Cabo-verdianos foram às urnas para votar em candidatos a deputado no dia 6 de Fevereiro e garantiram ao líder do PAICV (Partido Africano para a Independência de Cabo Verde), José Maria Neves, seu terceiro mandato de cinco anos como Primeiro-ministro. Aqui segue um rescaldo de como blogueiros perceberam o evento e como vislumbram o desenvolvimento de seu país.
Polos da Arena Política
Desde 1991, quando Cabo Verde adotou o sistema multipartidário, o PAICV e o MpD (Movimento para a Democracia) têm sido os dois partidos políticos mais influentes. Cada um governou o país por um período consecutivo de dez anos. Carlos Veiga, membro do MpD, foi o principal candidato de oposição ao Primeiro-ministro José Maria Neves.
Virgilio Brandão, no blog Terra-Longe, compartilha sua análise dos resultados, que deram ao PAICV uma maioria absoluta de deputados para as cadeiras da Assembleia Nacional. Ele considera que a maneira com que os candidatos lidaram com o resultado revela um país que está maduro, apesar de todos os seus problemas, inclusive aqueles do próprio processo político. As eleições teriam se mostrado um acontecimento legítimo:
O discurso de José Maria Neves foi de quem soube ganhar, e o de Carlos Veiga de quem soube perder. Em contraponto da campanha eleitoral, as declarações destes dois líderes […], ao se conhecerem os resultados oficiosos, qualificaram o processo eleitoral.
Para o blogueiro Rony Moreira, do Geração 20 J. 73, a polarização política “em torno das décadas do MpD e os outros dez anos do PAICV” na campanha foi, todavia, uma “discussão caquéctica”.
Desafios ao Crescimento e ao Desenvolvimento
Rony Moreira joga um olhar sobre o país como um todo e argumenta sobre os motivos para ter sido um acontecimento tão importante:
A tarefa de governar Cabo Verde é tão grata, que muitos ainda não perceberam que o mais essencial e complexo neste processo de governação passa pela implementação dum equilíbrio frágil: como deve um país pobre, redistribuir a riqueza (produzida e doada) de forma a equilibrar a coesão social e ao mesmo tempo criar mecanismos económicos (como a infra-estruturação) que o capacita para a competição e desenvolvimento futuro.
Ainda como candidato, José Maria Neves prometeu criar o salário mínimo e combater o desemprego (estimativas diferentes apontam para 13,1% a 20,9% da população), mas, uma vez eleito, adiou essas medidas para 2012. O blogueiro Edy, do Blogue di Nhu Naxu, considera que foi sensato:
E já agora, este apertar de cinto não tem nada de surpreendente e nada de anormal: é que é mesmo necessário baixar o défice das finanças públicas.O país está a viver acima das suas possibilidades.
Em outro post, Rony Moreira também não esteve muito preocupado com a taxa de desemprego, e ressalta que Cabo Verde está a progredir, tanto com seus fatores positivos, quanto os negativos:
[…] a ausência de recursos matérias valiosos; estruturas de mercado deficitário (na dimensão, no tecido empresarial; alto grau de dependência de investimento e de factores externos); taxa de crescimento de habitantes residentes (nativos e estrangeiros) e subsequente aumento da população activa; continuação de aposta na formação e qualificação dos quadros jovens […]
Em outro post, Edy acredita que a situação econômica de Cabo Verde é compreensível uma vez que se considere a recente conjuntura econômica global:
[…] nem sempre é possível atingir o nível de crescimento económico desejável porque um governo não consegue controlar ou prever a evolução da economia internacional, do qual estamos dependentes, para o bem e para o mal […]
João Branco, no blog Café Margoso, escreveu um post com suas considerações pessoas. Ele pondera que Cabo Verde “não caminha “para o precipício”, não está perto do “descalabro total” ” como a oposição teria alegado, mas também não seria o “país de cor-de-rosa” que o partido no governo queria pintar.
O blogueiro Rony Moreira prevê desafios para o Primeiro-ministro reeleito, já que soluções para as crescentes taxas de desemprego e outras questões nacionais terão de ser encontradas:
Ganha a eleição, há quem pense que esta será a mais fácil das legislaturas de Neves, e eu prevejo que seja a mais difícil e trabalhosa que o PAICV terá pela frente. Porque em 2016 alguns dos desafios terão de ser vencidos, caso da energia, educação, a redução para um dígito do desemprego e a habitação.
Democracia em Progresso
Apesar das preferências políticas conflitantes, os cabo-verdianos expresseram na blogosfera a sua satisfação com o processo eleitoral. João Branco foi um desses blogueiros, dizendo-se orgulhoso dos 20 anos de democracia em Cabo Verde:
Vinte anos. Não é nada, numa perspectiva histórica. No entanto, o país que somos hoje mostra o quanto se avançou no domínio de uma plena democratização do arquipélago e da sua sociedade. Comparem o ontem e o hoje e vejam as diferenças abismais, o que já se conquistou.
Em cerca de alguns meses, os cabo-verdianos vão por seu país em escrutínio uma vez mais, por ocasião das Eleições Presidenciais de 2011. Enquanto as figuras políticas repensam suas estratégias para o pleito, os cidadãos terão outra chance de praticar democracia e de dar prosseguimento ao país que desejam ser por meio do voto.