Esse post é parte da nossa cobertura especial sobre o Terremoto no Japão em 2011.
Após o terremoto de 9,0 graus de magnitude que atingiu o Japão em 11 de março, o Twitter tem visto uma onda de orações e de informação. #prayforjapan [#orepelojapão] e #Fukushima tornaram-se os tópicos mais discutidos na rede social, e várias hashtags [en] oficiais foram criadas para compartilhar melhor atualizações regionais ou por assunto.
Por outro lado, numerosos rumores têm circulado no Twitter e por correntes de e-mail. Alguns se espalham como fogo, fazendo com que curiosidade e intenções maliciosas se unam com uma forte dose de ansiedade, cansaço e simples inexperiência.
O prolífico blogueiro, editor and crítico Chiki Ogiue (荻上チキ) publicou uma ampla lista destes boatos online sobre o terremoto (東北地方太平洋沖地震、ネット上でのデマまとめ [ja]), enquanto dá conselhos sobre como melhorar o instinto de farejar mentiras, e sobre o que todos podem fazer para não aumentar a confusão. Ogiue é o autor de vários livros sobre a cultura da internet.
Abaixo está uma tradução extraída do seu blog no dia 13 de março, 13:00 JST, publicado com a permissão [ja] do autor. Todos os links levam a fontes japonesas, salvo indicação contrária.
1. Respire profundamente
2. Verifique a linha do tempo de quem deu RT na mensagem e confirme se não foram publicadas atualizações ou correções
3. Pergunte a si mesmo se a informação precisa que “você mesmo” a espalhe
4. Use a função de RT oficial a não ser que adicione uma informação nova. Sempre inclua um link para a fonte
5. Corrija quaisquer erros, usando a função de RT oficial o quanto for possível
Eu entendo a necessidade urgente de ajudar. Pense dessa forma, no entanto – não faz sentido algum que alguém sem experiência alguma em resgates corra para uma área afetada e acabe virando outra vítima. Funciona da mesma forma com informação, pois só piora a situação quando contribuimos com uma inundação de informações impertinentes ou espalhamos mentiras.
A menos que seja um socorrista profissional, é improvável que a ajuda necessária tenha que vir apenas de você. Quem está fora das áreas afetadas pode contribuir de maneira importante tendo um “dia normal”. Haverá muitas oportunidades para ações que todos podem e devem fazer.
É imperativo que consigamos informações prováveis de declarações feitas por instituições públicas como companhias de telefone e eletricidade, e especialistas falando sobre assuntos de sua área.
Uma mensagem típica no Twitter:
“[Por favor, espalhem] De um amigo da Província de Chiba. A previsão do tempo diz que choverá segunda-feira. Pessoas que moram ao redor de Chiba, tenham cuidado. A explosão na refinaria da Cosmo Oil elevou substâncias tóxicas às nuvens que se transformarão em chuva tóxica. Então, quando sair, leve seu guarda-chuva ou capa-de-chuva e se assegure de que a chuva não toque seu corpo!”
A Cosmo Oil publicou um anúncio oficial desmentindo a informação.
Sala de Imprensa do Departamento de Comunicação Corporativa da Cosmo Oil Ltda:
Hoje um e-mail com o título “Informação para prevenção de um desastre secundário da Cosmo Oil” foi distribuído ao público. O e-mail afirma que “Por causa da explosão da refinaria de petróleo, substâncias tóxicas se dissolveram nas nuvens e vão cair com a chuva.” Não há qualquer base para essa afirmação. O tanque que explodiu continha gás GLP, e é muito improvável que qualquer gás gerado pela queima cause danos a seres humanos.
Nos desculpamos profundamente aos residentes próximos da fábrica e a todos os involvidos por causar inconveniências e ansiedade.”
A conta no Twitter do departamento de RP da cidade de Urayasu, na Província de Chiba, também publicou nota confirmando o anúncio da Cosmo Oil.
Por favor, note que esse rumor não é relacionado à questão da contaminação radioativa.
“Estrangeiros podem cometer crimes” é um rumor que sempre aparece durante uma crise. Já aconteceu no Japão repetidas vezes, e é muito comum no exterior também. Por exemplo, lembre-se das notícias preconceituosas contra negros durante o furacão Katrina nos Estados Unidos.
Reuni aqui algumas mensagens no Twitter sobre “Pessoas jorrando preconceito no meio da confusão do terremoto”.
Avisos que exigem segurança e frases que provocam terror e carregam a possibilidade de criar bodes expiatórios específicos são duas coisas diferentes. Não deixe que a história se repita. Eu sei que é um período difícil, mas criar um inimigo fácil de se reconhecer pode trazer falsas acusações e violência gratuita.
