EUA: Blogs de Ciência Explicam Fukushima

Este artigo é parte da nossa cobertura especial do Terremoto no Japão em 2011.

O horror do terremoto e consequente tsunami de sexta-feira, 11 de março, próximos à costa leste de Honshu, no Japão, rapidamente abriu espaço para o pânico generalizado à medida em que explosões abalaram a usina nuclear de Fukushima. Contudo uma comunidade da blogosfera parece responder mais moderadamente aos eventos se desenrolando em Fukushima: blogs de ciência.

Barry Brooks, do bravenewclimate (ou, “Admirável Novo Clima”) republicou um longo artigo [en] escrito por Josef Oehmen, um pesquisador do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT), e originalmente publicado por Jason Morgan [en]. Brooks e Morgan são apoiadores da energia nuclear e acreditam que a cobertura do “vazamento parcial” da usina nuclear pela mídia esteja exagerada e cheia de erros. Oehmen compartilha seus pensamentos baseado apenas no que ele têm lido na mídia, mas imediatamente tenta acalmar as pessoas:

There was and will *not* be any significant release of radioactivity.

By “significant” I mean a level of radiation of more than what you would receive on – say – a long distance flight, or drinking a glass of beer that comes from certain areas with high levels of natural background radiation.

Não houve e não haverá liberação significativa de radioatividade.

Por “signifivativa” quero dizer um nível de radiação maior do que aquele que você receberia num vôo de longa distância – por exemplo -, ou bebendo um copo de cerveja que vem de certas áreas com altos níveis naturais de radiação de fundo.

Já foram feitas comparações entre Fukushima e Chernobyl, apesar de blogueiros de ciência terem pedido cautela. Imagem por Osakabe Yasuo, copyright Demotix (04/06/2009).

Já foram feitas comparações entre Fukushima e Chernobyl, apesar de blogueiros de ciência terem pedido cautela. Imagem por Osakabe Yasuo, copyright Demotix (04/06/2009).

Sério, mas exagerado

Ecoando a preocupação do Dr. Oehmen de que a situação em Fukushima seja séria, mas ainda exagerada, David Ropeik escreve um post no Scientific American Guest Blog [en] (Blog de Convidados da revista Scientific American). Ele nota que a situação na usina nuclear de Fukushima tem sido comparada, pela mídia, não só a Chernobyl (na Ucrânia), mas também às explosões nucleares de Hiroshima e Nagasaki, no Japão, durante a Segunda Guerra Mundial:

We know from studying the survivors of those bombings, who were bathed in horrific doses of high level radiation – far worse than anything that could come from the Daiichi plant (or that came out of Chernobyl) – that ionizing radiation from nuclear energy is a carcinogen, but a relatively weak one.

Estudando os sobreviventes desses bombardeios, que foram banhados por doses horríveis de altos níveis de radiação – muito piores que qualquer coisa que pudesse vir da usina Daiichi (ou que tenha vindo de Chernobyl) -, nós podemos saber que a radiação ionizada da energia nuclear é um fator cancerígeno, mas um fator relativamente fraco.

Ropeik lists nuclear power interests among his clients, and disclosed this fact in the post.

Também no Scientific American Guest Blog, Rita King dá uma visão valiosa [en] do que é um vazamento nuclear realmente é, e explica algumas das diferenças entre este incidente e Chernobyl. Ela também chama atenção para as visões dos apoiadores da energia nuclear e de seus críticos, visões frequentemente intratáveis:

Opinions around nuclear energy tend to be binary, with industry proponents acting as if nothing could possibly go wrong while critics, terrified of nuclear apocalypse, remain convinced that old nuclear plants are time bombs.

As opiniões sobre a energia nuclear tendem a ser binárias, com proponentes da indústria agindo como se nada pudesse dar errado, enquanto críticos, aterrorizados por um apocalípse nuclear, permanecem convencidos de que usinas nucleares antigas são bombas-relógio.

