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Brasil: “Vadias” Marchando País Afora em Imagens

Categorias: América Latina, Brasil, Fotografia, Liberdade de Expressão, Mulheres e Gênero, Protesto

Duzentas mulheres e homens marcharam pelas ruas de Recife no último sábado, 11 de junho, para dar um basta à exploração do corpo feminino como objeto e à culpabilização da mulher por ser violentada sexualmente. Munidas de cartazes, faixas e palavras de ordem, elas sacudiram a capital pernambucana e fizeram a sociedade pensar um pouco sobre a opressão de gênero. A iniciativa foi inspirada na Marcha das Vadias de São Paulo, realizada no dia 4 de junho, e segue o mote “Slut Walk” iniciado em abril no Canadá, após um representante da polícia ter declarado que as mulheres deveriam evitar se vestir como vadias para não serem vítimas de estupro.

As declarações causaram revolta e geraram um grande movimento organizado na internet, que começou no início de abril com o protesto de Toronto e já aconteceu até agora em mais de 20 cidades norte-americanas e australianas. Dia 4 de junho aconteceu também em Los Angeles, Chicago, Edmonton, Estocolmo, Amsterdã, Edimburgo e a primeira do Brasil em São Paulo. Neste artigo partilhamos alguns dos melhores momentos [1] em imagens do Brasil.

Recifenses na sua "Slut Walk". Foto de Adalberto Rodrigues (@Rodriigues_jr) no Twitpic [2]

Recifenses na sua "Slut Walk". Foto de Adalberto Rodrigues (@Rodriigues_jr) no Twitpic

O Facebook serviu como base para a convocação das marchas. No evento paulista apesar de 6.000 pessoas terem confirmado presença pela rede social, participaram cerca de 300. Sobre a Marcha de Recife, Jesus Toic, um dos criadores do evento no Facebook [3], escreveu [4]:

A Marcha das Vadias Recife reuniu cerca de 400 pessoas interessadas em expressar sua indignação contra o histórico controle machista sobre o corpo das mulheres. Frases que culpabilizam as mulheres, e não os estupradores, advinda de um imaginário doentio, foram rechaçadas com inteligência lúdica.

Manifestantes a segurar cartazes. Pelo menos 200 pessoas participaram na Slut Walk São Paulo, inspirada por um protesto no Canadá em Abril de mulheres que lutam contra a violência e pelo direito a usarem o tipo de roupas que querem. Foto de Andre M. Chang, copyright Demotix (4/6/2011) [5]

Manifestantes a segurar cartazes. Pelo menos 200 pessoas participaram na Slut Walk São Paulo, inspirada por um protesto no Canadá em Abril de mulheres que lutam contra a violência e pelo direito a usarem o tipo de roupas que querem. Foto de Andre M. Chang, copyright Demotix (4/6/2011)

Lola Aronovich [6], uma das blogueiras feministas mais importantes do país, comentou o protesto:

(…) a sexualidade de uma mulher é dela, não é pública, não é do homem ou da sociedade, e que deve ser respeitada. Respeitada de todas as formas, desde não ser julgada (sim, queremos a mesma liberdade sexual a que os homens têm direito) a não ser invadida, seja através de estupros, seja através de “passar a mão” (que, assim como as grosserias verbais na rua, funcionam como uma espécie de terrorismo sexual).

Os comentários do comediante Rafinha Bastos foram lembrados pelas manifestantes, que finalizaram a Marcha em frente a seu Clube de Comédia e colaram faixas de protesto nas portas. Rafinha, apresentador do programa CQC, polemizou em uma entrevista à Rolling Stone [7] ao afirmar que mulher feia deveria agradecer ao ser estuprada.

Obrigada por nos deixarem à mercê da crueldade -  Slut Walk São Paulo. Foto de Leandro Pena no Flickr (CC BY-NC-SA 2.0) [8]

Obrigada por nos deixarem à mercê da crueldade – Slut Walk São Paulo. Foto de Leandro Pena no Flickr (CC BY-NC-SA 2.0)

Outro apresentador do CQC também foi lembrado. O ator e jornalista Marcelo Tas foi vaiado por processar a própria Lola Aronovich [9] por ela ter publicado um texto em que critica a reportagem feita pelo programa [10] sobre o #mamaço em São Paulo. Tas e os colegas satirizaram a atitude das mães em amamentar em público dizendo que elas deveriam cobrir os seios. As mulheres protestavam porque uma mãe havia sido impedida de amamentar em uma agência bancária.

A Marcha Continua

Chega de sermos culpadas pela violencia que sofremos! Estarei na marcha das vadias.Vamos todas! #marchadasvadias [11]

Apelava [12] no dia 11 de junho a deputada federal pelo PT, Erika Kokay (@ErikaKokay), no Twitter, onde as hashtags #MarchaDasVadias [13] e #MarchaDasVagabundas [14] se propagavam.

Marcha das Vadias, Sao Paulo. Foto de Marcel Maia no Flickr (CC BY-NC-SA 2.0) [15]

Marcha das Vadias, Sao Paulo. Foto de Marcel Maia no Flickr (CC BY-NC-SA 2.0)

A próxima Marcha das Vadias marcada para acontecer no Brasil é na própria capital Federal. Brasília recebe as feministas no próximo sábado [16], às  a partir das 12h, na praça em frente ao Conjunto Nacional. O objetivo é percorrer a Rodoviária, a Torre de TV e seguir até o Parque da Cidade, e encontrar a Marcha Nacional pela Liberdade.

Os motivos das brasilienses são os mesmos das outras mulheres mundo a fora: respeito. A blogueira Lia Padilha escreveu [17] sobre o assunto:

Nós brasileiras nos deparamos cotidianamente com o controle da sexualidade feminina. A concepção conservadora-religiosa é repressora e dita que a mulher deve esconder o corpo ante a sociedade e se resguardar para o marido. Por outro lado, a voracidade do capitalismo tem interesse pelo corpo feminino descoberto, e nesse caso expõe, banaliza, explora e agride a sexualidade feminina.

Outra cidade que ainda vai realizar a Marcha das Vadias é Belo Horizonte, também no dia 18 de junho.