- Global Voices em Português - https://pt.globalvoices.org -

Destaques da Lusofonia Online em 2011

Categorias: África Subsaariana, América Latina, Europa Ocidental, Leste da Ásia, Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné Equatorial, Guiné-Bissau, Moçambique, Portugal, São Tomé e Príncipe, Timor Leste, Arte e Cultura, Ativismo Digital, Desenvolvimento, Direitos Humanos, Economia e Negócios, Governança, Indígenas, Juventude, Liberdade de Expressão, Língua, Meio Ambiente, Mídia e Jornalismo, Política, Protesto, Relações Internacionais

Passou mais um ano em que bloguistas e activistas com vários sotaques de português, se juntaram para reportar, traduzir e defender blogs e mídia cidadã de todo o mundo. Conheça neste artigo os destaques da cobertura dos países de língua portuguesa no Global Voices em 2011.

Línguas e Culturas da Lusofonia

Em Fevereiro, demos voz a vários blogs que declararam o seu amor à língua portuguesa, prestando tributo à multiplicidade de falares [1] de mais de 200 milhões de pessoas à volta do mundo.

Hau nia lian, hau nia rain (A minha língua, a minha terra). Foto de Sapo Noticias Timor Leste (domínio público) [2]

Hau nia lian, hau nia rain (A minha língua, a minha terra). Foto de Sapo Noticias Timor Leste (domínio público)

Em Maio, o Jornal @Verdade, nosso parceiro em Moçambique [3], escreveu sobre o Português enquanto língua da “Moçambicanidade [4]”.

Sobre Timor Leste, foi analisado o papel das línguas na afirmação da identidade [5] de um país que conta com 16 línguas nacionais e dezenas de dialectos. Já de Cabo Verde, reflexões nos blogs defendem que existem “lugares sociais” distintos para a língua nacional, o Crioulo [6], a par da língua oficial, português.

Num prisma político mais denso, manifestações online expõem um outro lado do espelho linguístico, com as reacções à proposta de entrada da Guiné Equatorial na Comunidade de Países de Língua Portuguesa, um país sem olhos para os Direitos Humanos [7].

Brasil: Caminhos do Desenvolvimento

A despeito da crise do cenário internacional, o Brasil vive um período de otimismo econômico estimulado pelo mercado interno de consumo. Para manter esse crescimento, a política desenvolvimentista em curso no país tem pressionado o meio ambiente e os direitos humanos.

O custo social da expansão de biocombustível: a comunidade indígena Guarani Kaoiwa de Laranjeira Nhanderu foram expulsos de suas terras há 14 meses atrás para dar lugar as plantações de cana.Foto de Annabel Symington, direitos Demotix (21/10/10). [8]

O custo social da expansão de biocombustível: a comunidade indígena Guarani Kaoiwa de Laranjeira Nhanderu foi expulsa de suas terras há 14 meses atrás para dar lugar as plantações de cana. Foto de Annabel Symington, direitos Demotix (21/10/10).

A floresta amazônica é visada como terra para a agropecuária e como fonte de matéria-prima e de energia. O novo Código Florestal [9], marco regulatório do uso das florestas do país, suscitou questionamentos e levou pessoas às ruas contra o favorecimento da agropecuária e do desmatamento. O agronegócio “verde” dos biocombustíveis [10] e o reflorestamento com eucaliptos [11] revelaram-se práticas insustentáveis, social e ambientalmente. A disputa por terra no agronegócio provocou, em 2011, assassinatos de ativistas [12] e de lideranças indígenas [13]. Contudo, o Brasil está a exportar seu modelo de agronegócio para outros países, como Moçambique [14].

A usina hidrelétrica de Belo Monte [15] foi, sem dúvida, a maior causa de mobilização do ano, unindo ambientalistas, povos indígenas e populações ribeirinhas. Protestos no local e nas maiores cidades do país [16] atraíram a atenção internacional [17] e puseram em questão a política de direitos humanos do governo de Dilma Rousseff [18]. Após o início da construção da usina [19], a mobilização não arrefeceu, mas adquiriu outros contornos, com um protesto Occupy tupiniquim [20] e processos judiciais [21].

