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México: Morre o bispo Samuel Ruiz, militante pelos direitos indígenas

Categorias: América Latina, México, Direitos Humanos, Educação, Esforços Humanitários, Etnia e Raça, Governança, Indígenas, Mídia Cidadã, Religião

O bispo Samuel Ruiz Garcia [1] [es] morreu na Cidade do México no último 24 de janeiro; ele era conhecido por seu trabalho entre os pobres e os povos indígenas Maias [2] no México. InfoChiapas [3][es] noticiou:

La mañana de este lunes falleció en un hospital de la capital del país, el obispo emérito de San Cristóbal de Las Casas, Samuel Ruiz García, a causa de complicaciones provocadas por la hipertensión y diabetes que sufría desde hace 10 años.

Na manhã desta segunda-feira faleceu em um hospital da capital deste país o bispo emérito de San Cristóbal de Las Casas, Samuel Ruiz García, por causa de complicações provocadas pela hipertensão e diabetes, dos quais sofria há mais de dez anos.
[4]

Foi realizada uma cerimônia no dia 24 de janeiro para o bispo Samuel Ruiz na Cidade do Méico. Seu corpo foi então levado a San Cristóbal de las Casas, Chiapas. Imagem por Jesús Villaseca P. usada sob uma licença CC BY-NC-SA 2.0

Blogueiros mexicanos reagiram rapidamente às notícias sobre seu falecimento. Blogs de outros países também mencionaram como Samuel Ruiz foi importante para o seu país; Opinionated Catholic postou o seguinte [5] [en]:

A very important and indeed controversial Mexican Bishop has passed on. That is Bishop Samuel Ruiz who was Bishop of the “Mayans”.

Um bispo mexicano muito importante e também controverso faleceu. É o bispo Samuel Ruiz, que era o bispo dos “Maias”.

Samuel Ruiz trabalhou principalmente no sul do México, no estado de Chiapas [6], onde o Exército Zapatista de Libertação Nacional [7] (em espanhol, “Ejército Zapatista de Liberación Nacional” ou EZLN) declarou “uma guerra contra o Estado mexicano” em 1994. O movimento tem grande apoio dos povos indígenas do estado, já que sua luta é consoante com a história de marginalização de povos indígenas. [8] Samuel Ruiz García defendeu e apoiou ativamente os direitos dos povos indígena de Chiapas; Ángeles Mariscal explica o papel do bispo nesse conflito [9] [es] no blog Animal Político:

En 1988 fundó el Centro de Derechos Humanos “Fray Bartolomé de Las Casas”, instancia que hasta la fecha es uno de los organismo humanitarios más importantes de Chiapas, a través del cual los diversos sectores sociales denuncian las violaciones a sus derechos humanos.

Cuando estalla el movimiento armado de 1994, los gobiernos federal y estatal desplegaron una campaña contra el obispo Samuel Ruiz y su Diócesis, acusándolos de ser los causantes del conflicto y de resguardar armamento en las instalaciones de la catedral.

Sin embargo, ese 1 de enero de 1994, en un pronunciamiento público para fijar su postura respecto al alzamiento, los tres obispos de Chiapas, entre ellos Samuel Ruiz, cuestionan el uso de la violencia, pero refieren las palabras de Juan Pablo II, cuando señaló que la pobreza “es amenaza constante para la estabilidad social, el desarrollo de los pueblos y la paz”.

Em 1988 ele fundou o Centro de Direitos Humanos “Frei Bartolomé de Las Casas”, instância que até os dias de hoje é um dos organismos humanitários mais importantes de Chiapas, através do qual os diversos setores sociais denunciam as violações a seus direitos humanos.

Quando explode o movimento armado de 1994, os governos federal e estatal iniciaram uma campanha contra o bispo Samuel Ruiz e sua diocese, acusando-os de serem os causadores do conflito e de esconderem armas nas instalações da catedral.

No entanto, nesse 1 de janeiro de 1994, em um pronunciamento público para marcar sua postura a respeito do levantamento, os três bispos de Chiapas, entre eles Samuel Ruiz, questionaram o uso da violência, mas citam palavras de João Paulo II, quando assinalou que a pobreza “é ameaça constante para a estabilidade social, o desenvolvimento dos povos e a paz”.

Mariscal continua seu post explicando [9] [es] que Samuel Ruiz foi frequentemente confrontado pela população conservadora de Chiapas, donos de terras, fazendeiros e autoridades do governo mexicano.

El 3 de noviembre 1999, al cumplir 75 años de edad, de acuerdo a los cánones de la iglesia católica, Samuel Ruiz firma su renuncia como obispo de la Diócesis de San Cristóbal.

Em 3 de novembro de 1999, ao completar 75 anos de idade, de acordo com os cânones da igreja católica, Samuel Ruiz assina sua renúncia como bispo da Diocese de San Cristóbal.

