Rússia: Redes Sociais Mobilizam a Sociedade

Mais de um mês se passou desde que ocorreu o maior protesto russo [en] da última década, na praça Bolotnaya em Moscou. Aqui está uma seleção das contas [ru] de bloggers que estiveram no protesto, assim como alguns de seus pensamentos para um próximo passo.

Nesse artigo descreverei a influência das redes sociais na sociedade russa, vale a pena notar vários “momentos tecnológicos” importantes que estão ligados a esses eventos recentes. Eu gostaria de descrever como essas ferramentas funcionaram para influenciar o que ocorreu antes, depois e durante os eventos na praça de Bolotnaya.

Estréia do Facebook

Primeiramente, na Rússia, essa é a estréia do Facebook como a principal plataforma para mobilização. Por muitos anos, Eu tenho acompanhado como as redes sociais agem como ferramentas para mobilizar a sociedade. Vkontakte social network se tornou uma das pioneiras nessa tecnologia no nosso país, quando os espectadores do canal de televisão 2×2 foram para as ruas, alarmados com a possibilidade da licença do canal ser revogada.

Outra plataforma que tem servido como ferramenta para mobilização na Rússia é o LiveJournal (como exemplo, ela se tornou a principal plataforma na mobilização do movimento ‘Blue Bucket‘) [en]. O Facebook, no entanto, nunca desempenhou um papel tão significativo nesse tipo de evento até dezembro de 2011, quando ele auxiliou no desenvolvimento do evento de forma decisiva.

O protesto principal deveria ter ocorrido no dia 10 de dezembro de 2011 na praça da Revolução. Ele foi planejado antecipadamente e um pedido para que ele fosse realizado foi feito pelo líder da Frente da Esquerda [en], Sergei Udaltsov, sua esposa Anastasia e uma representante do Moscow Solidarnost, Nadezhda Mitjushkina. De forma surpreendente, o protesto foi aprovado pelas autoridades de Moscou, embora, é claro, apenas para 300 participantes.

Conversas sobre esse protesto e a permissão começaram a acontecer após 6 de dezembro, quando outro protesto ocorreu e terminou em prisões, no dia 5 de dezembro na Chistye Prudy. Ninguém esperava tamanha mudança, nem uma agravada e intensa demonstração de emoções. Alexey Sidorenko escreveu sobre isso em detalhes no seu artigo ‘A Revolta dos Hamsters.’ [en]

No próximo dia, 6 de dezembro, um grande grupo de cidadãos, com o intuito de protestar contra eleições injustas, saíram outra vez para Praça do Triunfo, a qual tinha se tornado um símbolo de oposição ao regime de Putin nos últimos anos. Esse protesto foi suprimido pela polícia que deteve muitos participantes.

Imediatamente depois da repressão no encontro na Praça do Triunfo no dia 6 de dezembro, um grupo [ru] apareceu no Facebook chamando as pessoas para se inscreverem e participar de outro protesto na Praça da Revolução. Interessantemente, esse grupo foi criado por um blogger sem nenhuma relação com grupos políticos ou órgãos – Ilya Klishin – líder de uma ferramenta online Epic Hero [ru], uma publicação para jovens ‘hipsters’ criativos,modernos e urbanos.

O grupo para o protesto rapidamente começou a adquirir popularidade. Logo após de 24 horas da sua criação, no dia 8 de dezembro, quase 25.000 pessoas declararam sua intenção de participar da campanha para eleições justas. Além disso, quase 8.000 pessoas, que se inscreveram para o evento, atualizaram o seu próprio status para “Participação é possível.”

Em um similar grupo [ru], criado no site Vkontakte foram obtidas mais de 12.000 inscrições de participantes.

‘Contagem’ do protesto que viria

Até o dia do protesto, 10 de dezembro, o número daqueles que declararam intenção de participar eram de cerca de 40 mil pessoas. Na minha opinião, essa é a segunda mais importante observação a ser feita; que apenas graças a “contagem” e a possibilidade de ver o número real de pessoas com o desejo de participar do protesto, que as autoridades foram forçadas a se comprometer com o protesto por meio de sérias e inéditas concessões.

Antes, ninguém sabia quantas pessoas apareceriam para esse ou qualquer outro protesto. O sucesso de uma das primeiras aglomerações para a “Marcha dos Dissidentes”, a qual ocorreu em São Petesburgo em 2007, foi inesperada tanto para as autoridades quanto para os organizadores.

