Desde o começo do ano, milhares de estudantes vem protestando contra o aumento das passagens de ônibus na cidade de Teresina, capital do estado de Piauí. Com carga violenta, os manifestantes são reprimidos pela RONE (Ronda Ostensivas de Natureza Especiais) da Polícia Militar e, como resposta, atearam fogo em pelo menos um ônibus – ao passo que dezenas de estudantes foram presos.
Os protestos, porém, tiveram início em agosto de 20111 e deram uma pequena trégua durante o final de ano e das festividades de Natal e Ano Novo, como explica o blogueiro Filipe Saraiva:
Desde o dia 29 de agosto, uma segunda-feira, estudantes e moradores de Teresina fazem manifestação por qualidade no transporte público municipal. Serão agora, 5 dias consecutivos de manifestação. O estopim do ato foi o aumento do preço da passagem no apagar das luzes do dia 26 de agosto, sexta-feira, que elevou a tarifa para R$ 2,10 [O valor anterior era de R$ 1,90 – Nota GV].
O blogueiro explica que os ônibus de Teresina percorrem a cidade sem licitação desde 1988 e que, desde 1994, é usada uma planilha para justificar aumentos da passagem sem que, porém, nenhum cidadão da cidade jamais a tenha visto, o que a faz ser encarada como uma lenda.
Todos os anos ocorrem manifestações pacíficas, com exceção dos protestos de 2005, em que a polícia abriu fogo contra os estudantes, que responderam queimando ônibus pelas ruas da cidade. Os protestos não são apenas contra o aumento das passagens, mas também contra a falta de qualidade dos mesmos:
Teresina é uma cidade pequena, esse aumento não se justifica!Uma mãe que ganha um salário mínimo não tem condições de pagar essa tarifa absurda.Ônibus lotados.Ônibus atrasados.Ônibus sujos.
Em 2011 o Ministério Público do Piauí conseguiu, na justiça a suspensão do aumento e a auditoria da duvidosa planilha sem que, porém, a prefeitura acatasse a decisão. Então, recomeçaram os protestos em meio à violência policial e denúncias de infiltração policial em meio aos estudantes que acusam a polícia de marcar as lideranças do movimento e depois prendê-las com a intenção de desarticular os protestos.
Este ano, a história se repete
Segundo o jornalista Renato Rovai, depois do anúncio das medidas promovidas pelo prefeito Elmano Férrer, do Partido Trabalhista Brasileiro (PTB) – “aumento da passagem e uma integração de araque no transporte público local” – “as ruas de Teresina se tornaram uma praça de guerra” e “os estudantes têm sido tratados como bandidos pela mídia local”.
Sobre a violência policial, desabafa o blogueiro Rômulo Maia, que também produziu uma série de vídeos sobre os protestos:
Polícia Militar truculenta. Fotos e vídeos mostram jovens sendo pisoteados pelos coturnos da tropa de choque. Spray de pimenta no rosto de manifestante sem reação. Bomba de efeito moral em gente sentada. Bala de borracha também. Intimidação. Celulares quebrados. Dedo na cara. Gritos autoritários.
Vídeo do usuário acessepiaui com imagens da repressão policial no segundo dia de protestos:
Dezenas de estudantes foram presos desde o começo dos protestos, e além da Polícia Militar, atuam na repressão ao estudantes seguranças contratados Sindicato das Empresas de Transporte Urbano de Teresina.
Para o fotojornalista Régis Falcão “a luta é justa”:
Os métodos são válidos e a realidade do movimento não é aquilo que você vê de longe.
Incomoda? sim, muito! e deve incomodar! parar o trânsito, atrapalhar a ida e vinda de terceiros faz parte. Infelizmente não há como ser brando quando a questão é tão séria.
Restam duas opções: continue criticando o movimento, os “estudantes arruaceiros” do conforto de sua casa, do frescor do ar-condicionado de seu carro, alienado pela própria ignorância, pela própria falta de vontade de fazer alguma diferença no mundo, acorrentado pelo seu comodismo vergonhoso ou vá pra rua e veja com quantos gritos se faz uma mudança.
O fotojornalista Régis Falcão compartilhou várias fotos em seu álbum do Facebook, no qual chama os estudantes de Indignados, assim como o também fotojornalista Igor Prado, que postou fotos do quarto dia de protestos. Sinésio Soares postou a foto do estudante de direito Lucas com o rosto sangrando após ser brutalmente espancado pela polícia.
No facebook, alguns usuários criticaram as manifestações, como o policial Gilberto Carlos de Sousa:
A TROPA DE CHOQUE BOTOU PRA QUEBRAR , MOSTROU PRA QUE VEIO, BOTOU VAGABUNDO PRA CORRER , PRENDEU VÂNDALOS E ANARQUISTAS , BELEZA , A POPULAÇÃO QUE SOFREU POR CONTAS DESSES VÂNDALOS, AGRADECE , VALEW MESMO!!!!
O blogueiro Herbert Sousa é outro a criticar os manifestantes:
A população de Teresina ficou atônita com a onda de terror patrocinada por partidos reacionários de esquerda, que tem como ideologia o Stalinismo.
A revista Vice publicou uma série de fotos sobre os protestos durante seu segundo dia, em que a polícia já agredia manifestantes desarmados e pacíficos. E o Centro de Mídia Independente publicou diversas fotos do sétimo dia de protestos aqui, aqui e aqui e também do segundo dia de protestos.