Essas e outras questões estão organizadas em quatro coberturas especiais: Floresta em Foco: Amazônia [22], Dossiê Belo Monte [23], Direitos Indígenas [24] [en], e Desenvolvimento Global [25].

Portugal: Crise, Austeridade e Protestos

Desde a Manifestação da Geração à Rasca em Março [26] até aos protestos globais do 15 de Outubro [27], Portugal viu, em 2011, a crise política e económica ganhar proporções [28], com a queda de um governo e a troika a entrar no país para o “resgate” financeiro da dívida pública.

Keep calm and protest. Indignados em frente à Câmara do Porto. Foto da organização do 15 de Outubro. [29]

Keep calm and protest. Indignados em frente à Câmara do Porto. Foto da organização do 15 de Outubro.

Os internautas tomaram as redes sociais para se mobilizarem contra as severas medidas de austeridade, contra o “negócio” das agências de notação financeira [30] mas também para encontrarem inspiração além fronteiras, como na Islândia [31], sobre outras formas de participação cidadã.

Com a página de cobertura especial Europa em Crise [32] lançada em Setembro, o Global Voices tem servido de ponte linguística e proporcionado um maior diálogo entre os cidadãos “indignados” dos países europeus que estão a sofrer problemas semelhantes.

Angola: 32 Anos no Poder Suscitam Protestos

Em Angola, é cada vez mais visível, nas ruas e na internet, a revolta contra o governo de 32 anos de José Eduardo dos Santos. As manifestações teriam começado em Março [33], caso uma manobra de antecipação do governo [34] não tivesse sido eficaz.

Em Setembro, o saldo de uma manifestação [35] com forte carga policial sobre os manifestantes contou com sentenças de prisão para pelo menos 18 pessoas. Contra todas as expectativas, o movimento tem se consolidado [36] ao mesmo tempo que prolifera o número de cidadãos repórteres no país.

Vídeo publicado no post Angola: Vídeos de Protesto Reprimido de Jovens em Luanda [37]

Internet e cultura digital no Brasil

O acesso cada vez mais disseminado à internet no Brasil manifestou-se em 2011 muitas vezes de formas criativas, colectivas [38] e eficazes. Tal foi o caso da mobilização em redes sociais para tirar um blog pedófilo do ar [39], e da chamada via Facebook à participação num protesto tão original como o do Churrascão da Gente Diferenciada [40], num bairro de classe alta em São Paulo.

Cartaz do protesto "Queremos ser Maria Bethania" convocado por Leon Prado no Facebook. [41]

Cartaz do protesto "Queremos ser Maria Bethania" convocado por Leon Prado no Facebook.

Ao mesmo tempo, a arena online também foi palco de outros acontecimentos menos felizes ligados à cultura digital. Em Janeiro, o Ministério da Cultura anunciou o abandono da Creative Commons no seu site, um retrocesso flagrante nas políticas públicas [42] ligadas à Internet e direitos autorais. Pouco tempo depois, em Março, o mesmo Ministério autorizou a famosa cantora Maria Bethânia [43] a captar R$ 1,3 milhão de reais para a criação de um blog de poesias, despertando assim a ira de blogueiros, tuiteiros e de ativistas na área da cultura.

Casos de censura online continuam [44] e ultrapassam por vezes os limites do virtual, chegando a manifestar-se em atentados contra a vida de blogueiros críticos à autoridade.

Em Dezembro tomamos conhecimento de novas ameaça [45]s de morte contra Ricardo Gama, blogueiro militante sobre casos de abuso de poder e outras irregularidades por parte da polícia no Brasil, que já havia sido baleado em um atentado [46]no Rio de Janeiro em Março. No final do ano, o motivo por trás da morte de Hamilton Alexandre [47], polémico blogueiro de Santa Catarina, “suicídio por enforcamento”, não é convincente para muitos internautas, que exigem nas redes sociais rigorosa apuração do caso.

Em 2012 continuaremos a escutar as histórias que estão a ser contadas por cidadãos do mundo através da internet, e a amplificá-las para o conhecimento de uma audiência global. Temos as portas abertas para quem quiser juntar-se ao que foi considerado em 2011 um dos 10 projetos mais legais da internet [48] pela revista Super.

https://pt.globalvoicesonline.org/?p=25165
Colaborou na redacção deste post João Miguel Lima [49].