Mariscal explica [9] [es] que depois de deixar Chiapas, Samuel Ruiz mudou-se para outras partes do país, continuando seu trabalho com a Igreja Católica, mas sempre voltava para Chiapas de tempos em tempos:

Samuel Ruiz continuó llegando esporádicamente a Chiapas, invitado en algunas celebraciones, como sus 50 años de ordenación episcopal (enero 2010), o para presidir las reuniones del consejo del Centro de Derechos Humanos Fray Bartolomé de las Casas.

En todo momento reivindicó la causa indígena y la aportación que tuvo el alzamiento armado de 1994. En una de sus últimas entrevistas dijo: “A pesar de no haberse resuelto el conflicto en sus causas, el esfuerzo por construir la paz con justicia y dignidad, en el que los actores han sido múltiples y diversos, es un patrimonio común de toda la nación y ha aportado nuevos avances y logros y nueva conciencia”.

Samuel Ruiz continuou indo esporaticamente a Chiapas, convidado em algumas celebrações, como seus 50 anos de ordenação episcopal (janeiro de 2010), ou para presidir as reuniões do Conselho do Centro de Direitos Humanos Frei Bartolomé de las Casas.

Sempre reivindicou a causa indígena e a repercussão que teve o levantamento armado de 1994. Em uma de suas últimas entrevistas, disse: “Apesar do conflito não ter sido resolvido em suas causas, o esforço para construir a paz com justiça e dignidade, no qual todos os atores foram múltiplos e diversos, é um patrimônio comum a toda a nação e chegou a novos avanços e conquistas e a uma nova consciência”.

Depois de saber sobre a morte de Samuel Ruiz, a organização indígena Las Abejas (As Abelhas) publicou uma carta dizendo adeus ao bispo no blog Las Abejas de Acteal [10] [es]:

Nuestro Formador, te han llamado a descansar, porque ya hiciste lo que tenías qué hacer. Jtotik Samuel, aquí quedamos todavía tus hijos, tus hijas. Nosotros seguiremos caminando, nosotras vamos a seguir luchando por nuestros derechos, por la paz y la justicia. Claro, si no nos hubieras enseñado, si no hubieras vivido con nosotros y nosotras, no sabríamos defendernos. Si no hubieras venido aquí a Chiapas, seguiríamos viviendo como esclavos, ciegos y subordinados por el mal gobierno.

Gracias Jtotik Samuel, que nuestro Papá-Mamá Dios te regaló 86 años de vida. Dios te dio un alma y corazón grande. Nunca te dio miedo luchar contra los poderosos. Nunca le tuviste miedo a las armas. Los obstáculos que te pusieron los poderosos, pudiste todo superar.

Te vas al lugar donde Dios Papá-Mamá te llamó; pero tu espíritu, todo el trabajo que nos enseñaste y compartiste aquí se quedan en nuestras comunidades y en nuestro pensamiento y corazón.

Nosso Formador, te chamaram para descansar, porque você já fez o que tinha que fazer. Jtotik Samuel, nós ficamos aqui ainda, seus filhos, suas filhas. Nós continuaremos caminhando, nós vamos seguir lutando pelos nossos direitos, pela paz e a justiça. Claro, se você não tivesse nos ensinado, se não tivesse vivido conosco, não saberíamos nos defender. Se você não tivesse vindo aqui para Chiapas, continuaríamos vivendo como escravos, cegos e subordinados pelo mau governo.

Obrigado Jtotik Samuel, que o nosso Papai-Mamãe Deus te presenteou com 86 anos de vida. Deus te deu uma alma e um coração grandes. Lutar contra os poderosos nunca te deu medo. Você nunca teve medo das armas. Os obstáculos que os poderosos colocaram à sua frente, você superou a todos eles.

Você está indo ao lugar onde Deus Papai-Mamãe te chamou; mas o seu espírito, todo o trabalho que você nos ensinou e que você compartilhou continuam aqui nas nossas comunidades e no nosso pensamento e coração.

Em Vivir México [11] [es], Pepe Flores conclui seu post sobre a morte de Samuel Ruiz declarando:

A pesar de pronunciarse en contra de medidas como el matrimonio homosexual, sobrevive su legado como defensor de los derechos de los pueblos indígenas de México y de América Latina. Samuel Ruiz es, sin duda, un personaje crucial para entender dos décadas de tensas relaciones entre los gobiernos federales y las comunidades indígenas del sur del país.

Apesar de dizer-se contra medidas como o casamento homossexual, sobrevive seu legado como defensor dos direitos dos povos indígenas do México e da América Latina. Samuel Ruiz é, sem dúvida, um personagem crucial para entender duas décadas de tensas relações entre os governos federais e as comunidades indígenas do sul do país.