Agora, as redes sociais nos permitem ver o número real de participantes que desejam participar de um protesto, um número que cresce com o passar das horas e dias. E, nesse caso, as autoridades compreenderam que esses cálculos no Facebook e Vkontakt não podem ser “manipulados” de forma alguma ou por ninguém e que o protesto adquiriu um real potencial de massa.

E, é claro, o governo teme essas manifestações de protesto em massa. Eles obrigam que o protesto seja realizado longe do Kremlin e outros prédios oficiais. Ao mesmo tempo, no entanto, eles se esforçam para que ele seja realizado de forma pacífica; foi organizado para que se movesse calmamente seguindo uma linha da Praça da Revolução até o protesto na Praça Bolotnaya. Entretanto, muitas pessoas estavam dispostas a serem presas, mas a polícia não deteu ninguém e as manifestações foram realizadas sem nenhuma violência.

Simplestemente calculando o número de participantes pelo evento no Facebook, pessoas foram salvas dos cassetetes da polícia. Isso não é um precedente ruim para a Rússia seguir.

Slogans inspirados na internet

A terceira importante observação que deve ser feita sobre os eventos é que esse foi o primeiro protesto de massa, onde pessoas chegaram com slogans criados na Internet. E assim, foi o LiveJournal, aliás, que definiu o tom. Na praça, nós vimos os mesmos temas em cartazes dos manifestantes que foram vistos primeiramente no LiveJournal.

Em particular, nos cartazes [ru] a distribuição de Gauss era visível – evidência matemática para a falsificação de votos em favor do partido da Rússia Unida.

Distribuição de Gauss no cartaz de um manifestante na praça de Bolotnaya. O slogan diz "Nós acreditamos em Gauss". Foto de Norweigen Forest no Live Journal.

Distribuição' de Gauss no cartaz de um manifestante na Praça de Bolotnaya. O slogan diz "Nós acreditamos em Gauss". Foto de Norweigen Forest no Live Journal.

Bloggers russos analisaram a distribuição de porcentagens na eleição de 4 de dezembro de acordo com a informação oficial circulada no país. Os resultados da análise foram publicados [ru] na página de Maksim Pshenichnikov no LiveJournal. É perfeitamente claro que antes do dia da votação apenas poucas pessoas tinham ouvido falar de Gauss e sua teoria da distribuição, mas no dia 10 de dezembro ela estava em todos os cartazes.

Além disso, é claro que “Churov, o mágico”, líder da comissão eleitoral, se tornou um dos assuntos mais populares nos cartazes artesanais. Isto deriva de Medvedev que chamou “Cherov um mágico”, como comentário sobre como ele realizou as eleições. O líder da Comissão central eleitoral, de maneira modesta, respondeu dizendo “Eu não sou um mágico, só estou aprendendo”.

"Onde está meu voto, mágico?" Um cartaz na praça de Bolotnaya. Foto tirada de um usuário do Liver Journal mamouse.  

"Onde está meu voto, mágico?" Um cartaz na praça de Bolotnaya. Foto tirada de um usuário do Liver Journal mamouse.

Protesto dos gadgets

E a quarta observação que deveria ser notada do recente protesto, é que foi uma audiência da internet o qual ativamente usa jornais modernos e aparelho móveis que se tornaram aparentes.

Enquanto é incerta a quantidade de participantes que tinham smartphones, há dados que os smartphones saíram por cima. Uma pesquisa [ru] demonstrando isso foi realizada por um grupo analítico de “Smart Marketing”. De acordo com o seus dados, no dia 10 de dezembro na praça de Bolotnaya, usuários de aparelhos da Apple lideraram a pesquisa: de todos os gadgets a parcela de Iphones e Ipads foi de 46.6%, como observado no curso da análise.

É interessante perceber que os participantes dos protestos usaram o seus aparelhos eletrônicos não apenas para compartilhar na internet a informação dos eventos que viriam mas também como meio para campanha e slogans [ru].

Eventos subsequentes mostraram a influência que a força organizada no Facebook criou para o próximo protesto, o qual foi agendado para acontecer no dia 24 de dezembro, no Sakharov Prospect em Moscou. Na noite de 19 de dezembro, 30 mil pessoas estavam planejando participar do protesto.

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