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Kuwait: Vire seu Avatar de Cabeça para Baixo em Apoio à Causa dos Bidun!

Categorias: Oriente Médio e Norte da África, Kuwait, Ativismo Digital, Direitos Humanos, Esforços Humanitários, Mídia Cidadã

Você sabe o que significa ser Bidun no Kuwait? Significa não existir. Como Bidun, você não tem acesso à educação pública ou à assistência médica, e nem qualquer chance de emprego no setor governamental, recebe nenhum certificado de casamento, divórcio, nascimento ou morte e nem documentos de identificação civil, carteira de motorista, passaporte e, definitivamente, nenhum direito à cidadania.

Muitas dessas pessoas já estão no país há três gerações. Alguns são filhos e filhas de mártires – pessoas mortas durante a invasão iraquiana do Kuwait – mas, mesmo assim, não são kuwaitianos e nem possuem documentos.

No último mês de Fevereiro [1] [en], depois de um longo período de silêncio, os Bidun do Kuwait decidiram sair às ruas para protestar. Embora sejam aproximadamente 100 mil no país, somente mil tiveram a coragem de ir adiante e enfrentar a brutalidade policial e, depois disto, o desrespeito e os comentários discriminatórios da sociedade e da mídia tradicional.

The flipped avatar of Ahmad AlKhulaifi, the man who started the #EQLB hash tag in support of Bidun rights [2]

O avatar de ponta-cabeça de Ahmad AlKhulaifi, o homem que deu início à hashtag #EQLB, em apoio aos direitos dos Bidun

Infelizmente, não eram muitos os Bidun que já tinham usado da mídia social; eles são mais ativos nos websites, fóruns, e apenas uns poucos têm blogs, mas este não é mais o caso, principalmente depois da popularidade que a Primavera de Revoluções Árabes trouxe para o Facebook e o Twitter.

Vire seu avatar de ponta-cabeça!

Os Bidun são agora ativos tanto no Facebook quanto no Twitter e, além de tuitar, eles propuseram a ideia simples de “virar seu avatar de cabeça para baixo para lembrar as pessoas de seus direitos”. Está tudo expresso na hashtag #EQLB [3], que significa “virar”.

Ahmed Al-Khulaifi (@A7md_Alkhulaifi [2]) é o usuário do Twitter que propôs esta ideia ao dar início à hashtag. Ele escreveu:

دعوه للفلورز من اجل الانسانية المشاركة بحملة اقلب علي التويتر بقلب الصوره من اليوم لثلاثة ايام البدون من سئ الى اسوأ #النصرة

@A7md_Alkhulaifi [4]: Um convite aos seguidores para que participem da campanha no Twitter para deixar de cabeça para baixo seu avatar por três dias. A situação dos Bidun está ficando cada vez pior #Solidariedade

Saadiah Mufarreh (@saadiahmufarreh [5]), uma poetisa e jornalista, é uma das celebridades Bidun do Kuwait que tem sido ativa no Twitter. Ela demonstrou seu apoio à ideia, virou seu avatar de cabeça para baixo e tuitou o seguinte:

لاأؤمن كثيرا بمثل هذه الحملات،لكني سأقلب صورتي..فقط حتى لايموت الأمل في قلوب الشباب البدون. فما أضيق العيش لولا فسحة الأمل. تفاءلوا

@saadiahmufarreh [6]: Não acredito muito nessas campanhas, mas porei meu avatar de cabeça para baixo para que a esperança não morra nos corações dos jovens Bidun. Como é difícil viver sem esperança. Seja otimista.

Uma jovem saudita, de nome Fouz Abdullah (@FouzAbd [7]), usuária do Twitter e ativa na campanha em favor de que mulheres possam conduzir carros, também tuitou em favor da hashtag #EQLB. Levantou um ponto importante ao dizer que Bidun também existem em seu país, a Arábia Saudita:

@FouzAbd [8]: I flipped my avatar to show support to those who don't have nationalities in Kuwait and Saudi

@FouzAbd [8]: Virei meu avatar de cabeça para baixo para mostrar apoio àqueles que não possuem nacionalidades no Kuwait e na Arábia Saudita

O estudante de Direito kuwaitiano Ahmad AlHammadi (@el7ammadi [9]) também mostrou apoio a esta hashtag ao dizer:

دعما لاخواني البدون ابناء وطني المظلومين و المحرومين من الحياة الانسانية الكريمة ساقلب صورتي

@el7ammadi [10]: Em apoio a meus irmãos Bidun, os filhos de meu país, os oprimidos e roubados do direito de viver com dignidade, irei virar meu avatar de cabeça para baixo

Um outro tweep de nome Dhari Mefreh (@dharimefreh [11]) redigiu sua própria interpretação dessa hashtag:

الحياة مقلوبة والصورة معتدلة نقلب الصورة ربما تعتدل الحياة

@dharimefreh [12] A vida é virada, mas não a imagem. Vamos virar a imagem para que talvez a vida se assente direito!

