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Rising Voices anuncia novos projetos a serem financiados

Categorias: África Subsaariana, América Latina, Europa Ocidental, Brasil, Grécia, Guiné-Bissau, Mali, Ativismo Digital, Mídia Cidadã, Tecnologia, Rising Voices

Rising Voices tem o prazer de anunciar os cinco mais novos membros de sua comunidade global de mídia cidadã [1], ganhadores de patrocínio para seus projetos. Cada projeto selecionado será contemplado com uma pequena verba para colocar em prática o ensino de como diversas ferramentas de mídia cidadã podem ser usadas.

Nesta última rodada da competição [2] tivemos uma quantidade substancial de concorrentes de todas as partes do mundo. No total, o Rising Voices recebeu mais de 750 projetos de mais de 90 países, e foi uma decisão muito difícil limitar a seleção a somente cinco escolhidos. Houve vários projetos merecedores, com grandes ideias focadas nas necessidades específicas de comunidades locais, os quais infelizmente não pudemos financiar. Os cinco projetos selecionados são diversos entre si e representam quatro continentes diferentes. Cada um tem uma proposta original no seu próprio contexto e achamos que eles irão acrescentar muito para a nossa comunidade. Os cinco escolhidos são:

Bandim e Enterramento (Guiné-Bissau)

Em Guiné-Bissau [3], país localizado no oeste da África, a organização Associação Amigos das Crianças (AMIC) construiu uma relação forte com os jovens nos bairros de Bandim e Enterramento, localizados na periferia da capital, Bissau [4]. De acordo com a AMIC, os residentes destas comunidades enfrentam desafios tais como falta de água potável, sistema de saneamento deficiente, infraestrutura educacional carente e poucos lugares seguros onde as crianças possam brincar.

No entanto, nestes mesmos bairros, há também um forte espírito de criatividade e expressão artística, graças ao trabalho da AMIC em colaboração com o grupo cultural local “Netos de Bandim.” Juntos, eles têm oferecido atividades culturais alternativas tais como arte, dança e oficinas de teatro como forma de ocupar os jovens que vivem nesses dois bairros. Sob a liderança de Ector Diogenes Cassamá, um artista e ativista local, a AMIC terá também a opção digital de contar história junto às outras atividades culturais disponíveis aos jovens da vizinhança.

[5]

O projeto busca ensinar aos jovens desses dois bairros o uso da fotografia e de vídeo digitais como forma de registrar a vida na comunidade. Embora os dois bairros de Bandim e Enterramento não fiquem um do lado do outro, o projeto permitirá aos jovens dos diferentes bairros a interagirem e aprenderem com os jovens da outra parte de Bissau. Ao pesquisar sobre a comunidade e entrevistar os demais residentes, eles poderão desenvolver uma compreensão mais aprofundada da história do bairro. Eles também estarão em contato com os desafios presentes na sua comunidade e poderão se preparar para assumir um papel na construção de seu próprio futuro.

Amigos de Januária (Brasil)

A pequena cidade de Januária [6] localizada na região norte do estado brasileiro de Minas Gerais tem uma história recente de dificuldades com o governo local. No espaço de seis anos, a cidade teve sete prefeitos. Vários deles foram removidos do cargo por causa de atos ilegais [7], incluindo muitas vezes má gestão do dinheiro público. Porque esta pequena cidade, com uma população de 65.000 habitantes, fica longe de muitos centros urbanos no Brasil, o governo local recebe pouca ou nenhuma cobertura da imprensa, a qual muitas vezes está muito longe para investigar a responsabilidade dos funcionários públicos locais perante seus eleitores.

