Brasil: Orgulho Hétero ou Intolerância Homo?

No dia  2 de agosto de 2011, a Assembléia Municipal de São Paulo instituiu o Dia do Orgulho Heterossexual, a ser comemorado anualmente no terceiro domingo de dezembro. O projeto, proposto pelo vereador evangélico e opositor dos direitos dos homossexuais Carlos Apolinário do partido Democratas (DEM), foi aprovado numa votação simbólica que presupõe aprovação automática independentemente do resultado, que no caso contou com 20 vereadores votando contra e 19 a favor.

Cartum de Carlos Latuff, com licença de uso livre

Cartum de Carlos Latuff, com licença de uso livre

Momentos depois da divulgação da aprovação, revolta e ultraje tomaram conta da blogosfera e twittersfera. Gays e héteros se mostraram revoltados com a instituição de um dia que, para muitos, significa o reforço da crescente homofobia que assola o país.

Defesa dos direitos ou manifestação de intolerância?

De acordo com a compreensão de muitos, não faz sentido em se dedicar um dia para um grupo social majoritário que jamais sofreu qualquer tipo de preconceito. O professor Tulio Vianna considera:

Quando os homossexuais fazem sua “parada do orgulho gay”, eles manifestam-se por respeito à sua orientação sexual. Quando os heterossexuais fazem uma “parada do orgulho hetero” eles manifestam sua intolerância por orientações sexuais diversas.

Na mesma linha, a ativista Juliana Freitas questiona a necessidade da “afirmação hetero”, e chama ao dia de “Orgulho Hétero” o “Dia da Vergonha”, levando em conta que não há casos de violência contra heterossexuais praticadas  por desacordo com sua sexualidade. A professora e ativista feminista Lola Aronovich reflete sobre esse conceito:

Pense nos privilégios que um hétero tem. Quando você sentiu vergonha de ser hétero? […] Quando você foi discriminado por ser hétero? […] ter orgulho de ser hétero é querer celebrar a sorte que você tem simplesmente por ter nascido hétero. […] Ninguém vai te expulsar do recinto, ninguém vai te bater ou matar, ninguém vai querer te transformar, ninguém vai dizer que se envergonha de ser seu pai/mãe, ninguém vai pensar que sua orientação sexual é depravada ou relacioná-la à pedofilia, ninguém vai te despedir do emprego por causa da sua heterossexualidade, ninguém vai dizer que o que você faz é pecado e que você vai arder no inferno por conta disso.

O ativista João Pedro considera que iniciativas como o dia do Orgulho Hétero “só reforçam e estimulam ataques homofóbicos, que causam agressões e mortes à milhares de Gays, Lésbicas, Travestis e Transsexuais” e aponta:

A cada 2 dias morrem 3 homossexuais, simplesmente por serem gays no Brasil. Nenhum heterossexual perde sua vida ou é agredido moral ou fisicamente simplesmente por terem essa opção sexual.

Cartum feito pela jornalista Rosana Hermann (@Rosana) e postado no Twitpic

Uma questão de privilégios

A jornalista Liuca Yonaha, no blog O filtro, reproduz a “justificativa” do vereador Apolinário para a proposição de tal lei que, basicamente, se pauta na criminalização do direito a demonstrar afeto em vias públicas e na TV:

Será que os homossexuais entende (sic) como direito à liberdade, (sic) dois bigodudos entrarem em um restaurante e ficarem se beijando sem respeitar os demais clientes daquele estabelecimento?

Eles deveriam ter um comportamento adequado a nossa sociedade e deixar os beijos e afetos para os lugares reservados ou suas casas.

Acontece que os homossexuais não se satisfazem com o anonimato e para chamarem atenção começam a exigir direitos que se quer (sic) os heteros têm; se comportam de forma inadequada e muitas vezes agridem verbalmente aqueles que não concordam com suas idéias e depois querem que a sociedade aceite este comportamento.

Sou casado há 32 anos, nem por isso me acho no direito de ficar beijando excessivamente minha esposa em público para com isso demonstrar o carinho que tenho por ela.

Acusado de homofobia, o vereador Carlos Apolinário se defendeu afirmando ter um cabelereiro e um maquiador gays e que luta apenas contra “privilégios” buscados pelos gays que vão além dos direitos concedidos a todos e todas:

@Apolinario_SP: Câmara SP aprovou meu projeto que cria o Dia do Hétero. Respeito os gays, mas sou contra excessos e privilégios.http://migre.me/5pq8l

No Twitter, alguns usuários, como Shara Maia (@SharaMaia1) e João Pedro (@joaopedrocrf) apoiaram o projeto, usando a hashtag #diadoorgulhobabaca. A discussão gerada depois de um tweet enviado pela estudante Isabella de Amorim, acabou por levá-la a apagá-lo:

@isabellacbsa: E se é pra ter direitos iguais, deveria SIM existir o dia do orgulho hétero, já que existe o dia do orgulho gay. #diadoorgulhobabaca

