos nos Is“, Samar Dahmash Jarah escreveu no Twitter:
The thought that I can switch on TV and see Syrians chanting Freedom Freedom by the 10's of thousands seemed illusive but not any more!
Silenciando manifestantes
Milhares de manifestantes foram mortos desde o início da Revolução Síria em março. A criança Hamza Alkhateeb [en], de 13 anos, foi morta durante sua prisão, e provocou raiva por causa da brutalidade do regime. Milhares de manifestantes pacíficos enfrentaram esta brutalidade, como Ghiath Matar, 26 anos, residente de Darya, um subúrbio de Damasco. Ele ficou conhecido por enfrentar o fogo e a violência com garrafas de água e rosas.
Depois de sua morte no dia 10 de setembro, o Comitê Local de Coordenação emitiu uma declaração [en] a dizer que o sonho de Ghiath morrera com ele:
Ghiath was waiting for two births: the birth of his daughter who won’t have the chance to lay on his arms, and the birth of the new free, just and democratic Syria, which he won’t see but will hold his memory and pure soul forever. Ghiath and his friends in Daraya were advocates of non-violent struggle. He believed that a free and civilized Syria can’t be realized but by Syrian men and women by their peaceful struggle against the violence of the regime, with all the love they have facing the speech of hatred, by refusing to be like the butcher or use his tools.
O blogger sírio @Bsyria escreve no Twitter:
RIP Ghiath Matar. Ghiath was a peace activist. He used to hand flowers and water to soldiers in Daraya. He was tortured to death. #Syria
Matando as músicas
Se há uma musica que se tornou a musica de Revolução síria é certamente a música “Yalla Irhal ya Bashar” (“Sai daqui, Bashar”), que foi famosa com a voz de Ibrahim Qashosh, cantor de Hama. No dia 5 de julho, Qashosh foi encontrado morto sem suas cordas vocais, em retaliação por fazer uma brincadeira do presidente Bashar al-Assad. Mas, apesar de tudo, sua voz não parou e continuou, em clipes e demonstrações em vídeo de Hama, que não era mais possível esconder:
Ahmed Al-Omran é um jornalista e blogueiro saudita da Rádio Nacional da América NPR, que passa seus dias documentando notícias e vídeos da Síria. Após um dia de trabalho, ele escreveu no Twitter:
What's my plan for the weekend? After watching all these videos coming from #Syria today, none of my plans seem to matter.
Silenciando o humor
Cartunista famoso da Síria, Ali Farzat [en], chefe de Associação dos Cartunistas Árabes, publicou uma charge mostrando Bashar al-Assad como cansado com uma mala de viagem pedindo carona para Gaddafi. Farzat foi, então, severamente espancado no dia 26 de agosto, quando teve as duas mãos quebradas por causa do “cinismo aos líderes sírios”.
@Freedom_7uriyah escreveu no Twitter:
All i've got to say to Assad is watch #Libya closely, ur next. #AssadLies will get u nowhere
Repressão a jornalistas e blogueiros
A lista de jornalistas e bloggers que foram mortos, detidos ou torturados aumenta dramaticamente desde o início das manifestações, em março. O fotógrafo Farzat Gibran foi encontrado morto [en] no dia 20 de novembro, sem seus olhos. Farzat estava filmando manifestações contra o regime na cidade de Al-Qusair, em Homs.
O governo também perseguiu os bloggers Hussain Ghrair e Razan Ghazawi [en], uma das blogueiras mais proeminentes da Síria e antiga colaboradora do Global Voices [en]. Razan, que foi acusada de “enfraquecer sentimentos nacionalistas e tentar inflamar a luta sectária”, foi libertada em 18 de dezembro, mas muitos ainda estão presos ou desaparecidos.
O blogger sírio Anas Qutaish @anasqtiesh escreve no twitter:
”Weakening the national sentiment, and trying to ignite sectarian strife” should be charges against Assad. #Syria#FreeRazan
Sírios ganham apoio internacional
Enquanto continua a revolução na Síria, apesar das tentativas de silenciar ativistas, a solidariedade com o povo sírio não parou. Uma série de iniciativas na Internet mostrou como ativistas tornaram-se mais inovadores para ganhar a atenção mundial para a situação no país.
A campanha SyriaSitIn no YouTube, liderado pela agência de notícias populares Rede de notícias Cham, pediu que as pessoas enviassem vídeos com sua solidariedade aos manifestantes sírios. Os vídeos, que foram publicados na conta do Youtube do SyrianSitIn [ar], contêm versões de uma declaração:
@honestmenofsyri tuitou:
Síria de 2012
Ao final de 2011, observadores e defensores da revolução, usaram a hashtag #Syria2012 para imaginar a Síria de amanhã – a Síria de liberdade, justiça e dignidade. Fadi Alkadi escreveu:
#Syria2012 “At this time next year, Bashar Al-Assad will be a former president”
E Mohamad Abed Alhameed complementou:
I'll visit my family and get back to my home in Damascus in #Syria2012 after long years of exile.
Nora Bashra tem esperanças:
In Syria2012, “torture” will be a word of the past. #Syria
Enquanto Nour al-Ali imaginou:
E Ahmad Ibn Rashed Ibn Said concluiu:
Syria2012 will be cleansed of thugs and bugs, free of wolves and dogs, and full of kisses and hugs
Este artigo é parte de nossa cobertura da Revolução na Síria em 2011 [en]