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Guiné-Bissau: Apresentação das “Vozes da Juventude de Bandim e Enterramento”

Categorias: África Subsaariana, Guiné-Bissau, Arte e Cultura, Desenvolvimento, Direitos Humanos, Educação, Rising Voices

Tal como outros países à volta do mundo, a Guiné-Bissau [1] é uma nação da África Ocidental com a sua dose de problemas. Desde a elevada taxa de pobreza às cicatrizes remanescentes de uma guerra civil que terminou há apenas 12 anos, o clima de instabilidade política e social coloca por vezes os cidadãos em situações vulneráveis. As crianças guineenses são muitas vezes quem carrega o fardo de tratamentos injustos e de violações de direitos humanos, que se reflectem em problemas enfrentados pelas famílias, tais como a questão do tráfico de crianças.

Têm havido relatos frequentes de casos em que os pais são convencidos por homens que se fazem passar por professores do Corão a enviarem os seus filhos para o vizinho Senegal, onde lhes é prometida educação religiosa conhecida como “talibé [2]” [en]. Após a chegada a Dakar, estas crianças são, então, forçadas a trabalhar como pedintes, e muitas vezes são maltratadas quando não trazem para casa a quantia esperada de dinheiro. A organização SOS Talibé estima que 200 crianças são traficadas todos os meses [3] [en] para o Senegal, e que aproximadamente 30% de todas as crianças que mendigam em Dakar são provenientes da Guiné-Bissau.

A organização nacional Associação dos Amigos de Criança (AMIC) tem trabalhado desde 1984 na consciencialização sobre os direitos da criança e na prevenção de casos de tráfico. A AMIC também tem trabalhado com uma série de organizações no resgate de crianças que trazem de volta à Guiné-Bissau para o reencontro familiar.

Vozes de Nós [4]

Vozes de Nós

A AMIC também trabalha pro-activamente na promoção de actividades culturais para crianças e jovens à volta do país e em bairros periféricos da capital, Bissau. Recentemente, a AMIC organizou workshops de arte com o apoio da ONG portuguesa Associação para a Cooperação Entre os Povos [5] (ACEP) para a produção de um livro intitulado Vozes de Nós [4], que contém uma selecção de trabalhos artísticos criados por crianças com materiais recolhidos na comunidade.

O trabalho da AMIC consiste também em estreitas colaborações com grupos culturais na procura de saídas criativas para crianças e jovens, através da arte, teatro e actividades de dança. Para além disso, a AMIC proporciona oportunidades de liderança a jovens adultos, que trabalham como animadores em vários bairros. Um dos grupos, chamado “Netos de Bandim”, tem-se dedicado aos bairros de Bandim e Enterramento, onde, envolvidos com a juventude, os animadores coordenam aquele tipo de actividades. São talvez os grupos de dança que dão mais nome às actividades coordenadas pelos Netos de Bandim. O grupo de dança regressou recentemente do Brasil, onde tinha sido convidado a actuar em diversas celebrações de Carnaval, em Março de 2011 [6]. O vídeo seguinte mostra uma actuação recente que tomou lugar no bairro de Bandim.

O Rising Voices estará a apoiar a AMIC e o grupo cultural Netos de Bandim com um micro-financiamento para a implementação o projecto de mídia cidadã “Vozes da Juventude de Bandim e Enterramento [7]“. O projeto visa trabalhar com os animadores dos grupos e as crianças dos bairros de Bandim e Enterramento, ensinando-as a usar ferramentas digitais, como câmaras digitais e gravadores de áudio, com o intuito de documentar imagens e sons das suas comunidades e consequentemente gerar discussões sobre os problemas que são ali enfrentados. De acordo com a proposta submetida pela AMIC, estes bairros sofrem de “falta de acesso água potável, um sistema de saneamento débil, infra-estrutura educacional medíocre, e poucos lugares seguros para as crianças brincarem”. As discussões que se pretende gerar concentrar-se-ão na procura de um papel activo para os moradores dessas comunidades,  mostrando dessa forma que eles também têm papel nas soluções para a melhoria da situação.

Crianças e animadores da AMIC no bairro de Enterramento [8]

Crianças e animadores da AMIC no bairro de Enterramento

O coordenador do projecto, Ector Diogenes Cassamá, falou sobre as suas expectativas para o projecto e da sua importância para os residentes de Bissau.

O projecto terá certamente de enfrentar alguns desafios, já que a Guiné-Bissau tem  uma taxa de penetração de internet muito baixa, nos 2.4% [9]. Aqueles que têm acesso à internet têm de lidar com velocidades de ligação lentas, e frequentemente a preços elevados. Equanto isso, o que já existe é um grupo entusiasta e cheio de vontade, de jovens ansiosos por mostrar ao mundo que apesar de poderem haver circunstâncias difíceis que o país enfrenta, há grupos de jovens preserverantes que desejam apresentar actividades positivas nos bairros de Bissau. Será através do uso de mídia cidadã que estes jovens líderes pretendem mostrar e documentar esses esforços.

Nos próximos artigos, mostraremos ambos os bairros de Bandim e Enterramento, e as diferentes actividades que tomam lugar em Bissau.