Rosangela Basso, do blog Maria da Penha Neles sugere com ironia:

Imagem de uso livre

Próximos dias de orgulho a serem criados:

- dia do orgulho branco
– dia do orgulho de não ser deficiente físico
– dia do orgulho racista
– dia do orgulho de ser rico
– dia do orgulho de ser homofóbico

No Twitter, o vlogger PC Siqueira (@pecesiqueira), o produtor Otávio Ugá (@otaviouga) e o jornalista Daniel Lélis (@danlelis) usaram também do humor para criticar:

@pecesiqueira: Porque é lógico que nós héteros que ao longo da história sofremos repressão e preconceito precisamos de um dia para afirmar nossa condição.

@otaviouga: @pablovillaca Homossexuais são muito egoístas. Vamos também lutar pela união civil entre heterossexuais do mesmo sexo! Orgulho Hétero.

@dannlelis: Orgulho Hétero aprovado. Agora heterossexuais de SP poderão “enfim” andar de mãos dadas na rua e até beijar em público. Valeu, Apolinário!

No Youtube, um vídeo de izaiaspcjr critica a criação do Dia do Orgulho Hétero:

http://www.youtube.com/user/izaiaspcjr

Para virar lei, o projeto aprovado pelos vereadores deve ser sancionado pelo prefeito, Gilberto Kassab, comenta Conceição Oliveira “[torcendo] para que reste um fio de dignidade em Kassab e ele vete uma data tão absurda como essa”. O vereador do PCdoB Jamil Murad publicou texto em seu blog criticando a aprovação da lei e a homofobia.

O termo “Orgulho Hétero” e a hashtag #diadoorgulhobabaca passaram o dia no topo das trending topics do Brasil, condensando as milhares de críticas à lei. O deputado federal evangélico Eduardo Cunha (PMDB-RJ), conhecido por propor uma lei criminalizando a “heterofobia” e por se opor aos direitos dos homossexuais, anunciou que proporá um dia nacional do orgulho hétero.

Circula uma petição online pedindo o veto do prefeito Kassab à lei aprovada pela Câmara Municipal e o deputado federal Jean Wyllys se mobilizou para convencer o prefeito a vetar a lei.

8 comentários

  • Andreza

    Por que tanta briga pelo dia do orgulho hetero? Não já tem o orgulho gay, por que não o hetero? A unica coisa que posso falar sobre preconceito é: Ele existe em ambos os corações, eu um dia fui repreendida por chamar meu gato de neguinho e meu gato era preto mesmo, naquela situação eu nem tinha ideia que alguém se ofenderia, só pelo simples fato de chama-lo de neguinho meu animal de estimação, pra mim podia ser neguinho, branquinho, amarelinho etc, o preconceito não estava em meu coração, mas sim no daquela pessoa. Gente respeitem uns aos outros o dia que deveria existir era o dia do humano, por que hoje em dia estamos muito desumanos com nosso próximo. Por mim pode existir os dois dias não alteria em nada, agora chega de briga, você já estão muito grandinho para viverem como o oriente médio.

    • Gabriel Cavalcante

      O Oriente Médio é berço de algumas das mais antigas culturas do mundo, eles já estão bem grandinhos, você que é apenas uma criança mimada com seu etnocentrismo (e provavelmente deve ser xenofóbica, mas eu não posso ser preconceituoso como você e afirmar isso).

  • ômopai, Andreza… um pouquinho de boa vontade, vai?
    Eu, heterossexual, não preciso de um dia de orgulho não, pq eu nunca precisei justificar a minha condição, nunca precisei esconder de ninguém que eu sou hetero, nunca corri o risco de ser morta, xingada e nem humilhada por isso. Pra que eu precisaria de um dia para exigir o respeito que eu já tenho?

    Quando o lado opressor resolve criar um dia para si, só tem um motivo: oprimir mais!

    Pesquisa aí e veja que os envolvidos na criação do Dia do Orgulho Hetero (ai, que vergonha!) são todos homofóbicos.

    Coincidência, não? ¬¬

  • Marcelo

    Viva o dia do ORGULHO HETERO!
    Sou totalmente a favor

  • Toni Marçal

    Em um pais que as crianças não tem seus direitos garantidos, os idosos e deficientes também não tem direitos garantidos os trabalhadores a família onde a constituição e o direito comum não é garantido. Dar direitos a uma minoria não seria a maior expressão de indiferença?
    Direitos iguais para todos os cidadãos !!!

  • Direitos nem tinham que ser negociáveis! Afffff…

  • paulo

    dia do orgulho hétero, é falta do que fazer de carlos apolinário, e destes vereadores que voltaram afarvo deste projeto ridículo… o próximo passo vai ser criar o dia do :racista, dia do homofóbico, dia do orgulho fascista.dia do políticos corruptos, é dia políticos desocupados..

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