Brasil: Multa Máxima Após Silêncio Sobre Derramamento de Petróleo da Chevron

No dia 7 de novembro, uma plataforma de extração de óleo comandada pela companhia americana Chevron-Texaco começou a derramar óleo. Ela está localizada na Bacia de Campos, 350km ao norte do Rio de Janeiro. Na segunda-feira, dia 21 de novembro, a Chevron foi multada no valor máximo permitido pelo IBAMA (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis), em 50 milhões de reais (aproximadamente $28 milhões de dólares).

Embora o derramamento de óleo pareça estar sob controle [en], futuras explicações da Chevron são esperadas nos próximos dias. Enquanto isso, o que começou como uma cobertura escassa pela mídia, tem levado muitos blogueiros a criticar a falta de profundidade jornalística sobre a complexidade do desastre ambiental.

Derramamento de óleo provocado pela empresa Chevron na Bacia de Campos, no dia 18 de novembro de 2011. Foto por Rogério Santana, Governo do Rio

Derramamento de óleo provocado pela empresa Chevron na Bacia de Campos, no dia 18 de novembro de 2011. Foto por Rogério Santana, Governo do Rio

“O silêncio é criminoso”

Fernando Brito, jornalista do blog do deputado federal Brizola Neto, Tijolaço, decidiu “nadar contra a maré da mídia” que ele considera como mera republicação dos comunicados da imprensa. Ele embarcou em um trabalho minucioso e incansável de jornalismo investigativo, tentando iluminar o caso com 25 denúncias em apenas duas semanas. O que ele viu como sinais de que algo estava errado com a cobertura convencional que foi dada pela imprensa, foi explicado mais tarde, em uma entrevista para o blog Vi O mundo:

Primeira: a Chevron-Texaco  demorou para admitir o problema e, quando o fez, foi por uma nota marota, dizendo que havia sido detectado vazamento “entre o campo de Frade e o de Roncador – que é operado pela Petrobras –  quando, na verdade, ele se deu bem próximo de uma de suas plataformas de perfuração, a Sedco706 (…).

Segunda: a história de que falha geológica seria a causa.  É improvável que falhas geológicas capazes de provocar um derramamento no mar não tivessem sido detectadas nos estudos sísmicos que precedem a perfuração.

Terceira: mesmo depois de a presidenta Dilma Rousseff ter determinado em 11 de novembro a investigação rigorosa do caso, a nossa imprensa (…) continuou a dar quase nenhuma importância ao caso da Chevron-Texaco, uma multinacional com boas relações com o senhor José Serra.

Dando ainda mais fundos ao terceiro ponto acima, o economista Pedro Migão, do blog Ouro de Tolo, lembra um artigo que escreveu ano passado em “revelações da wikileaks“:

sobre o lobby que as petrolíferas americanas estavam fazendo junto a setores da imprensa e a políticos do PSDB para terem o controle do pré sal – que é a última fronteira petrolífera mundial.

Com o debate público sobre os danos causados no meio ambiente pela extração excessiva de óleo tinha sido provocada, o Greenpeace Brasil começou a espalhar a hashtag #VazaChevron (Um jogo de palavras significando Vá Embora Chevron), e aproveitou a oportunidade para promover uma petição contra a exploração de óleo pela mesma empresa, planejada para a região de Abrolhos, uma área protegida no estado da Bahia.

Ação do Greenpeace Brasil pede transparência por parte da Chevron sobre as causas e os efeitos do vazamento de óleo

Valéria Müller (@valeria47), de Porto Alegre, disse:

Quando se tem dinheiro, dá até pra derramar petróleo no mar que não vira notícia. Taí a Chevron-Texaco pra provar isso. #VazaChevron

No Twitter, muitas pessoas também comentaram sobre o montante, que se trata apenas de “metade do lucro de um dia” para a Chevron, como Mirinho Braga (@ mirinhobraga), o prefeito de Búzios, que pergunta:

A Chevron polui nosso mar…o IBAMA multa em milhoes a empresa. Os pescadores q são prejudicados recebem o que?

Logotipo da Chevron com uma mancha de óleo. Compartilhado no blog Tijolaço.

Logotipo da Chevron com uma mancha de óleo. Compartilhado no blog Tijolaço.

Dada à Chevron um “histórico de fraudes relacionadas a um desastre ainda maior de petróleo no Equador”, solidariedade e conscientização vêm de ativistas naquele país, onde as florestas tropicais também têm sido contaminadas por derramamentos da empresa, como o Global Voices noticious no começo deste ano.

Na quarta, dia 23 de novembro, a Chevron é esperada para dar mais explicações sobre o desastre em uma audiência pública na Comissão de Meio Ambiente do Senado, junto à Ministra do Meio Ambiente, Izabella Teixeira; Ministro de Minas e Energia, Edison Lobão; representantes da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) e o IBAMA.

Até o momento em que este artigo foi publicado, o último artigo de Fernando Brito a respeito de “apostar em assumir riscos” da Chevron, deixa uma pergunta no ar:

Um carro não bate por estar em  velocidade imprudente, mas esta é o contexto que facilita a ocorrência do acidente.

No caso do automóvel, porém, isso é motivo para ter a habilitação cassada. A Chevron-Texaco vai perder a carteira?

João Miguel Lima, Raphael Tsavkko e Thiana Biondo colaboraram neste artigo.

1 comentário

  • Henrique

    Realmente, sou contra esse absurdo que a Chevron fez, até porque, pelo que dizem, não posso dizer se é verdade, esse derrame de petróleo foi ocasionado por falhas que poderiam ser evitadas.

    Mas que esse pessoal do Greenpeace, quem aguenta? Gostaria que eles usassem um pouco da energia e tempo, para fazerem protestos na Alemanha, França, na Europa como um todo, mas não fazer prostestar contra o Brasil ou outro país subdesenvolvido lá, e sim protestos direcionado à Europa e EUA.

    Mas pode ser (não sei) que alguma coisa atrapalhe, podem ficar sem financiamento dos governos europeus e americano, e especialmente sem verbas dos agricultores americanos e europeus….

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