Desde 2004, uma organização local chamada Associação dos Amigos de Januária (Asajan) [8] tem conscientizado os moradores da cidade sobre as questões que envolvem o governo local. Através do trabalho de jornalismo investigativo e campanhas de conscientização pública, a Asajan tem conquistado transparência e responsabilidade para o governo local de Januária. Muito deste trabalho foi possível graças a um dos fundadores da Asajan, Fábio Oliva [9], que é blogueiro e tem escrito sobre assuntos tais como participação civil. Em 2008, as jornalistas multimídia brasileiras Amanda Rossi [10] e Jamila Venturini filmaram um documentário [11] sobre o trabalho da Asajan e sobre as necessidades contínuas da comunidade local, com foco no trabalho que a organização tem feito em responsabilizar funcionários públicos por seus atos.

A Asajan agora busca incluir uma maior participação local no seu trabalho de acompanhamento do governo municipal e do seu orçamento, bem como o aprendizado sobre formas de acessar informação pública sobre sua cidade. O projeto será liderado por Rossi e Venturini, em estreita colaboração com Oliva, Asajan, e outros, o que irá envolver moradores da cidade, com especial atenção aos jovens, que terão aulas de como usar as ferramentas de mídia cidadã para uma maior participação cívica. Os participantes usarão blogs, vídeo digital e fotografia como forma de documentar os problemas que afetam a cidade e para monitorar a resposta do governo local à essas necessidades.

Chennai Transparente (Índia)

Chennai Transparente [12] (Transparent Chennai, em inglês) é uma organização local, que vem agregando, coletando e exibindo dados que são do interesse público sobre a cidade indiana de Chennai [13].

O acesso a estas informações ajuda aos moradores a melhor entender as necessidades da cidade, assim como ao governo local a melhor responder à essas necessidades. Grande parte dos dados está disponível através de mapas interativos com várias camadas de informação sobre a cidade: social, política, jurídica e ambiental. Funcionários e voluntários da Chennai Transparente já fizeram grande parte da coleta de dados existente, apesar de haver um convite aberto para o público em geral a apresentar informações próprias ao banco de dados.

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Para este projeto-piloto, Chennai Transparente irá adicionar novos elementos ao seu trabalho existente, focando de forma específica no envolvimento de duas outras vilas (kuppams) de pescadores, no sul de Chennai. Os moradores de Usur e Olcott participarão de forma ativa em oficinas, onde irão aprender como contribuir para o mapa, marcando os limites da sua aldeia, os padrões de uso da terra, e especialmente como diferentes meios de subsistência são usados pela comunidade em espaços fora de suas casas. Irão também identificar recursos locais, assim como a água, locais de importância histórica ou rituais e falhas na infra-estrutura local ou nos serviços do governo. Os jovens das aldeias também terão participação ativa, usando câmeras digitais para fotografar a vida em Kuppam, e postando fotos como uma forma de criar uma outra camada de imagens georreferenciadas no mapa.

O projeto irá envolver estas duas vilas que foram engolidas pela expansão das fronteiras da cidade de Chennai. Apesar das leis em vigor para proteger a costa do desenvolvimento desenfreado e para preservar os direitos das comunidades de pescadores tradicionais à sua terra, tanto Urur e Kuppam Olcott correm atualmente risco de serem despejadas para abrirem caminho para uma via expressa elevada que o governo está planejando construir ao longo da cidade costeira. Os líderes do projeto têm discutido o projeto proposto com líderes dos pescadores locais (panchayats) ou conselhos administrativos e ambos concordam que é importante trazer outras vozes e outras percepções sobre a cidade para a conversa local e global, de modo que essas vozes também possam ser valorizadas e preservadas como parte essencial da Chennai moderna.

Blind Dates “Encontro às cegas”(Grécia)

A escola para cegos Salônica [15], na Grécia, recentemente enfrentou a incerteza do fechamento devido a restrições orçamentárias. Mesmo que um acordo com as autoridades nacionais tenha sido finalmente fechado, garantindo o funcionamento contínuo da escola, muitos alunos sentiram-se frustrados com o fato de que suas vozes não foram ouvidas durante o debate que afetou diretamente suas vidas. Vários voluntários da escola abordaram os alunos sobre a possibilidade de usarem a mídia cidadã para expressar suas opiniões sobre o estado da escola, assim como outros problemas enfrentados pela comunidade de cegos do norte da Grécia.