Há também a tendência de falar mal dos políticos. Estamos todos insatisfeitos, mas vamos discutir “o que um representante deveria fazer agora” ao invés de afirmar “é por isso que fulano e cicrano não prestam”. Determinar os responsáveis pode vir mais tarde.
Fora de questão.
Junto com a atenção do mundo inteiro vieram muitos rumores infundados de mortes de japoneses famosos.
Alguns exemplos:
“O criador de Pokemon morreu hoje no #tsunami, #Japão. Descanse em paz: Satoshi Tajiri. #orepelojapão.”
“O criador da Hello Kitty, Yuko Yamaguchi, morreu hoje no Japão. #orepelojapão”
Esse tipo de mensagem no Twitter quase nunca tem link para a fonte. Não há notícias publicadas no Japão, e novamente não há informações sobre suas origens. A reprodução de informações incorretas como resultado de bondade do usuário não é limitada ao Japão. Para evitar o aumento do número de pessoas no exterior tendo acesso a informações incorretas é importante ter ajuda de alguém fluente em inglês.
Como visto neste artigo:
Há um copie-cole [e-mail] circulando que fala de um apelo da Força de Autodefesa (Self-Defense Force – SDF), entre outros, pedindo ajuda para doar suprimentos. Está escrito no e-mail que “amigos na SDF…”, mas não há possibilidade de indivíduos sendo responsáveis por isso.
Não há confirmação disso nos sites das agências de notícias ou da SDF. Segue um artigo descrevendo como o blogueiro k_ma_calon desmentiu isso.
Além de tudo, o anúncio abaixo foi publicado no site da Província de Fukushima:
Suprimentos doados por indivíduos
Com o objetivo de evitar confusões, requisitamos que evitem [doações de suprimentos].
No dia 13 de março às 22:00hs, eu telefonei para o Ministério da Defesa. Eles confirmaram que o e-mail copie-cole circulando na internet é falso, que a SDF não está aceitando [suprimentos]. Eles disseram que províncias locais podem coordenar recolhimento de suprimentos, mas que elas estão num momento confuso. Eles enfatizaram que é preciso ter cuidado com correntes de e-mail, e pediram para pessoas que recebem essas correntes avisarem quem enviou de que é um boato. Quando falei da cobertura aqui, eles disseram: “Obrigado. Por favor, nos ajude a evitar que esse boato se espalhe mais.”
Me pergunto se já receberam muitas ligações. Só consegui falar de maneira breve com eles e já sabiam sobre a situação das correntes de e-mail. Disseram que se estivessem mesmo pedindo ajuda, haveria um anúncio apropriado na mídia, da parte do governo e de agências administrativas. Não é necessário se apressar e fazer qualquer coisa enquanto isso não acontecer. Se quer muito fazer alguma coisa, procure grupos honestos que estão coletando doações, e doe para eles.
Correntes com informações de contas bancárias específicas para doações estão sendo enviadas. Doações em si são boas mas, por favor, primeiro verifique sites de organizações oficiais ou reconhecidas. Agir baseando-se em um recurso como correntes de e-mail é muito arriscado.
Seguem alguns outros exemplos de boatos. A tradução completa foi omitida para que seja breve.
- SOS informações de campo
- Turquia vai doar 10 bilhões de yens
- Não beba água da Província de Saitama
- Mulheres devem ter cuidado com um criminoso se passando por funcionário da Companhia Elétrica de Tokyo
Fazer piada de que “pessoas que foram enganadas não sabem lidar com informação” não ajuda. O que precisamos fazer é reduzir o número de pessoas sendo enganadas. Brincar com “experimentos de distrbuição de boatos” é o pior do pior.
Durante um desastre como esse, a falta de informação, emoções instáveis e altos níveis de interesse criam uma situação em que é fácil pessoas acreditarem e redistribuírem informações falsas. Que algumas pessoas vão ser enganadas é inevitável. Minimizar o dano é o mais importante. Acusar os distribuidores de boatos pode aumentar o pânico e a descrença. Vamos tentar lidar com a informação com calma.
Para evitar redistribuir rumores sem base, não reaja imediatamente à frase “parece que” e tente achar o anúncio oficial de instituições públicas. Mesmo assim, pode não haver outra fonte que não seja o boca-a-boca se você está numa área sem acesso à informação. Eu repito, não tire sarro dos pobres em informação. O desafio aqui é compartilhar informações basedas em fatos.
Note que não existe uma pessoa ‘rica em informação’ que nunca é enganada. Se você é realmente ‘rico em informação’, deveria pensar em ajudar os ‘pobres’ primeiro. Lembre-se que você também pode ser enganado.
Ogiue está atualizando constantemente seu artigo, assim como escrevendo no Twitter em @torakare.
Esse post é parte da nossa cobertura especial sobre o Terremoto no Japão em 2011.