Palestina: Raiva frente aos Papéis Palestinos

A divulgação feita pela Al JAzeera dos Papéis Palestinos [en], centenas de documentos [en] relacionados às negociações Israelo-Palestinas, provocou fortes reações por toda a blogosfera palestina. Neste post vamos ouvir blogueiros da Cisjordânia e da Faixa de Gaza que expressaram suas opiniões, tanto sobre os papéis quanto sobre o papel da Al Jazeera em liberá-los.

Em Gaza, Seeran Nofal ataca o canal de notícias em um post intitulado “Stop It, Al Jazeera” [Pare com isso, Al Jazeera, ar]. Ela faz alusão à alegada inclinação islâmica [en] e apoio ao Hamas por parte do canal (de língua árabe), dizendo:

حقيقة ما بثّتهُ قناة الجزيرة أمس من وثائق ولّد عندي نوبات من الضحك المُتتالية ، نوبات مصحوبة بنوع من القهر و “المغص” في المعدة ، مع تَقلُّبات في الفكر “المُخيخي” عندي ، هذه القناة يَبدو أنها “فاضية أشغال” ، أو يبدو أنها ترغب في صنع زوبعة إعلامية تَضعها في منزلة أهم القنوات الإخبارية ، لتبين للشعب الفلسطيني ولغيره أنها قناة مُساندة له،مع أنها قناة تُساند “الإمارة الغزّاوية” ، والكل يعلم من أقصد بهذه الإمارة

أعتقد بأن الوقت ليس مُناسباً لبث مثل هذه الوثائق حتى لو كانت تتمتع بالمصداقية ، فنحن نعاني من “فسخ” بين أكبر فصيلين ، تأتي هذه القناة لتعزز الإنقسام بنشرها لهذه الوثائق؟ أعتقد أن الجزيرة لعبت وما تزال دوراً في ترسيخ الإنقسام بين الفلسطينين

Na verdade, os documentos que foram levados ao ar ontem pela Al Jazeera provocaram ataques de riso em mim, acompanhada por uma espécie de tristeza, e cólicas no estômago, e flutuações na minha mente. Este canal parece que não tem nada melhor para fazer, ou quer criar uma tempestade de mídia que iria colocá-lo no topo do ranking de canais de notícias, a fim de mostrar ao povo palestino e a outros que é um canal que os apóia – mesmo ainda que apóie a “emirado de Gaza”(e todo mundo sabe que eu quero dizer com este “emirado”).
Eu acho que o momento não é apropriado para a divulgação de documentos como estes, mesmo que tenham credibilidade, porque estamos sofrendo com um racha entre os dois maiores partidos, e o canal está aumentando essa divisão ao publicar esses documentos. Eu acho que a Al Jazeera atuou, e ainda está atuando, no papel de dividir os palestinos.

Mahmoud Abbas. Foto cortesia de Olivier Pacteau sob licença Creative Commons Attribution 2.0 Generic license.

No entanto, , Mohammed Abu Allan mostra a foto de uma grande placa em uma rua de Ramallah, na qual está escrito “Al Jazeera não é árabe, Al Jazeera é sionista”, e comenta [ar]:

من حق من يريد الرد على الجزيرة وتفنيد كل ما عرضت وستعرض، فهي ليست من الملائكة….
ولكن هذا الاتهام غير مقبول…… ليس من خلال شاشة الجزيرة خرج صوت وصورة الرئيس الراحل الشهيد أبو عمار ليقول للعالم يريدونني أسيراً أو قتيلاً أو طريداً ولكن أقول لهم شهيداً شهيداً شهيداً.
Toda pessoa tem o direito de responder a Al Jazeera e refutar cada documento que ela mostrou ou irá  mostrar, a Al Jazeera não é, certamente, nenhum anjo… Mas esta acusação é inadmissível … Não é a tela da Al Jazeera o lugar de onde a voz e a imagem do falecido presidente Abu Ammar [Yasser Arafat] surgiu para dizer ao mundo: “Eles querem que eu seja preso, ou morto, ou exilado, mas eu digo a eles, eu prefiro ser um mártir, mártir mártir!”

Seguimos para reações quanto ao conteúdo dos documentos, e ouvimos Amal, em Gaza [en]:

Surprisingly, what these papers expose is relatively not shocking, for we all simply knew something wrong was happening. We just chose not to believe, or I would rather say convinced ourselves we were wrong. […] What the “Palestine papers” expose in brief is, ‘Hundreds of people died for nothing, hundreds of lands were simply given away, and negotiations were held for us to give not to take back what once was ours.’ So in a briefer brief, we have been living a web of lies. […] Anyway, I have come to a conclusion that, watching these exposés is like watching a lousy play that you wish the curtains to fall any time soon, but at the same time you don’t want to leave because you don’t want to miss the ending.

Surpreendentemente, o que esses papéis expõem é relativamente não chocante, porque todos nós simplesmente sabíamos que algo errado estava acontecendo. Nós apenas escolhemos não acreditar, ou melhor dizendo, que nos convencemos de que estávamos errados. […] O que os “Papéis Palestinos” expõem brevemente é que “Centenas de pessoas morreram por nada, centenas de terras foram simplesmente doadas, e as negociações foram realizadas para nós darmos, não para termos de volta o que antes era nosso.” Assim, em um resumo mais resumido, temos vivido uma teia de mentiras. […] De qualquer forma, cheguei à conclusão de que vendo essas revelações é como assistir a uma peça ruim em que você deseja que as cortinas baixem logo, mas ao mesmo tempo você não quer sair porque não quer perder o final.

Laila El-Haddad, que é de Gaza, mas vive nos Estados Unidos, falou com amigos e família em Gaza sobre os papéis [en]:

More than anything, the details in the Palestine papers show just how out of touch with this reality the negotiators were, and how they chose to ignore this reality. It is this revelation – or reminder – that has most angered and distressed many Palestinians. […] In a bitter irony, and a stark reminder of the conditions many Palestinians in Gaza continue to live under, some cousins and friends there were not yet even aware of the revelations when I spoke with them, because they had no electricity.

Mais do que tudo, os detalhes nos Papéis Palestinos mostram o quão fora de sintonia com esta realidade os negociadores estavam, e como eles preferiram ignorar esta realidade. É esta revelação – ou lembrete – que mais tem irritado e angustiado muitos palestinos. […] Numa amarga ironia, e uma forte lembrança das condições em que muitos palestinos em Gaza continuam a viver, alguns primos e amigos de lá ainda não estavam nem mesmo cientes das revelações quando falei com eles, porque eles não tinham eletricidade.

Outro blogueiro de Gaza, Mohammed Rabah Suliman, não tem paciência para Saeb Erekat, o negociador-chefe Palestino [en]:

The disparity between a state and a country is sadly indistinct to Erekat who has been overwhelmingly trying to create it for the past 18 years but failed. All I’ve got to tell him, being a Palestinian living in the besieged Gaza Strip, “I’d rather be stateless all my life than give up one meter of my country.”

A disparidade entre um Estado e um país é tristemente indistinta para Erekat, que tem irresistivelmente tentado criá-lo nos últimos 18 anos, mas não conseguiu. Tudo que eu tenho para lhe dizer, sendo um palestino que vive na Faixa de Gaza sitiada, é “eu prefiro ser apátrida toda a minha vida do que desistir de um metro do meu país.”

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