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Como a tecnologia para os usuários cegos de computadores continua avançando, o uso dessas ferramentas de mídia cidadã torna-se mais e mais fácil para os deficientes visuais. Por exemplo, através de leitores de tela [17], um software que permite traduzir arquivos de texto em áudio possibilitando ouvir em voz alta as palavras que se escreve ou digita, o usuário pode enviar e-mails, navegar na web, bem como manter blogs pessoais. Gravações de voz para podcasts são outra forma de expressão de pensamentos e idéias online disponíveis para deficientes visuais.

O projeto “Blind Dates” será conduzido por Alexia Kalaitzi, que é voluntária na escola, em estreita colaboração com o estudante Stefanos Tokatlidis. Tokatlidis bloga [18] [el] há pouco mais de um ano, e está ansioso para ensinar aos seus colegas como criar e gerenciar seus próprios blogs utilizando algumas das tecnologias disponíveis para alunos cegos. Além de ensinar aos estudantes como blogar, o projeto receberá o apoio técnico da ONG local Sociedades Unidas dos Bálcãs [19] para transmitir os podcasts em uma estação de rádio online. O conteúdo gerado pelos alunos cobrirá uma ampla gama de assuntos, incluindo notícias sobre a escola, questões relativas à acessibilidade e políticas públicas relacionadas à comunidade de cegos do norte da Grécia.

Ségou Villages Connection (Mali)

Muitas comunidades rurais do Mali são separadas por grandes distâncias dos centros urbanos, incluindo a capital Bamako [20]. Em muitos casos, a infra-estrutura precária, as estradas ruins e a eletricidade limitada podem fazer as distâncias parecem ainda maiores. O surgimento de ferramentas de comunicação como telefones celulares a preços acessíveis, no entanto, pode ajudar a fortalecer os laços entre os moradores de vilas rurais e cidades maiores. Esse assunto é especialmente importante, pois muitos malianos deixam suas comunidades em busca de melhores oportunidades educacionais e econômicas em Bamako.

[21]Blogueiro prolífico do Mali, Boukary Konaté é originário da região de Ségou [22], que está localizada ao longo do rio Níger. Mesmo vivendo e trabalhando em Bamako, ele ainda mantém fortes elos de ligação com a sua comunidade natal. Ele tem atuado como uma líderança local, inovando no uso de ferramentas de mídia cidadã para manter os residentes na região de Ségou informados sobre as novidades que ocorrem na capital e em todo o mundo. Por exemplo, ele divulgou ao vivo, em atualizações do Twitter, notícias e placares dos jogos da Copa do Mundo de 2010 realizados na África do Sul. Essas mensagens, escritas em francês e na língua nativa Bambara [23], forneceram notícias valiosas para os torcedores de Ségou que não tinham aparelhos de televisão.

O projeto de Konaté visa dar continuidade a este fluxo de comunicação com os moradores das aldeias de Ségou, mas o projeto vai contar com um componente educacional extra, onde os moradores vão aprender a enviar suas próprias notícias e informações para Bamako. Através de workshops práticos que acontecerão em várias aldeias, Konaté vai ensinar aos residentes como usar seus celulares para enviar notícias sobre as comunidades para os moradores que vivem na capital. Eles também vão receber feedback e comentários dos leitores, sendo que todas as informações serão coletadas em um portal da comunidade, disponível em francês e bambara. Esta comunicação de duas vias fortalecerá os laços entre os residentes nas aldeias e aqueles que agora vivem na capital.

Junte-se a nós parabenizando e saudando os novos projetos do Rising Voices. Estamos animados para ver como os trabalhos se desenrolarão e esperamos que você também esteja!

Elisa Thiago [24] e Paula Góes [25] ajudaram na tradução desse post.