Khalid Al-Rishidi (@bowaledan [13]) tuitou notícia de um protesto planejado para esta próxima sexta-feira [30/06/2011] organizado pelos Bidum do Kuwait, e ele dá seu apoio ao dizer:

سمعت ان يوم الجمعه القادم..جمعه سلميه للبدون في ساحة الاراده..اتمنى ذالك فعلا.. فهم اولى من الاخوان السوريين

@bowaledan [14]: Ouvi dizer que nesta próxima sexta-feira haverá um protesto pacífico pelos Bidun na praça Irada. Espero que sim, pois eles têm prioridade sobre nossos irmãos sírios.

Outro usuário kuwaitiano do Twitter, de nome Bo Khalid (@iBoKhaliD [15]), criticou a maneira como os membros do Parlamento kuwaitiano lidam com a causa dos Bidun:

نوابنا عبرو القارات اعمالا لواجبهم في نصرة اخواننا في سوريا ،، الا انهم لم يكلفوا أنفسهم عناء الانتقال للجهراء نصرة لاخواننا البدون

@iBoKhaliD [16]: Nossos parlamentares atravessam continentes para desempenhar tarefas de apoio aos nossos irmãos sírios, mas não fizeram o esforço de ir à área de Jahra para dar apoio aos nossos irmãos Bidun.

Outro usuário, chamado Abu Youssef (@abuyoussef_h [17]), introduziu pontos de indagação quanto à situação dos Bidun no Kuwait com as seguintes palavras:

أستغرب! دولة تعاني من كون مواطنيها أقليه داخل أراضيها بأي منطق ترفض تجنيس أجيال كامله ولدت وتربت في أراضيها وهم لايعرفون غيرها وطن

@abuyoussef_h [18]: Realmente procuro entender o porquê de um país permitir que uma minoria de seu povo sofra em sua própria casa; qual é lógica de recusar naturalização a gerações que nasceram e se criaram neste país e não conhecem qualquer outro lugar.

Aziz Fahad (@azfafa [19]) tenta descrever como é viver como um Bidun no Kuwait:

الوقت في حياة البدون لا يتعدى كونه ليل ونهار أو صيف وشتاء أو عمر انقضى وعمر سينقضي جعلونا كالشجر اليابس في الصحراء جسد لا حياة فيه

@azfafa: [20] O tempo na vida de um Bidun não significa nada mais do que o dia e a noite, ou o verão e o inverno, ou mesmo uma vida que passou ou irá passar. Fizeram-nos sentir como árvores mortas nos desertos, corpos sem vida.

Jamal AlEnezi (@Jenezi [21]), outro kuwaitiano que mostra apoio para com os Bidun e seu esforço para obter seus direitos humanos básicos, escreve:

مع حق البدون الإنساني في التعليم، الزواج، العمل، العلاج وغيرها من حقوق مدنية تكفلها جميع الديانات والأعراف والمواثيق الدولية

@Jenezi [22]: Sou a favor de direitos humanos para os Bidun quanto à educação, casamento, trabalho, medicação e outros direitos civis garantidos por todas as religiões, tradições e leis internacionais.

Por outro lado, alguns outros usuários do Twitter não se mostraram a favor desta hashtag, como esta garota kuwaitiana chamada Danah Al-Rishidi (@do0ony88 [23]), que escreveu:

طلعوووووووا جناسيكم وفكوناااااا مأكو أحد بدون بسكم طمع بالديره

@do0ony88 [24]: Mostrem suas cidadanias ocultas e parem de nos incomodar, ninguém é despatriado, deixem de ser gananciosos.

Outro tweep de nome Saud Al-Amer (@BO3AZ0Z [25]) escreveu contra a causa Bidun também, dizendo:

والله لو مو تقلبون ! لو تكوكسون ماكو فايده.. فعلا في بدون مظلومين لكن الاكثريه نصابين ومزورين

@BO3AZ0Z: [26] Vire de cabeça para baixo ou role – é inútil. É verdade que há alguns Bidun que não são contemplados por justiça, mas a maioria é de mentirosos e falsários.