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Brasil: Feminazis e Reação da Blogosfera

Categorias: América Latina, Brasil, Liberdade de Expressão, Mulheres e Gênero

[1]

"Feminazi", foto da usuária do Flickr Chloe Dietz. Usada sob CC 2.0

Estourou, no Twitter e na blogosfera, uma polêmica em torno do uso do termo “Feminazi” para designar feministas radicais e interessadas em “exterminar homens”. A discussão toda teve início depois da prisão de Julian Assange, líder do WikiLeaks, por supostamente ter abusado sexualmente de duas mulheres na Suécia [2], mas o que era uma discussão em caixas de comentários virou um primeiro post, e acabou em revolta.

Barbara O. do blog Paisagem Estripada fala [3]sobre o começo da crise:

Anteontem, coincidência ou não, irrompeu entre mim e o André (apenas assim) uma longa discussão sobre o termo ‘feminazi’ no blog do Nassif. Durante a minha ausência umas tantas mulheres e alguns homens vieram ao meu socorro, outros tantos se posicionaram a favor do André, e portanto deste malfadado termo. O que pode ser conferido aqui [4].

André, no blog do Luís Nassif, tenta explicar [4] o que seria, em sua visão, uma “feminazi”:

Minha cara, meu medo em relação às feminazis (sempre lembrando que este é apenas e tão somente um termo que ganhou popularidade por sua eficiência em resumir feministas radicais) é justamente pelo fato de elas me verem como um inimigo a ser exterminado, sendo que nada fiz a elas para merecer isso (ainda que elas me achem um estuprador e todo aquele blablablá que conhecemos). Não somente eu, mas qualquer homem é visto por elas como algo a ser exterminado e que só não o fazem porque não lhes foi dado poder substancial para irem adiante em seus propósitos.

Cynthia Semíramis, em seu blog, rebate [5]:

Em suma: feminazi é um termo que denota ignorância ou má-fé de quem o profere, pois vai contra tudo o que se sabe sobre nazismo e sobre feminismo. Feminazi é um termo que só é utilizado por conservadores para tentar desqualificar quem luta pela implementação dos direitos das mulheres.

Sobre o Feminismo, Senhorita Bia, do blog Groselha News, comenta [6]:

O feminismo é um movimento que encontra-se muitas vezes isolado [7], sem o apoio de grupos de direita e esquerda,  não pelo “radicalismo” de suas participantes, mas justamente pelo preconceito [8], pelas idéias deturpadas, pela falta de visão quando se fala de representatividade para mulheres, pela falta de educação e de um conhecimento maior do que seja feminismo. É fato que mesmo na internet as feministas parecem falar para elas mesmas e por mais que perteçam a grupos de blogueir@s suas reivindicações não ganham peso, pois a maioria não faz questão de que exista representatividade, acham que há questões mais importantes [9] a serem tratadas.

Uma das mulheres que acusa Assange, Anna Ardin, é citada por diversos meios como feminista e todo o caso é envolto em dúvidas [10].

[11]

"Olhando o mundo com os olhos das mulheres". Foto da usuária do Flicker Gabby DC. USada sob CC 2.0

Lola Aronovich, no blog Escreva Lola Escrevacomentou [12] sobre o caso:

Mas ele foi preso por abuso sexual, e a história toda está muito mal contada [13], até por que boa parte dela vem sendo contada em sueco. Mas o que se sabe? Que Julian esteve na Suécia em agosto e que, já naquela época (em que ele estava começando a ser vilanizado), duas moças o acusaram de abuso. Uma promotora analisou o caso, constatou que a acusação não era de estupro, e dispensou o caso. Agora que os EUA estão doidinhos pra colocar as mãos em Julian, é altamente suspeito que as denúncias voltem à tona.

E completa, em outro pos [14]t, criticando a atitude do dono do blog, Luis Nassif, ao ter permitido a publicação de ofensas contra as feministas:

Não sei como o Nassif foi publicar o post de um rapaz que defende o uso do termo feminazi (aliás, tenho uma vaga ideia de que sei, sim. Todos eles quando falam de feminismo derrapam feio, não sabem do que estão falando, e obviamente não demonstram nenhuma vontade de aprender.

E Barbara O vai ainda além:

Nunca é demais pedir que prevaleça o bom senso. Parece haver um círculo de homens (e algumas mulheres também) que está à espreita para bradar “feminazi” ao menor deslize que uma mulher cometa em nome do feminismo.

[…] Digo mais: se é fato que a moça trabalha para a CIA, e que não houve entre ela e Assange nada além de intercurso consentido, então me parece engenhoso por na boca dela que ela seria “feminista” (ou escolher alguém com este perfil para cooptar).

Também no Twitter, as reações foram várias, e o tópico rapidamente passou a “trending”. Muitos criticaram a liberação do comentário e a reação do dono do blog, Luis Nassif, que “transformou comentário machista de leitor num post [sem] colocar o posicionamento dele, dono do blog”, não se retratando, diz Lola Aronovich (@lolaescreva [15]) que tentou resumir o caso através do Twitter.

Dias depois, Luis Nassif postou [16], em seu blog, o que deveria ser uma desculpa. Nassif afirmou que sofre patrulhamento e que, no seu blog, publica aquilo que considera mais interessante  e/ou polêmico:

O problema é que, devido às corridas da semana, não tive oportunidade de ler os comentários. Tivesse lido e captado o potencial ofensivo do termo, certamente publicaria um comentário se contrapondo ao seu uso.

Três dias depois, pelo Twitter, em vez de um alerta civilizado sobre o post, passei a sofrer patrulhamento de algumas feministas

Uma hashtag #FeministaSimFeminaziNao [17] foi criada para debater o tema.

A professora e pesquisadora sobre direitos das mulheres Cynthia Semíramis analisa o caso [18]colocando suas críticas ao posicionamento de Luis Nassif, que ela considera “machista”, e deixando algumas reflexões finais sobre o papel do blogueiro em relação aos conteúdos que publica, e cuja responsabilidade devia ser “não publicar boatos, informações falsas e muito menos uma expressão mentirosa, manipuladora e ofensiva como feminazi”. [19]