O jornalista e blogueiro Leonardo Sakamoto comenta sobre a incapacidade de polícia e poder público aceitarem o direito do povo protestar:
No Brasil, há governos que não entenderam que o direito de protestar é parte da democracia. E que o povo não serve apenas para votar a cada quatro anos, pagar impostos e fornecer mão-de-obra barata. Mas, como se vê pela notícia acima, o Estado nos lembra diariamente que não somos cidadãos mas gado, que pode, eventualmente, ser marcado para identificação.
O protesto do dia 10, o sétimo da série talvez tenha sido um dos mais violentos e tem sido chamado de #MassacreTeresina ou #DiadoLuto. O perfil @Contraoaumento, que vem agregando informações sobre os protestos e ajudando em sua coordenação informa:
@Contraoaumento: São 17 presos na Central de Flagrantes. Cada fiança é de R$ 6.220,00, o que totaliza R$ 115.740,00. #contraoaumento #massacreteresina
Estudantes e mesmo jornalistas foram agredidos pela polícia militar do Piauí. O usuário do Youtube askase51 postou um vídeo mostrando o tamanho da violência policial contra estudantes pacíficos no sétimo dia de protestos:
Outros vídeos com o momento em que a PM parte para cima dos estudantes podem ser visto aqui e aqui.
No Twitter, não faltaram críticas à polícia, com denúncias de violência extrema, aos políticos, à mídia, acusada de ser favorável à repressão e revolta, expressa no tuíte de Daniel Solon, professor da UESPI:
@Daniel_Solon: Neste momento, o Piauí tem 16 presos políticos. Foram criminalizados por lutar #contraoaumento da passagem de ônibus.
Os estudantes presos serão processados pelo Estado.
O jornalista Daniel Santini compilou uma lista de outras cidades que passam por aumentos no transporte público e criticou a falta de investimento público na área e decisões erradas de políticos, como da presidente Dilma Rousseff.
E o jornalista Renato Rovai informou que, hoje, o número de estudantes presos, a quem ele chamou de presos políticos, chega a oito. em seu blog há os nomes deles.
As tags #Contraoaumento e #ContraoaumentoTHE foram e continuam a ser muito utilizadas por manfiestantes ou curiosos, no Twitter, para disseminação de informações, vídeos e fotos. E os sites #Contraoaumento, e Fórum Estadual em Defesa do Transporte Público são fonte constante de notícias.
11 comentários
péssima matéria, péssima! Cheia de carga opinativa e com afirmações totalmente erradas, ridícula! se quiserem, eu provo porque está errado! é uma crítica construtiva, não se omitam dela!
Bruno, levando em conta que a função primordial do Global Voices é dar voz aos blogueiros, ou seja, às opiniões dos blogueiros, fica meio difícil não ser “opinativo”, não achas?
Segundo, sinta-se à vontade para comprovar que os vídeos aqui psotados com a polícia espancando estudantes desarmados são falsos. Ou talvez que há jsutificativa para espancar pessoas que tem o direito constitucional de protestar.
“Os protestos, porém, tiveram início em agosto de 20111 e deram uma pequena trégua durante o final de ano e das festividades de Natal e Ano Novo, como explica o blogueiro Filipe Saraiva:” Favor comprove que foi apenas uma “PEQUENA TRÉGUA”, a manifestação encerrou-se temporariamente por seus objetivos primordiais terem sido atendidas, a carga opinativa passada por este trecho é que os estudantes pararam a manifestação para festejar, e assim que as festas acabaram, voltaram ao trabalho, o que não é verdade pois houveram reuniões por parte deles para traçarem a estratégia de trabalho. Se o senhor realmente acha que está certo o que afirmou: prove!
HAHAHA, sério que é esse detalhe tua reclamação? Nem queria rir! Então, deixa eu explicar o óbvio: O objetivo foi alcançado temporariamente porque o prefeito recuou no aumento e agora aumentou de novo, logo, houve apenas uma pausa, pois a luta é a mesma. Entendeu ou quer que desenhe?
Quem falou que os estudantes pararam pra festejar, colega? Pararam porque conseguiram uam vitória momentânea e voltaram à carga quando o prefeito atacou de novo!
uma banda local tentou resumir o sentimento dos estudantes em uma música: http://www.youtube.com/watch?v=14Fuj344r4g
Apenas uma breve correção, sou fotojornalista e estava trabalhando na cobertura dos protestos. Acredito no movimento e considero a depredação de patrimônio público ou particular como atos isolados, que não caracterizam a realidade do protesto, que se manifesta de forma pacífica e dentro dos limites da lei.
Detalhe corrigido, Régis!=)
Correção: apenas um ônibus foi incendiado durante as manifestações.
Não sei de onde saíram os “20”, escapou da revisão.
sou teresinense, e achei a matéria bastante realista, o que a imprensa local n mostra. ah! e n foi apenas um onibus, e sim, vários.
Cheguei um pouco atrasado, mas…
Apenas uma breve correção, sou fotojornalista e estava trabalhando na cobertura dos protestos. Acredito no movimento e considero a depredação de patrimônio público ou particular como atos isolados, que não caracterizam a realidade do protesto, que se manifesta de forma pacífica e dentro dos limites da lei. [2]
Faço das palavras do Régis a minha, inclusive com o detalhe de que também sou (foto)jornalista.
Se possível, inclua esse adendo.
Abraços e continue a observação jornalística!