Desde 15 de Maio de 2011 que em Espanha as pessoas saíram às ruas [en], para exigirem democracia na antevisão das próximas eleições, com milhares a acamparem em diferentes cidades. A 18 de Maio, ao mesmo tempo que os protestos eram manchete na imprensa internacional [en], a Junta Eleitoral de Madrid proibiu o movimento 15-M [15 de Maio], mas os organizadores desafiaram-nos ao concentrarem-se na praça Puerta del Sol pelo terceiro dia, apesar da chuva.
Segundo a Junta Eleitoral de Madrid não existem “razões sérias nem especiais” [es] por trás da convocatória urgente para as manifestações em massa. Estas declarações mostram o fosso que existe entre o discurso oficial e as exigências dos cidadãos, e expandiram a oposição contra os dois principais partidos políticos. Os protestos têm-se espalhado pelo país e pela internet, com centenas de milhares a manifestarem-se em diferentes cidades – como Málaga, Granada e Tenerife – e a partilharem actualizações e apoiando-se uns aos outros através das redes sociais, especialmente pelo Twitter:
#acampadasol Mojándose por la democracia y por unos derechos y unos deberes más justos. Mucho Ánimo desde #acampadasegovia #nonosvamos
Foram também organizados eventos de solidariedade, principalmente através do Facebook e Twitter, à frente de embaixadas de Espanha em diferentes cidades como Londres e Jerusalém.
@Anon_Leakspin: At 19:00 a camp at Spanish embassy at London (UK) will start. #spanishrevolution #europeanrevolution #yeswecamp #acampadasol
Os cidadãos organizaram-se eficientemente em comités que se dedicam a questões legais, de comunicação, limpeza, comida, saúde e até música. Foi levada tanta comida para os acampamentos que os organizadores tiveram de encontrar uma forma de a armazenar. E dezenas continuam ainda a voluntariar-se para traduzirem as decisões do comité para inglês, francês, árabe e linguagem gestual.
Com o rápido aparecimento, mudança e substituição de hashtags no Twitter, torna-se difícil tanto para a mídia como para os partidos políticos acompanharem: #democraciarealya, #spanishrevolution, #acampadasol, #nonosvamos, #yeswecamp, #notenemosmiedo, #juntaelectoralfacts, #esunaopcion, #tomalaplaza, #pijamabloc, coexistem com as tags dos acampamentos locais, uma para cada cidade: #acampadavalencia, #acampadalgño, #acampadabcn…
@LaKylaB: Cuántos decían que no era posible un cambio? Cuántos creían que siempre viviríamos así?Cuántos? . Esto es solo el comienzo. #acampadabcn
Dezenas de tags transformaram este protesto, ironicamente, num movimento que é difícil de conter. Sem líderes visíveis e um sistema de comunicação descentralizado, as mobilizações em Espanha estão a tornar-se em mais um movimento global que as estruturas tradicionais têm dificuldade de interpretar.
A utilização das redes sociais não se limita à organização e partilha de actualizações, mas também passa pela adopção efectiva de ferramentas digitais colaborativas. Os objectivos e exigências em jogo podem ser lidos no website Democracia Real Já. Também há uma wiki onde os utilizadores incluem informação e materiais, documentos online com conselhos legais sobre o direito à associação e reunião, e uma petição urgente que exige um fim à proibição do acampamento. Um blog post publicado no mesmo dia por diversos activistas do movimento #nolesvotes (não votes neles) é mais um exemplo das várias iniciativas que resultam do trabalho colaborativo online: “#nolesvotes: pelo voto responsável”:
Colaboración distribuida: Te invitamos a copiar este texto y construir páginas de enlaces que referencien todos los sitios que dan apoyo a la iniciativa. De igual modo, invitamos a los demás colectivos que comparten nuestra propuesta a que lleven a cabo acciones similares. La fuerza de la red reside en la distribución y colaboración entre sus nodos.
Alguns meios de comunicação e líderes políticos acusaram o movimento de uma falta de estrutura definida. Mas os cidadãos, jovens e não tão jovens, estão a organizar-se de formas diferentes e inovadoras. Têm ocupado espaços públicos, tanto nas ruas como na internet, e estão a tirar partido de ferramentas digitais para organizarem, partilharem e construírem as suas próprias histórias. Um “grito silencioso” [es] está planeado para o 20 de Maio à meia noite, e aparenta ser uma metáfora bastante forte para este fosso de comunicação.