Sharon Astyk do blog Causabon's Book [en], do site ScienceBlogs.com, percebeu esses comportamentos e sugeriu que esse incidente deveria ter sido previsto e que planos de contigência devem ter um papel maior em nossas decisões:

I keep thinking about the word “inconceivable” in relationship to the terrible events in Japan – the earthquake, now upgraded to a 9, the subsequent tsunami and the nuclear events. As Nicole Foss's work has made clear, the Fukushima nuclear disaster is not a black swan – it follows on the heels of long warnings about the danger of building plants in such seismically sensitive places, and also after safety concerns within the plant itself. We know that the plant was not designed to handle such a major earthquake.

Não paro de pensar na palavra “inconcebível” em relação aos terríveis eventos no Japão – o terremoto, agora elevado para uma magnitude de 9, o subsequente tsunami e os eventos nucleares. Como o trabalho de Nicole Foss deixou claro, o desastre nuclear de Fukushima não é excepcional – ele se encaixa no padrão dos largos avisos do perigo de se construir usinas em áreas tão sensíveis sismicamente, e mesmo depois de preocupações com a segurança da própria usina. Nós sabemos que a usina não fora projetada para suportar um terremoto tão grande.

Nuances na conversa

Blogs de ciência continuam a manter uma conversa cheia de nuances sobre os méritos da energia nuclear. Liderando a discussão Mike, “the Mad Biologist” (ou, “o Biólogo Louco”), do Scienceblogs.com's e James Hrynyshyn. Os dois blogueiros fogem da hipérbole na atual cobertura da mídia e tentam comparar os benefícios da energia nuclear a outras medidas que as sociedades poderiam tomar para elevar a oferta de energia e diminuir a demanda.

Mike, o Biólogo Louco, [en] sugere que a indústria nuclear caminhe para desenvolver uma forma alternativa de energia nuclear que use tório ao invés de urânio – enquanto o tório cria diversos desafios científicos, ele gera menos resíduos nucleares e é mais abundante. Ele também aponta que as pessoas nos Estados Unidos precisam fazer mudanças radicais no jeito com que vivem suas vidas para possibilitar a conservação de energia em larga escala:

One of the best ways to reduce the amount of stuff we have to light on fire is to move from single detached housing in areas with no efficient mass transit to apartments with access to mass transit (keep in mind that residential use and transporation account for about two-thirds of total energy consumption). In other words, we have to massively ‘desuburbanize’ and simultaneously ‘reurbanize.’

Um dos melhores jeitos de reduzir a quantidade de coisas em que temos que atear fogo é mudarmos de áreas residenciais com casas separadas e sem transporte de massa eficiente para apartamentos com acesso a transporte de massa (tenha em mente que o uso residencial e o transporte são responsáveis por dois terços do consumo de energia total). Ou seja, nós temos que nos ‘desurbanizar’ massivamente e simultaneamente ‘reurbanizar’.

Como este cenário parece pouquíssimo provável, Mike, o Biólogo Louco, chama a energia nuclear de “segunda melhor opção”.
Since this scenario seems highly unlikely, Mike the Mad Biologist calls nuclear power “a second best option.”

Hrynyshyn [en] sugere que seria mais apropriado comparar a energia nuclear a outras opções “alternativas de energia:

I'd rather we compared nuclear's risk and benefits against those of clean renewables. What's the worst-case scenario for a thermal solar power plant? Even a wind farm engineer's most terrifying nightmare seems like a powder compared with nuclear technology.

Eu preferia que comparássemos o risco nuclear e os benefícios aos benefícios e risco de renováveis limpos. Qual é o pior cenário para uma usina térmica solar? Até mesmo o pesadelo mais aterrorizante de um engenheiro de usinas eólicas parece poeira se comparado à energia nuclear.

Este artigo é parte da nossa cobertura especial do Terremoto no Japão em 2011.

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